COI denuncia ameaças ucranianas de boicote aos Jogos Olímpicos de 2024
A divulgação da carta ocorre às vésperas de uma conferência que reunirá ministros de Esportes de vários países em Londres nesta sexta-feira (10), e que será dedicada à presença desses atletas no evento olímpico de Paris.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, fará o discurso de abertura desta cúpula por videoconferência, na qual espera-se que volte a atacar os planos do COI para Paris-2024.
Na carta, datada de 31 de janeiro, Thomas Bach garante que as "pressões" ucranianas são percebidas como "extremamente infelizes" pela "grande maioria" dos diferentes atores olímpicos, desde os comitês nacionais (CNO) até as federações internacionais.
"A esse respeito, o CNO da Ucrânia certamente não conta com o apoio ou a solidariedade da grande maioria dos interessados no movimento olímpico. E, como a história mostra, os boicotes anteriores não atingiram seus objetivos políticos e serviram apenas para punir os atletas" nos países mencionados, continua Thomas Bach, que foi privado da defesa de seu título olímpico na esgrima por equipe devido ao boicote alemão aos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscou.
O dirigente recorda ainda que qualquer boicote desportivo "é uma violação da Carta Olímpica", sem evocar explicitamente sanções, enquanto a Coreia do Norte foi privada pelo COI dos Jogos de 2022 em Pequim por não ter enviado uma equipe a Tóquio em 2021.
Por último, Thomas Bach garante que a participação sob bandeira neutra de atletas russos e bielorrussos nos Jogos de 2024 "nem sequer foi discutida em termos concretos", qualificando como "prematuros" os esforços de Kiev para impedi-la.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, no final de fevereiro de 2022, os atletas dos dois países foram excluídos da maioria dos eventos esportivos mundiais.
Frente de apoio
Mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) acendeu o pavio no final de janeiro, propondo um plano para organizar o retorno desses atletas à competição sob bandeira neutra, desde que não tenham "apoiado ativamente a guerra na Ucrânia".
"Nenhum atleta deve ser privado da competição apenas com base no passaporte", afirmou Bach.
Esta posição é inadmissível para Kiev, que imediatamente ameaçou com um boicote, acusando a entidade olímpica de ser "um promotor de guerra, assassinato e destruição".
Existe uma frente organizada em apoio a Kiev, embora apenas um punhado de países considere um boicote, como a Polônia e a Estônia. A Letônia também alertou que "não participaria dos Jogos junto com o país agressor".
O ministro dos Esportes da Polônia, Kamil Bortniczuk, disse no início de fevereiro que espera que cerca de quarenta países se oponham à participação da Rússia e de Belarus.
Sua contraparte britânica, Lucy Frazer, que organiza a conferência de sexta-feira, acusou o COI de menosprezar "a plataforma perfeita para promover a Rússia e legitimar sua guerra ilegal" que os Jogos oferecem a Vladimir Putin.
Os Estados Unidos, por outro lado, mostraram-se favoráveis ao compromisso da bandeira neutra.
Para a França e a cidade de Paris, que sediará os próximos Jogos Olímpicos em 2024, o assunto é cada vez mais delicado.
A prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo, em visita a Kiev nessa quinta-feira (9), manifestou-se contra a participação de atletas russos "enquanto a Rússia continuar fazendo guerra com a Ucrânia", depois de ter defendido a presença dos russos nos Jogos "sob uma bandeira neutra", para "não privar os atletas de sua competição".
O Presidente francês, Emmanuel Macron, também indicou nessa quinta-feira que tinha "conversado" com Zelensky sobre uma possível exclusão dos atletas russos dos Jogos.
Enquanto isso, os diferentes protagonistas transferem a responsabilidade de uma decisão a esse respeito.
O COI insiste que são as federações esportivas internacionais que continuam sendo as "únicas autoridades" que governam suas competições nos Jogos. Essas entidades não se pronunciaram sobre o caso até o momento.