Deschamps: o mentor por trás do sucesso da França em análise pelo Flashscore
O Flashscore conversou com Filipe Frossard Papini, criador do blog C'Est Le Foot, especializado em futebol francês. No centro do diálogo, a importância de Deschamps para a construção desta França, que se redescobriu no Catar, inclusive mudando sua formação tática em relação a apresentações em competições recentes, como a Euro e a Liga das Nações.
"Antes mesmo de a Copa começar, era sabido que a seleção francesa tinha um dos melhores elencos do mundo, se não o melhor de todos. Claro que os cortes deixaram algumas dúvidas em relação à continuidade do projeto, eram peças importantes. A gente consegue levantar cinco nomes que eram titulares absolutos. E outros, se não fossem titulares absolutos, brigariam pela vaga. Kimpembe e o Nkunku, principalmente, seriam os dois reservas/titulares. Mas Kanté, Pogba e Benzema eram os caras que certamente seriam titulares incontestáveis, mesmo com jogadores como Tchouaméni, Rabiot e Giroud fazendo uma bela Copa", salientou Papini.
Para o especialista em futebol francês, o segredo deste sucesso está no trabalho de Deschamps, que consegue monitorar com precisão as peças que o futebol francês oferece, encontrando novos nomes e peças capazes de suprir as ausências. Dentro deste leque de motivos, está o fato da França ser capaz de produzir jogadores de qualidade internacional em grande escala.
"O principal motivo de sucesso da França é o trabalho que Didier Deschamps vem fazendo, finalizando o segundo ciclo na seleção, talvez partindo para meio ciclo ainda. Ele deve continuar na seleção pelo menos para a Euro. Ele é um cara que conhece a seleção com a palma da mão e, de fato, tem um elenco muito recheado para poder trabalhar. Talvez hoje França, Brasil, puxando um pouco mais, forçadamente, Portugal e Inglaterra, são os países que mais têm opção em caso de corte. E a França vem demonstrando que essas opções estão se tornando válidas", analisou Filipe Papini.
Um treinador que reinventa seu time
Em conversa com o Flashscore, o responsável pelo blog C'Est Le Foot destacou que, na sua opinião, as peças que Deschamps possuía em 2018 eram ainda melhores no quesito reposição e muitas não foram convocadas. Desta feita, o comandante poderia ter trazido ainda outros nomes para o Mundial atual que o acompanharam durante este ciclo e o anterior.
"Confesso que na Copa de 2018, a França tinha nomes mais fortes que ficaram de fora daquela convocação do então título francês. E, neste ano, é muito elenco ainda, você vê nomes ali que talvez não fossem tanta unanimidade. No ataque, o Marcus Thuram e o Kolo Muani, por exemplo, que eram jogadores que alguns críticos de futebol francês, especialistas, ou até mesmo um francês, não chamaria. Existem nomes mais fortes ou nomes que já estiveram em outros momentos, como o Ben Yedder, do Monaco, que poderiam estar nessa listagem, o próprio Fekir, que foi campeão em 2018, jogadores que estiveram com o Deschamps em outras oportunidades e poderiam estar neste elenco atual", destacou.
Porém, a capacidade de Deschamps encontrar saídas e reinventar seu próprio time foi mais uma vez constatada nesta Copa do Mundo, com mudanças fundamentais, como a presença de Griezmann atuando como um meia. Papini observa este movimento de Deschamps, relembrando ainda do feito que o comandante pode estabelecer, ganhando seu segundo título como treinador e também com um no currículo como jogador.
"O Deschamps, como eu disse, é um cara que conhece melhor do que ninguém a seleção. Ele é um treinador que tem uma fluidez muito orgânica em relação ao sentido tático que ele consegue dar ao time, a variedade que ele consegue impor de um jogo para o outro. Se a gente for parar para pensar como a França jogou a última Euro e a Liga das Nações, é um time absolutamente diferente da equipe que está atuando na Copa do Mundo.
"É quase como se ele estivesse usando essas competições como uma espécie de treinamento para experimentar, como se fosse um laboratório, sabendo o que pode ou não fazer, seguindo com o que tem, sabendo as peças que possui. Subestimado por muitas pessoas, ele não aparenta ser um cara genial, mas o trabalho demonstra isso. Se ele ganhar esse título, ele já está na história como dos poucos jogadores e treinadores que ganharam a Copa. Um bicampeonato seguido é a marca de um trabalho irretocável", concluiu.