Fora da Arena do Grêmio, vários torcedores já "esquentavam" a garganta antes da final do Campeonato Gaúcho, no último sábado, contra o Caxias. Suárez deixou sua marca de pênalti, gol que fez o Grêmio chegar ao hexa do Gaúcho.
Entre a multidão predominantemente azul, camisas com o número "9" e o nome de Suárez nas costas são frequentes.
A imagem tornou-se algo comum desde que o experiente atacante chegou em janeiro a Porto Alegre, que divide seus corações entre Grêmio e Internacional.
Na reta fina da sua carreira, o jogador de 36 anos desembarcou após um breve período de sucesso com o seu primeiro clube, o Nacional de Montevidéu, onde regressou em julho depois de brilhar na Europa durante pouco mais de três décadas.
"É uma figura, um jogador que viajou pelo mundo e que tem o afeto de todos", disse à AFP Sandra Quintana, uma gremista desde pequena.
Em frente a uma bandeira com o "Pistolero" impresso, esta nutricionista de 66 anos, com óculos e um largo sorriso, expressa o que grande parte dos torcedores sentem pelo artilheiro de todos os tempos do Uruguai.
"Ele faz parte da nossa família. Ele partilha a sua experiência com os jovens jogadores do Grêmio, e isso é muito importante. A sua presença tem sido um espectáculo, diz.
Uma máquina de gols e de dinheiro
Até agora, o atacante, cujo cabelo e barba já estão cinzentos, respondeu ao carinho recebido com 11 gols em 15 jogos, quatro dos quais garantiram o título de Recopa Gaúcha em janeiro e o Campeonato Gaúcho no sábado passado.
Suárez será posto à prova novamente no domingo, quando fizer a sua estreia no Brasileirão contra o Santos.
"Tanto quanto se ganha muito, é preciso ter ambição. Foi com essa mentalidade que cheguei", disse o avançado no sábado, após levantar o seu segundo título.
Os seus números esportivos, que não se pode ignorar, apesar de terem sido registados sobretudo contra equipas menores, são quase nada em comparação com os números que deixou nos cofres do Grêmio, de volta à primeira divisão na atual temporada após um ano na Série B.
O número de sócios do clube subiu de 63 mil em 2022 para um recorde de 95 mil e a média de presenças no torneio estadual foi de 15 mil para 30 mil, disse à AFP o presidente gremista Alberto Guerra.
As vendas na loja oficial foram de R$ 9 milhões (1,7 milhões de dólares) no primeiro trimestre, quase o dobro do último recorde de todos os tempos (4,6 milhões de reais em 2018).
O volume de negócios inclui 3.800 camisas lançadas para homenagear Suárez e o Uruguai, que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, vendidas em dez dias em janeiro.
"Não venderam mais porque não havia nenhuma. A nossa loja hoje vende entre três a quatro vezes o que vendeu historicamente", explica Guerra. "Suárez tem sido nossa glória. Apesar de estar perto do fim da sua carreira, ele ainda tem muita lenha para queimar".
Rosto familiar
O "Pistolero" foi o cartão do então candidato para ganhar as eleições presidenciais do clube em novembro. Inicialmente, os representantes do jogador recusaram a oferta porque tinham como alvo a MLS, dos EUA.
"Ele até teve a oportunidade de jogar lá com Messi, com quem ele e Neymar formaram um tridente inesquecível em Barcelona", diz Guerra.
Mas a oportunidade caiu por razões financeiras e o "9" optou pelos brasileiros apesar de ter propostas financeiramente "mais atrativas" do México e da Europa, diz Guerra.
"Suárez já mostrou o impacto que teve na nossa cidade", diz Rafael Silva, um trabalhador de 33 anos do comércio electrônico que tem uma forte semelhança com o jogador.
Vestido com a camisa azul celeste e segurando os três dedos da sua mão direita, o gesto habitual do uruguaio quando marca, Silva passeia sorridente pela Arena do Grêmio.
No último sábado, os fãs não paravam de aplaudí-lo, pedindo fotografias e desejando-lhe uma boa "atuação" na final. Ele tornou-se o "Suárez da Torcida".
Nas ruas de Porto Alegre, o verdadeiro Suárez, frequentemente questionado por uma ou outra controvérsia em campo, mostrou o seu lado mais amigável: pode ser visto tomando sorvete ou fazendo compras com a sua mulher e os três filhos, numa atitude muito diferente em relação ao que se vê de jogadores em suas vidas privadas.
"Tiro o chapéu ao Suárez", disse o treinador gremista Renato Portaluppi. "Ele é espectacular, veio para tornar o Grêmio maior do que já é".
