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Camisa 24 do Brasil sai do armário no Catar

AFP
Bremer jogou os dois tempos contra Camarões na terceira rodada do Grupo G
Bremer jogou os dois tempos contra Camarões na terceira rodada do Grupo GAFP
Evitada por décadas no futebol brasileiro por conta da homofobia, a camisa 24 fez sua primeira aparição pela Seleção em Copas do Mundo nesta sexta-feira (2), através do também estreante Bremer.

Considerado um tabu pelos brasileiros, o número saiu do armário justamente em um país que criminaliza a homossexualidade. Coincidência? Talvez um pouco, mas a Seleção apenas seguiu a norma da Fifa de manter a numeração fixa de jogadores no Mundial do número um ao 26 (total de jogadores convocados).

E o escolhido para a '24' foi o zagueiro Bremer, que antes da Copa acumulava apenas 44 minutos jogados pela Seleção e que também fez sua estreia na competição na derrota por 1 a 0 para Camarões. O defensor da Juventus jogou os dois tempos contra os africanos na terceira rodada do Grupo G. Mesmo com a derrota, o Brasil manteve a liderança da chave. Assim, o próximo desafio será contra a Coreia do Sul, na segunda-feira (5). "Para mim é uma camisa qualquer como uma outra, o importante é estar na Copa do Mundo, o número não importa", disse o jogador há uma semana e meia.

Um tabu antigo

A associação pejorativa do número 24 no Brasil é antiga e remonta ao jogo do bicho. No jogo, o veado, é representado por esse número, que, ao longo das décadas, foi sendo associado a pessoas homossexuais, mostrando que o preconceito foi construído socialmente através do tempo.

A denúncia transcendeu diferentes esferas da sociedade brasileira, inclusive o futebol, que registra diariamente agressões a homossexuais e transsexuais. Como forma de luta e criminalização da homofobia, a comunidade LGBTQIA+ passou a se utilizar do número, principalmente no futebol, em camisas comerciais de organizações inclusivas e em torneios de bairro organizados por times LGBTQIA+. 

"É muito bom ver isso acontecendo justo nesse cenário"

A camisa, que ficou de fora de 21 edições do Mundial, renasce em uma marcada por polêmicas relacionadas aos direitos LGBTQIA+, incluindo a proibição de capitães europeus de usarem a braçadeira "One Love" com as cores do arco-íris.

A explicação, no entanto, não é marcada pelo ativismo, mas sim pelas regras de numeração fixa e sequencial da Fifa, que para a Copa de 2022 anunciou a possibilidade da convocação de 26 jogadores, diferentemente das edições anteriores, em que eram considerados 23 nomes desde 2002.

“Teríamos adorado se fosse uma ação de ativismo, como as realizadas por outros times, mas é muito bom ver isso acontecendo justo nesse cenário”, disse Railson Oliveira, fundador da FieL LGBT, torcida LGBTQIA+ do Corinthians, à AFP.

Até sexta-feira, havia pelo menos dois registros do uso dessa camisa em jogos da Seleção, ambos em amistosos, nos quais normalmente não há regras numéricas rígidas: os atacantes Taison, na vitória por 3 a 1 sobre o Japão, em novembro de 2017, e Roberto Firmino, na vitória por 3 a 0 sobre Gana, em setembro, embora o jogador do Liverpool não tenha entrado em campo.

Um tabu em desconstrução 

No ano passado, a Seleção teve a chance de utilizar o número 24 na Copa América, na qual foi permitido convocar até 28 jogadores por conta da pandemia de covid-19. Porém, não foi o que aconteceu. Enquanto as demais seleções utilizaram o número normalmente em seus elencos, o técnico Tite listou os 24 atletas que jogariam a competição, mas as designações foram do número um ao 23 e depois saltaram para o 25, utilizado pelo volante Douglas Luiz.

Uma ONG considerou o ato homofóbico e processou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A entidade, no entanto, argumentou que essa numeração era mais adequada para um meio-campista e o caso foi arquivado. Mas os tempos parecem mudar.

A CBF apoiou a Parada do Orgulho Gay do Rio de Janeiro, no último domingo (27). Pelas ruas da capital carioca, e com o apoio da entidade do futebol, foi exibida uma gigantesca camisa da Seleção com o número 24 e uma braçadeira com as cores do arco-íris. "Sentimos um ar de amadurecimento, sabemos que uma coisa não tem nada a ver com a outra, no sentido de um número determinado a orientação sexual de alguém. Porém, não podemos afirmar nada com tanta certeza", finalizou Railson.