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Casas de apostas online seduzem futebol da América Latina

Josias Pereira, com informações da AFP
PixBet pagou R$ 48 milhões para expor sua marca na camisa do Flamengo
PixBet pagou R$ 48 milhões para expor sua marca na camisa do FlamengoGilvan de Souza/Flamengo
O futebol da América Latina deu passe livre para as casas de apostas online, que assinaram contratos milionários para colocar seus nomes nas camisas de dezenas de equipes, ligando o sinal de alerta em países que proibiram suas operações ou que pretendem regular o mercado.

Os principais clubes da região foram seduzidos pelos milhões oferecidos por estas casas de apostas por um espaço em seus uniformes. Um dos maiores exemplos é o operador brasileiro 'Pixbet', que pagou em 2021 R$ 48 milhões para estampar sua marca na camisa do Flamengo, finalista da Copa Libertadores. Na decisão do torneio continental, o rubro-negro terá como rival o Athletico Paranaense

No futebol brasileiro, os 20 clubes da Série A fecharam contratos milionários de patrocínio com estas empresas.

Apesar de ter a liga mais poderosa da região, cujas equipes geraram receitas de mais de R$ 6 bilhões em 2021, o Brasil não conta com uma regulamentação clara sobre as apostas online, já que ainda é debatida uma norma para regular aspectos operacionais e tributários, além de medidas para evitar a manipulação de resultados.

"A ausência de regulação em relação às operações no território nacional (Brasil) torna impossível mapear com precisão os números que o mercado de apostas movimenta efetivamente", explica à AFP a especialista em direito esportivo Danielle Maiolini.

Legislações diferentes em cada país

Alertados pela rápida instalação das casas de apostas online no Chile, deputados patrocinaram uma lei que propõe "a proibição de toda publicidade de casas de apostas online em eventos esportivos, uniformes e toda relação comercial", explica à AFP Roberto Arroyo, presidente da Comissão de Esportes e Recreação da Câmara de Deputados.

Arroyo acrescenta que as casas de apostas online "são um problema" em nível legal por sua falta de regulação e em nível esportivo pelo perigo de "manipulação de jogos".

No Chile, a maioria dos 16 times da primeira divisão têm casas de apostas como patrocinadoras. Inclusive a Associação Nacional do Futebol Profissional (ANFP) fechou um contrato para colocar o nome de uma dessas plataformas no campeonato da segunda divisão.

"A proibição da publicidade nas apostas não tem destino. É melhor regular do que proibir, porque proibir vai fomentar a ilegalidade e geralmente as apostas ilegais estão nas mãos das máfias", diz o jornalista esportivo chileno Juan Cristóbal Guarello.

No Uruguai, as apostas online não autorizadas previamente são proibidas desde 2017 e centenas de casas de apostas foram bloqueadas.

Em julho, a Direção Nacional de Loterias e Apostas do Uruguai (DNLQ), que administra os jogos de azar, multou a Conmebol em US$ 50 mil por exibir publicidade de outros sites de apostas durante partidas de copas internacionais no país.

Já na Argentina não existe uma lei em nível nacional que regule as plataformas online. Em Buenos Aires, onde jogam os poderosos Boca Juniors e River Plate, as casas de apostas devem tributar 15% de suas receitas.

Por sua vez, o Peru, onde as apostas são permitidas, foi aprovada em agosto uma norma que regula este tipo de entretenimento que pretende arrecadar cerca de US$ 40 milhões em impostos anualmente.

No México, a atividade também é permitida, mas as plataformas são obrigadas a estabelecer um controle interno para as transações que impeçam a manipulação dos sistemas de apostas.

Contratos milionários

A espanhola "Codere" desembolsa US$ 3,5 milhões anuais para aparecer na camisa do River Plate, um dos gigantes sul-americanos.

No México, 13 das 18 equipes da primeira divisão têm acordos de publicidade e na temporada 2020-21 o volume de apostas foi de US$ 27,9 milhões por partida em média, segundo a "Sportradar", empresa especializada em vigilância de apostas esportivas.

As plataformas de apostas também conseguiram espaços publicitários em programas esportivos e nos intervalos dos jogos com ex-estrelas do futebol que prometem prêmios aos telespectadores.

"Atualmente, não existe nenhuma proibição por parte da CBF ou da Fifa quanto à presença desses jogadores na comunicação de marketing associada às competições esportivas", afirma Maiolini.

A região também tem ficado exposta à possíveis manipulações esportivas. Na Argentina, a justiça investiga se as casas de apostas estão por trás da entrada dura que o jovem do Boca Juniors Exequiel Zeballos sofreu do zagueiro do Agropecuario Milton Leyendeker, que foi expulso com apenas sete minutos de jogo pela Copa Argentina.

Hipóteses judiciais, segundo a imprensa argentina, apontam uma aparente aposta online de que um jogador seria expulso antes dos dez minutos do duelo entre Agropecuario e Boca.