Análise: o ataque do Uruguai pode salvar sua defesa imprevisível
Os quartos lugares em 1954, 1970 e 2010 mostram as capacidades de uma das equipes originais da competição, que superou poderes e demonstrou o potencial de um país pequeno em números - apenas três milhões de habitantes - mas apaixonado por futebol.
No Catar, os uruguaios vão para a 14ª presença num Mundial depois de, em 2018, terem eliminado Portugal (2-1), caindo apenas nas quartos-de-final para a França (2-0), que viria a levantar o troféu.
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O Uruguai vive um período de renovação. Na Copa América de 2021, o time caiu nas quartas-de-final contra a Colômbia na disputa de pênaltis. Também no caminho para a Copa do Mundo, o que parecia uma certeza começou a virar dúvida quando, em novembro, a seleção olímpica sofreu quatro derrotas consecutivas - inclusive na Bolívia (3 a 0) - que levaram à demissão do lendário técnico Oscar Tabarez.
A função coube a Diego Alonso (47), ex-atacante com sete convocações, que levou o time a quatro vitórias nas últimas quatro partidas e a consequente classificação. Naquela que será provavelmente a última competição internacional de Luis Suarez (35), Edison Cavani (35), Diego Godin (36), Fernando Muslera (36) e Martín Cáceres (35), a estes veteranos juntar-se-á a turma de jovens já bem estabelecidos na Europa, como Fede Valverde (24), Darwin Nunez (23), Rodrigo Bentancur (25) e Ronald Araujo (23), que trará energia ao time.
Pontos fortes
O grande nome do Uruguai é o atacante Suárez, artilheiro do país com 68 gols em 134 partidas internacionais. Embora não esteja jogando em alto nível, como fazia alguns anos atrás, quando era disputado pelos melhores da Europa, 'Luisito' é um atacante, com a cara e o espírito do futebol uruguaio, um lutador, deixando tudo o que pode e não pode em campo - a defesa 'épica' que evitou o gol de Gana no final da prorrogação nas quartas-de final da Copa do Mundo de 2010 ou a mordida em Giorgio Chiellini no Brasil em 2014 são exemplos disso. Em agosto, voltou à sua terra natal e ao Nacional para conquistar o título pelo clube de sua infância.
Com faro de gol, Suárez pode fazer a diferença para o Uruguai, que o tem como seu maior ídolo. O antigo atacante do Benfica, Nuñez, agora no Liverpool, é outro com grande capacidade de ataque e finalização.
No meio-campo, a grande força é Valverde, que atravessa uma excelente fase no Real Madrid e é uma das maiores figuras dos merengues. Na defesa, Araujo (Barcelona) e José Gimenez (Atlético Madrid) têm dificultado a vida dos atacantes da LaLiga. Cavani, por sua vez, pode ser uma opção do banco, onde também são esperados nomes como Sebastian Coates (32) e Manuel Ugarte (21).
Pontos fracos
O grande ponto de interrogação nesta equipe aparentemente equilibrada está no gol. Muslera, do Galatasaray, perdeu a vaga após uma série de quatro derrotas nas eliminatórias para Sergio Rochet , do Nacional (29).
Ele sofreu apenas um gol em seus quatro jogos como titular, em comparação com os 11 gols sofridos por Muslera nas quatro rodadas anteriores. Ao mesmo tempo, os laterais não convencem: na direita, Guillermo Varela (29) foi convocado com apenas sete partidas em 2022 (seis no Flamengo), José Luis Rodriguez (25), do Nacional, ainda não fez sua estreia internacional e Cáceres - que pode jogar nos dois lados, não parece ter o mesmo ritmo.
Outra alternativa é Araujo, que vem se adaptando à lateral direita com algum sucesso. Na esquerda, Matias Vina (25) perdeu seu lugar na Roma de José Mourinho, tendo feito apenas sete partidas, e Mathias Olivera (23) foi reserva no Napoli, líder da liga italiana.
Time titular
Sergio Rochet - Ronald Araujo, Jose Gimenez, Diego Godin, Mathias Olivera - Rodrigo Bentancur, Matias Vecino, Fede Valverde, De Arrascaeta - Darwin Nunez, Luis Suarez
Com mais dúvidas do que certezas, esta escalação do Uruguai parece ser a que dá mais garantias ao técnico Alonso. Com Araujo projetado à direita e Olivera mais recuado à esquerda, Bentacur e Vecino seguram o meio-campo e fazem a jogada chegar aos atacantes num clássico 4-4-2.
Tanto Valverde, pela direita, quanto Arrascaeta, pela esquerda, podem assumir posições mais centrais, permitindo que Araujo suba e Nuñez eventualmente caia pelos lados, usando sua velocidade e habilidade no um contra um, para depois encontrar Suárez na área.
O jovem Facundo Pellistri (20), titular em seis dos sete jogos em que foi convocado, é uma aposta certeira de Alonso desde que chegou à seleção, mas parece ter perdido espaço, já que só fez uma aparição pelo time sub-23 do Manchester United esta temporada, após dois empréstimos ao Alavés.
Outra das alternativas poderia ser a implementação de um sistema 3-5-2, com Araujo, Gimenez e Godin ou Coates na defesa, o que abriria espaço para um lateral mais ofensivo como Nicolas de la Cruz (25), Agustín Canobbio (24) ou Facundo Torres (22), que vem jogando bem no Orlando City.
No entanto, a presença de quatro atacantes na equipe sugere que o Uruguai manterá sua tradicional dupla de atacantes.
Briga por posição
Existem várias dúvidas sobre as escolhas iniciais de Alonso. Na defesa, a polivalência de grande parte dos convocados poderá ajudar a esconder fragilidades, sobretudo pelos lados. A convocação surpresa de José Luis Rodriguez, que ainda não estreou pela seleção, oferece outra solução para o lado direito, além de Varela ou do veterano Cáceres. Porém, se Araujo for escolhido para essa posição, abriria espaço para outro zagueiro.
Gimenez, soldado indispensável de Simeone no Atlético de Madrid, parece ter uma vaga garantida. A outra vaga de zagueiro está em aberto, com o veterano capitão Godin, o jogador com mais partidas pela seleção nacional (159).
No entanto, tendo jogado apenas 90 minutos em três partidas pelo Velez Sarsfield nesta temporada, ele chegará frio ao torneio. A sua luta pelas vagas inclui ninguém menos que o capitão do Sporting, Coates, figura-chave na formação de Ruben Amorim, e Cáceres.
Outra grande dúvida é quem fará companhia ao artilheiro da seleção, Suárez, vaga até agora assegurada por Cavani. O atacante vem de uma temporada menos bem-sucedida no Manchester United (dois gols em 20 jogos) e chegou ao Valencia nesta temporada com algo a provar.
Quatro gols em sete jogos mostram que o uruguaio recuperou a forma, mas terá que lidar com a forte concorrência de Darwín Nuñez.
Ele se juntou ao Liverpool vindo do Benfica no verão passado por cerca de 80 milhões de euros após uma campanha de 34 gols em Portugal. Seus nove gols até agora em sua curta carreira pelos Reds mostram que ele não precisa de um longo período de adaptação e lhe dá uma ligeira vantagem sobre Cavani na escalação de Alonso.
Previsão
O Uruguai tem boas chances de classificação, sendo favorito em pelo menos duas das três partidas da primeira fase. Idealmente, se classificaria na primeira colocação, já que o segundo colocado potencialmente enfrentaria o Brasil, o que seria um grande obstáculo nas aspirações do Uruguai, que não vence o rival sul-americano desde 2001.
Um começo forte contra a Coreia do Sul é, portanto, obrigatório para dar confiança e também para assustar Portugal antes da segunda rodada. Os sul-americanos venceram os portugueses nas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 2018 e um bom resultado contra eles praticamente garante passagem para a próxima fase.
A equipe de Alonso terá que dar o máximo nas duas primeiras partidas e não deixar as decisões para a última rodada, no confronto com Gana, evitando assim um possível encontro emocionante, principalmente com Suárez em campo.