Conheça a história do 1º jogador de futebol que revelou ser homossexual
Fashanu começou a carreira no Norwich City, onde marcou 35 gols em 90 partidas. Em 1980, então com 19 anos, o filho de imigrantes nigerianos marcou o gol que colocou seu nome nos anais do futebol britânico.
Meia tcheco é apenas 5º jogador a se assumir gay no futebol atual
Aconteceu em um jogo do Campeonato Inglês entre os Canários e o Liverpool. O Norwich perdeu de 5 a 3, mas um dos gols da equipe foi a antológica raquetada de fora da área de Fashanu (se o vídeo abaixo não abre no seu celular, clique aqui).
A BBC elegeu aquele como o gol da temporada, e no ano seguinte Fashanu se transferiu para o Nottingham Forest. A negociação entrou para a história – foi a primeira vez no futebol mundial que um clube pagou 1 milhão de libras pelo passe de um atleta negro.
Mas foi no Forest, time que havia acabado de se sagrar bicampeão europeu, que a orientação sexual e a carreira de Fashanu começaram a se chocar.
Rumores de que ele frequentava bares gays na cidade começaram a circular, e o lendário (e preconceituoso) treinador Brian Clough começou a barrá-lo dos treinamentos.
Clough chegou a considerar seu jogador uma "ameaça", e o repreendia com veemência.
Em uma ocasião, Fashanu desafiou a proibição do técnico e entrou em campo para treinar de qualquer maneira. Brian Clough chamou dois policiais para retirar o jogador do treinamento à força.
Após ser vendido para o rival Notts County, o atacante, que também fez 11 partidas pela seleção sub-21 da Inglaterra, voltou a marcar gols e foi comprado pelo Brighton. No time da capital gay da Inglaterra, ele contundiu seriamente o joelho e sua carreira entrou em declínio.
Fashanu começou a pingar de clube em clube, passou pelo Manchester City (quando o clube não era rico), pelo Newcastle (idem) e pelo futebol dos Estados Unidos, além de Canadá e Escócia.
A saída do armário pelo tabloide
Em situação financeira difícil – muito porque Fashanu tentava manter um estilo de vida de jogador de ponta, quando não era mais o caso –, o atacante concordou em revelar sua homossexualidade para o mais lido tabloide britânico, o conservador The Sun.
Em troca de algo em torno de 75 mil libras, no dia 22 de outubro de 1990, Fashanu estava na capa do jornal, cuja manchete dizia: “Eu sou gay”.
Seu irmão John, que jogava pelo Wimbledon na época (e chegou à seleção inglesa), tentou dissuadi-lo de sair do armário publicamente, oferecendo a mesma quantia do The Sun. John tinha vergonha do irmão Justin e disse em uma entrevista após o “escândalo” que não jogaria no mesmo time que um homem gay.
Após a publicação da história, a mãe de Justin Fashanu parou de falar com ele. Segundo o biógrafo do jogador, o tabloide chantageou Fashanu, dizendo que publicaria a história de que ele era gay de qualquer maneira. No fim, o atacante topou ser pago pelo jornal e deu sua versão dos fatos.
Fashanu continuou frequentando as páginas dos tabloides por um tempo para ganhar dinheiro. Ele só sumiu da mídia quando vendeu uma história falsa ao The Sun, dizendo que havia tido relações sexuais com dois parlamentares do Partido Conservador.
Em 1997, Fashanu encerrou sua carreira de jogador em um time amador da Nova Zelândia.
A acusação e o suicídio
Em 1998, Fashanu havia se mudado para Maryland, nos EUA, e virado treinador de futebol. Em uma festa na sua casa, ele se envolveu com um adolescente de 17 anos, que mais tarde o acusou de assédio. Após ser interrogado pela polícia de Maryland (estado onde, na época, relações homossexuais eram ilegais), o ex-jogador do Norwich retornou à Inglaterra.
Em 3 de maio de 1998, Fashanu foi encontrado morto, enforcado em um fio amarrado a uma viga de um armazém de uma rua sem saída de Londres.
Dias antes, a polícia americana havia expedido um mandado de prisão contra ele. Em seu bilhete de despedida, Fashanu disse que não teria um julgamento justo nos Estados Unidos por ser homossexual.
Ele alegou ainda que a relação com o adolescente havia sido consensual e que estava sofrendo represália por não ter dado dinheiro ao garoto.
“Este parece ser um mundo muito difícil”, escreveu também Fashanu no bilhete achado pela polícia londrina, que também encontrou o jogador com os pulsos cortados. “Finalmente vou achar a paz”, terminava o texto.
Vinte e quatro anos se passaram para que outro jogador profissional de futebol, o alemão Thomas Hitzlsperger, criasse coragem para sair do armário.
A história de Fashanu, embora triste, é também de esperança. Em 2020, ele entrou para o Hall da Fama do futebol inglês, e em 2017 sua saga virou um documentário na Netflix do Reino Unido. Sua história hoje em dia inspira torcedores LGBTQ+ e jogadores gays.
E é uma história de uma face do futebol que todos temos que encarar.