Com técnico interino e sem Neymar, Seleção Brasileira começa novo ciclo
O craque do Paris Saint-Germain passou por uma cirurgia no tornozelo direito no dia 10 de março, em Doha, a mesma que abreviou sua participação na Copa do Mundo. Embora a cirurgia tenha sido um sucesso, Neymar provavelmente não jogará o restante da temporada.
O desfalque no amistoso contra a seleção revelação do último Mundial dá a ele um tempo para refletir sobre a continuidade com a Amarelinha. O camisa 10 voltou a questionar o futuro pelo Brasil após a derrota no Catar.
"Não fecho as portas da Seleção, mas também não garanto 100% que voltarei. Preciso analisar, pensar um pouco mais sobre tudo o que é bom para mim e para a Seleção", disse Neymar, visivelmente abalado após a derrota para a Croácia nas quartas de final, em dezembro.
A ausência confirma uma tendência que também pesou na carreira por clubes: a dificuldade dos treinadores em contar com um jogador talentoso, seja por questões físicas ou disciplinares.
Na Seleção Brasileira, esteve ausente em 21 (38%) das 55 partidas disputadas após a Copa do Mundo de 2018, incluindo as seis da Copa América 2019, oito das 17 das Eliminatórias Sul-Americanas rumo ao Catar e duas das cinco na Copa do Mundo.
Era pós-Tite
Enquanto esteve em campo, se tornou indispensável ao marcar 19 gols e dar brilho a uma Seleção que, comandada por Tite, quebrou inúmeros recordes, mas não seduziu a torcida brasileira. Mesmo assim, seus críticos não são poucos.
"Os jogadores sempre foram melhores nos seus respectivos clubes na Europa do que quando vestiam a camisa da Seleção. Deitaram e rolaram nas fracas Eliminatórias Sul-Americanas e não convenceram nos jogos principais do Mundial do Catar", escreveu Robson Morelli, editor do jornal O Estado de S.Paulo.
"De todos eles, Neymar carrega a parte mais pesada do piano. É assim porque ele é o melhor de todos. E sempre aceitou essa responsabilidade. Mas também não entregou o que se esperava dele", acrescentou.
Sem Ney e nem um técnico oficial, após a saída de Tite, o Brasil vai começar a se reinventar em Tânger contra o Marrocos, semifinalista no Catar, para tentar acabar com um jejum de mais de duas décadas sem conquistar uma Copa do Mundo. Será o único jogo que a Seleção disputará na Data FIFA.
Ramon Menezes, técnico da Seleção sub-20 que conquistou o Sul-Americano da categoria em fevereiro, está no comando interino enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolhe um técnico "de respeito" — como promete o presidente, Ednaldo Rodrigues. O dirigente espera ter um treinador antes do início das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo, marcado para setembro.
"Temos vários objetivos nos próximos anos, com Eliminatórias, Olimpíadas, Copa América e, claro, a Copa do Mundo. Hoje, me vejo recomeçando o caminho até o sonho com a Amarelinha", disse Rodrygo em declarações divulgadas pelo ge.globo.
Oportunidade para reconstrução
O atacante do Real Madrid, de 22 anos, é um dos que têm a missão de liderar o novo processo, junto com seu companheiro de equipe Vinícius Júnior. Rodrygo chegou a falar no Catar em se apresentar como camisa 10 quando Neymar, que terá 34 anos na próxima Copa, se aposentar da Seleção.
Os dois merengues fazem parte da lista de 23 jogadores convocados por Ramon, que quebrou a base de Tite. Foram apenas 10 convocados que disputaram o Mundial no Catar. Outros 10 foram convocados pela primeira vez, incluindo cinco campeões do Sul-Americano.
Da espinha dorsal, além de Rodrygo e Vini, apenas Ederson, Éder Militão, Casemiro, Lucas Paquetá e Antony permaneceram. Assim como Neymar, os capitães Marquinhos e Thiago Silva e o atacante Richarlison estão lesionados.
"Acho que é momento para oportunizar novos atletas. Os convocados mostraram uma performance muito boa nos seus clubes", disse o técnico de 50 anos. Em Tânger, podem estrear grandes promessas como o atacante Vitor Roque e o meia Andrey Santos, artilheiros do Sul-Americano com seis gols, ou destaques do Brasileirão como André, do Fluminense.
"São vários jogadores novos que vão dar a vida, ainda mais por se tratar de um início (de ciclo). Vamos tentar deixar uma boa impressão. Independente de quem vier, o Brasil tem jogadores de nível Europa. O que passou já ficou para trás na Copa do Mundo. Agora, é focar neste novo início para chegar bem em 2026", disse o meia do Fluminense.
Assim como seus companheiros, ele ainda não consegue imaginar a vida sem Neymar: "Ele é o cara, é fora da curva".