Opinião: Ser "campeão do mundo da NBA" não basta mais para os EUA no basquete
Com recusas das maiores estrelas, o envelhecimento de astros, como o caso de LeBron James, e a internacionalização da NBA, sobram pontos de interrogação sobre a dita hegemonia que os Estados Unidos sempre obtiveram na modalidade.
Veja como foi EUA 111 x 113 Alemanha
Apesar das quatro conquistas seguidas em Jogos Olímpicos desde a tragédia em Atenas, quando os Estados Unidos ficaram fora da decisão pela primeira vez desde a Olimpíada de Barcelona, em 1992, quando os atletas da NBA puderam ser inscritos, o chamado "Dream Team" vem encontrando dificuldades no mundo FIBA.
Na Copa do Mundo de 2019, os Estados Unidos caíram nas quartas de final para a França. Um resultado chocante. Antes daquele resultado, os norte-americanos estavam invictos em Mundiais e Olimpíadas desde 2006, e voltaram para casa sem medalha pela primeira vez desde 2002.
Desta feita, uma derrota para a Lituânia na segunda fase, já tinha colocado o time em estado de alerta. O tropeço para a Alemanha na semifinal colocou, de vez, o basquete do país em xeque.
Um "catadão" estadunidense não vai chegar em qualquer torneio mais e ditar as cartas. O basquete é um esporte cada vez mais globalizado e o nível está altíssimo.
Campeão do Mundo dos Estados Unidos?
A queda norte-americana vem em um momento polêmico para o "Mundo NBA". É tradição nos esportes estadunidenses que as franquias locais coloquem em seus estádios "banners" com a inscrição de seus títulos. Chama atenção, no entanto, que os vencedores da NBA, NFL, NHL e MLB se intitulam "campeões do mundo".
Esta terminologia sempre foi criticada fora dos Estados Unidos. Mas foi preciso que um norte-americano, o velocista Noah Lyles, campeão mundial dos 100 metros rasos, tocasse na ferida e questionasse essa "auto-proclamação".
"Eu assisto a final da NBA e eles têm a inscrição "campeão do mundo" em suas cabeças (bonés comemorativos). Campeão do mundo de que? Dos Estados Unidos? Eu amo os Estados Unidos algumas vezes, mas eles não são o mundo", questionou o velocista, em entrevista descontraída no Campeonato Mundial de Atletismo.
A declaração caiu como uma "bomba" entre os jogadores da NBA, que foram às redes sociais para criticar o velocista.
O ala do Phoenix Suns, Kevin Durant chegou a ironizar Noah, pedindo para que “alguém o ajudasse”. Draymond Green, um dos pilares do multicampeão Golden State Warriors, ficou possesso: “Quando se tenta falar algo inteligente dá errado”, disse o atleta.
E é claro que Noah foi lembrado
Com os Estados Unidos fora da final da Copa do Mundo de Basquete, a fala de Noah voltou a ser repercutida pelo mundo, inclusive pelo perfil oficial da World Athletics no Twitter.
Querendo ou não, a eliminação norte-americana colocou lenha na fogueira da polêmica e exigirá uma resposta dos próprios astros do basquete do país.
Os Estados Unidos estão garantidos nos Jogos Olímpicos de Paris. E fica agora a dúvida do que Steve Kerr será capaz de fazer para motivar (se for ainda mais necessário) os destaques da NBA para se juntarem ao seu projeto olímpico.
É preciso lembrar que os norte-americanos foram ao Mundial deste ano com um time não tão qualificado, apesar de jogadores com grande destaque na NBA.
O elenco jovem conseguiu superar algumas escolas, mas derrapou frente a times de forte jogo coletivo. Será preciso muito mais do que o talento individual para que os EUA voltem ao topo da modalidade e sejam, de fato, campeões do mundo mesmo que o ouro olimpico reluza no próximo ano.