Faltam 60 dias para Paris 2024: relembre primeiros ouros do atletismo brasileiro nos Jogos
A 60 dias das Olimpíadas de Paris 2024, o Flashscore conta a história dos primeiros ouros masculino e feminino do Brasil no atletismo.
Uma jornada que nos leva de volta ao ano de 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, na Finlândia. Uma festa que teve como destaque um herói do esporte brasileiro chamado Adhemar Ferreira da Silva, ouro no salto triplo.
Já no feminino, o país precisou esperar até o ano de 2008, em Pequim, para ter sua primeira medalhista mulher em toda história, celebrando o ouro conquistado por Maurren Maggi no salto em distância.
Saltos que marcaram uma geração
Adhemar Ferreira da Silva foi um atleta à frente do seu tempo. O paulista, nascido no dia 29 de setembro de 1927, iniciou seus passos no esporte por um acaso. A história retrata que a sonoridade da palavra atleta motivou o então garoto de 18 anos a seguir por um caminho que o levou à glória.
Um sucesso repentino que despontou no atletismo do São Paulo e foi lapidado pelo técnico Dietrich Gerner. Logo em suas primeiras sessões e com instruções básicas, ele atingiu a marca de 12,09 metros.
Adhemar não parou mais de evoluir. Em 1947, no Troféu Brasil, chegou aos 13,05 metros. Três anos depois, em dezembro de 1950, ele igualaria os 16 metros do recorde mundial do japonês Naoto Tajima, que datava desde 1936.
Não havia mais limites para Adhemar, que no ano seguinte superou a marca, chegando a 16,01 metros. O jovem brasileiro estava pronto para o estrelato em Helsinque, nos Jogos Olímpicos de 1952, e confirmou todas as expectativas que foram depositadas em sua performance.
Não foi uma apresentação qualquer. Em seis tentativas, Adhemar Ferreira da Silva quebrou o seu próprio recorde mundial quatro vezes. No primeiro chegou a 16,05 m. Depois foi a 16,09 m e 16,12 m.
Por fim, no salto que lhe concedeu a glória olímpica, chegou a 16,22 metros, faturando o primeiro ouro da história do Brasil no atletismo e apenas o segundo do país desde Guilherme Paraense, do tiro esportivo, em 1920, na Antuérpia.
Adhemar Ferreira da Silva ganhou o coração do povo finlandês, que gritava seu sobrenome após a conquista. Em retribuição, com a medalha no peito, percorreu a pista do estádio local saudando os torcedores, tornando-se o primeiro atleta em uma modalidade individual a dar a "volta olímpica", algo que tornou-se uma tradição.
Quatro anos depois, nos Jogos de Melbourne, na Austrália, Adhemar conquistou o primeiro bicampeonato olímpico da história do país, saltando para 16,35 metros e estabelecendo um novo recorde mundial.
Fora das pistas, Adhemar Ferreira da Silva teve uma carreira igualmente brilhante. Ele formou-se em Direito, Belas Artes, Relações Públicas e Educação Física, falava vários idiomas, foi adido cultural do Brasil na Nigéria e colunista do jornal Última Hora.
Ele também participou do filme Orfeu Negro, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de filme estrangeiro, em 1959. Seu falecimento ocorreu no ano de 2001. No ano passado, ele tornou-se oficialmente um dos heróis nacionais, tendo seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A publicação é guardada no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília (DF).
...e no escudo do São Paulo
As duas estrelas douradas no atual escudo do São Paulo Futebol Clube representam os dois recordes mundiais atingidos por Adhemar Ferreira da Silva nas disputas do salto triplo dos Jogos Olímpicos de Helsinque 1952 e nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México 1955. As outras três vermelhas fazem alusão à conquista do tricampeonato mundial do clube no futebol.
O renascimento de Maurren
Em 1996, nos Jogos de Atlanta, o Brasil faturou suas primeiras medalhas femininas, celebrando a dobradinha no vôlei de praia, a prata no basquete e o bronze no vôlei de quadra. Mas, no esporte individual, a barreira só viria a ser quebrada 12 anos depois, em Pequim, com Maurren Maggi.
Nascida em São Carlos, no interior de São Paulo, ela ingressou no mundo esportivo ainda na infância, aos sete anos. Mas o atletismo foi ganhando grande importância já na adolescência, onde passou a destacar-se em disputas na região.
A convite do técnico Nélio Moura, Maurren decidiu mudar-se para São Paulo aos 17 anos e intensificou os trabalhos voltados ao seu crescimento no atletismo. Já em 1999, ela começou a despontar no cenário internacional ao saltar 7,26 m no Campeonato Sul-americano de Atletismo em Bogotá, Colômbia, a melhor marca do mundo naquele ano.
Em sua primeira Olimpíada, nos Jogos de Sydney, em 2000, ela não chamou atenção, terminando a disputa no salto em distância em 24º lugar. Quatro anos depois, no entanto, Maurren era apontada como uma das grandes esperanças brasileiras de medalha nos Jogos de Atenas.
Mas a brasileira acabou flagrada no exame antidoping, testando positivo para uma substância proibida chamada clostebol, presente em um creme cicatrizante. Na época, Maurren alegou ter utilizado em uma sessão de depilação. Mas sua apelação não foi bem sucedida e ela acabou suspensa por dois anos, dando adeus aos Jogos em solo grego.
Maurren poderia ter desistido nesse processo. Todavia, decidiu dedicar-se e mirou um novo ciclo olímpico, a participação em Pequim 2008. Com a classificação assegurada, o histórico estádio Ninho de Pássaro tornou-se o palco de sua redenção pessoal e profissional.
A brasileira literalmente voou, estabelecendo a marca de 7,04 m na final do salto em distância para ser campeã em 22 de agosto de 2008, conquistando a primeira medalha feminina do atletismo nacional e o primeiro ouro individual das mulheres em disputas olímpicas.
Maurren Maggi ainda possui quatro medalhas pan-americanas no currículo, sendo três ouros no salto em distância (Winnipeg 1999, Rio 2007 e Guadalajara 2011) e uma prata nos 100 m com barreiras (Winnipeg 1999). Ela disputou os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, mas terminou apenas na 15ª posição do salto em distância, não conseguindo defender a conquista de Pequim.