Análise: o México vai jogar como nunca e perder como sempre?
É difícil imaginar uma seleção que está em 13º lugar no ranking da FIFA chegando no Mundial sem grandes aspirações. No entanto, no México, as expectativas são bastante limitadas.
Há muitos fatores para isso, e o primeiro é a história. Uma geração inteira no país de 130 milhões de habitantes não viu a seleção nacional ter sucesso. A última vez que o México passou das oitavas de final foi em 1986, quando sediou o torneio.
Durante anos, falou-se da "maldição do México", que passa da fase de grupos só para cair na quarta partida. Este ano, considerações nada supersticiosas apoiam a tese. Mesmo que os mexicanos não tenham medo da Polônia e da Arábia Saudita, eles não estão contando com o primeiro lugar no grupo porque presumem que este posto está reservado para a Argentina.
Afinal, eles se lembram de quanta dor os argentinos causaram em 2006. E se eles avançarem – como previsto – em segundo lugar, vão enfrentar a França e (de novo) adeus, Copa.
Supondo, no entanto, que por algum milagre a Argentina fique em segundo, o México pegaria a Dinamarca e, novamente, as esperanças de avançar são escassas. A maldição não é à toa.
Pontos fortes
Primeiro, a torcida. Os torcedores mexicanos marcam presença em toda Copa do Mundo, e nesta não será diferente. A partida entre México e Argentina acontecerá no mesmo local da final – no Estádio Lusail – e os tricolores correram para conseguir os ingressos, apesar do preço alto.
Espera-se que entre 40 mil e 60 mil torcedores mexicanos viajem ao Catar, e eles vão apoiar a equipe independentemente dos resultados. É assim que se torce para este México que, sob a batuta de Gerardo "Tata" Martino, assiste-se com os dentes cerrados e não com orgulho e alegria.
O time joga um futebol que não é o melhor de se ver, mas que tem suas vantagens. Pressão alta, tendência a procurar contra-ataques e, ainda por cima, domínio quanto tem a posse da bola - estas são algumas características que seus rivais têm de estar atentos.
A equipe troca muitos passes curtos e gosta de impor seu ritmo aos adversários. Passa muito tempo com a bola na área de seus rivais, o que – juntamente com a supremacia na posse de bola – foi uma característica importante na classificação para a Copa do Mundo de 2022.
Os pontos fortes adicionais de El Tri são suas estrelas de Napoli e Ajax: Hirving Lozano (27) e Edson Álvarez (25). O primeiro foi o jogador mais caro do México na época de sua transferência (cerca de 42 milhões de euros) e está muito à vontade no ataque brilhante do Napoli.
Em mais de 100 jogos pelo time italiano, ele marcou 23 gols e, nos dois últimos jogos antes da viagem ao Catar, marcou um gol e deu duas assistências. Ele é criativo e difícil de parar.
Devido à sua posição entre o meio-campo e a defesa, El Machín impressiona menos, mas, para a seleção mexicana, se tornou indispensável. É Álvarez quem, na formação favorita de Martino (4-3-3), junta as linhas, circulando entre elas, impondo ritmo a seus colegas mais velhos no meio-campo. Ele de fato levou cartão amarelo algumas vezes no futebol holandês, mas mostra ser aguerrido.
A equipe construída por Martino é baseada na experiência, e muitos de seus jogadores se conhecem muito bem. O zagueiro Jesús Gallardo teve o maior número de convocações com o técnico argentino (77), mas, com 28 anos, não é o mais velho.
Afinal de contas, o lugar cativo no gol da seleção é ocupado por Guillermo Ochoa, de 37 anos, para quem a Copa de 2022 será a quinta consecutiva. Ochoa jogou todas as partidas das eliminatórias e defendeu mais chutes do que qualquer outro goleiro na última Copa do Mundo.
Pontos fracos
Já que estamos falando da idade dos jogadores, o México tem uma das equipes mais velhas do Mundial. Durante as eliminatórias, a média de idade do time foi de aproximadamente 29 anos.
Ochoa nem sequer é o mais velho, já que o outro goleiro, Alfredo Talavera, completou 40 anos. Outro muito experiente é o capitão da equipe, Andrés Guardado, que joga no meio-campo e está com 36 anos.
A alta média de idade está relacionada à estagnação do México sob Martino. Há uma percepção generalizada de que não há sangue jovem suficiente na equipe e que a dinâmica do jogo da seleção deixa muito a desejar. Além disso, o time não é capaz de jogar uma partida inteira em ritmo intenso – o que é um problema grande para uma equipe que gosta de pressão alta.
Lozano está se tornando a estrela de El Tri, mas a tarefa de marcar gols não deve ser só dele. Falta ao México um verdadeiro número nove. O técnico argentino sempre usou Raúl Jiménez, do Wolverhampton, como centroavante, mas ele está lesionado desde agosto.
O meio-campista do Sevilla Jesús Corona é o substituto favorito de Martino na função, mas ele também tem sofrido com lesões desde a pré-temporada, e andou ausente nas convocações.
Rogelio Funes Mori pode ser um forte candidato para jogar de centroavante, mas jogou apenas duas partidas completas pelo Monterrey desde agosto. Uriel Antuna fez uma boa exibição no amistoso recente contra o Iraque com um gol e uma assistência, mas é um meio-campista de ofício, e não está acostumado a ser o último homem.
Henry Martín (29) está se saindo muito bem na Liga MX – poderia ser ele a solução?
Esse problema da falta de alguém para marcar gols vem das eliminatórias. Além de não conseguiram vencer os Estados Unidos e o Canadá (duas derrotas fora de casa e dois empates em casa), os mexicanos marcaram muito menos do que seus rivais, inclusive em partidas contra equipes mais fracas.
Os jogos antes da Copa do Mundo tampouco inspiraram otimismo. O México conseguiu marcar mais de dois golsomente contra o Iraque e o Suriname . A última vitória com goleada em um rival forte foi o 4x0 em um amistoso contra a Nigéria em julho do ano passado.
Time titular (4-3-3)
Ochoa; Sánchez, Montes, Araujo e Gallardo; Guardado, Álvarez e Rodríguez; Lozano, Martín e Vega.
Se Ochoa esteve entre as traves durante quatro Copas do Mundo e jogou bem, por que mudar? A defesa proposta é uma das alternativas mais jovens, embora não seja muito ousada.
Um triângulo no meio-campo com Álvarez móvel na frente parece ser a jogada mais óbvia para Martino – o trio tem bom entrosamento e experiência.
O ataque continua sendo o setor mais problemático. A dupla Martín-Vega tem um histórico muito bom na liga mexicana e se conhece bem, enquanto Lozano é puro talento. Esse ataque pode ter um bom desempenho se conseguir o entrosamento durante o torneio.
Briga por posição
A briga é na frente. Os problemas no ataque são motivo de preocupação para a torcida e também para o técnico, que demorou até os 45 do segundo tempo para anunciar sua convocação de 26 atletas para a Copa.
Não é surpresa que a mídia mexicana esteja acompanhando de perto cada passo de Jiménez, como se quisesse acelerar seu retorno o mais rápido possível.
Previsão
É difícil ver o México chegando longe no mata-mata, e no Catar as oitavas podem ser de novo a porta de saída.Para fazer história e quebrar a maldição, a equipe teria que jogar no seu máximo e contar com as habilidades individuais de seus líderes.
Mas isso é pedir muito, sendo que a equipe não tem certeza de quem serão seus líderes até começar a primeira partida, no dia 22 de novembro contra a Polônia.