A história por trás do milésimo gol de Pelé
Para o Brasil e seu "Rei", esta data não poderia ser melhor para tal façanha. Neste dia celebra-se a bandeira nacional, instituída em 1889. Pelé, por sua vez, comemora o aniversário de sua mãe.
Que melhor presente para oferecer do que este "Gol Mil"? Orgulho para os brasileiros de ter o melhor jogador e certamente goleador de todos os tempos; para dona Maria Celeste Arantes ver seu filho prodígio entrar para a História.
O destino, às vezes, dá um jeitinho e impediu o número 10 do Santos de alcançar seu objetivo três dias antes em Salvador. No final da partida contra o Bahia, Pelé viu seu chute bater no travessão e seu companheiro de equipe Jair Bala dominar a bola para marcar.
Aos maiores artistas, os palcos mais bonitos: sem ofender o estádio Fonte Nova, foi o lendário Maracanã, contra o Vasco da Gama, o cenário do milésimo gol de Pelé.
Cenas surreais
As câmeras em preto e branco funcionam sem problemas, prontas para imortalizar o evento, na presença de 80 mil pessoas. E não seria a chuva que iria estragar a festa.
Faltou pouco para o "Rei" marcar logo no primeiro tempo. Foi o goleiro argentino Edgardo Andrada, acusado anos depois de assassinatos em nome da junta militar de seu país (1976-1983), que desviou a bola para fora. Depois foi a vez do travessão, novamente, que repeliu sua outra tentativa.
"Você não vai marcar hoje", lançaram a Pelé seus adversários. Um deles, Renê, foi autor de um gol contra.
O final do jogo se aproximava quando, aos 33 do segundo tempo, Pelé sofreu uma falta na área. Mais tarde, escreveria em sua autobiografia que "o pênalti é uma maneira covarde de marcar". Nunca a sua execução foi tão difícil de garantir. Porque ao seu redor, a efervescência é latente e o "Rei" não tem o direito de perder.
Por alguns minutos, ocorrem várias cenas surreais. Os adversários falam com o batedor, apenas para atrasar a cobrança. Por sua vez, Pelé, com a mão no ombro, consola o autor da falta. Finalmente, um último jogador do Vasco, com a bola na mão, pisa freneticamente o local da cobrança, como se fosse para criar um buraco ou lançar uma mandinga.
N° 1000 nas costas
Finalmente, o árbitro coloca a bola na marca da cal e Pelé, silencioso, com as mãos nos quadris, finalmente inicia sua corrida. Depois de uma "paradinha", bate de pé direito e engana Andrada, que havia lido seu chute. "Gooool!!!"
Enquanto ele corre para pegar a bola no fundo da rede para beijá-la, dezenas de fotógrafos, jornalistas e torcedores já estão invadindo o gramado para celebrar o herói, que acaba sendo levantado pela multidão, com a bola ainda nas mãos, enquanto um enxame de microfones tenta captar suas primeiras palavras.
O momento não é solene apenas para os companheiros de Pelé, todos alinhados no meio de campo, que assistem sem se mover a efusão da alegria coletiva, até Pelé se livrar da massa e saltar nos braços de cada um.
Mais uma vez carregado em triunfo pelo seu goleiro, Pelé finalmente lança algumas palavras para a imprensa, dedicando seu gol "às crianças pobres do Brasil".
Ele recebe então uma camisa, com o número 1000 nas costas. Veste-a antes de iniciar uma volta de 20 minutos sob os incessantes gritos do Maracanã.
Depois disso, era preciso terminar a partida! Mas os últimos dez minutos já não interessam a ninguém.
Os espectadores começam a deixar o estádio.
A história acabava de ser escrita ante seus olhos.
Pelé chegou à lua.
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