Entrevista com Luis Fernández: "Sem Messi, a Argentina já teria sido eliminada"
Flashscore: Que análise o senhor faz da exibição da França diante do Marrocos?
Luis Fernández: Foi bom termos alcançado o objetivo de estar entre os últimos quatro e, agora, estarmos novamente na final. É uma grande caminhada da seleção francesa. Apesar de tudo, vi uma França um pouco dominada, mas capaz de sair daquela camisa de força e resolver o jogo. Mostraram que queriam a classificação, mas temos de tirar o chapéu para o Marrocos, que chegou até as semifinais e provocou reais problemas à seleção francesa.
Esse domínio de Marrocos não pode ter sido uma estratégia de Didier Deschamps?
Não acredito que possamos colocar uma seleção como a francesa jogando no contra-ataque. Mas não foi só isso, até nos duelos individuais a França perdeu. Houve qualidade com a bola, qualidade no passe e eficácia. Já contra a Inglaterra demos a bola ao adversário e por sorte o Harry Kane perdeu o segundo pênalti. É uma questão de equilíbrios e desequilíbrios. Também houve algumas mudanças devido às ausências de Rabiot e Upamecano. Temos uma equipe que é muito forte na transição ofensiva, com Mbappé, com Griezmann – que tenho gostado muito de ver neste Mundial –, e o Giroud também está muito motivado. Fazemos o que temos de fazer e temos feito bem. Estou feliz por termos chegado à final contra a Argentina.
Griezmann tem sido a grande figura de França neste Mundial, graças às suas polivalência e amplitude no jogo. Que análise faz do atual desempenho do jogador?
É o melhor jogador da seleção no Mundial. Deu um passo à frente como líder, como organizador, mostra enorme estado de espírito e faz um enorme esforço defensivo para ajudar os seus companheiros. Deu duas assistências no jogo com a Inglaterra, está numa fase incrível. Teve dificuldades no passado, mas está voltando ao seu nível, sobretudo em um coletivo como este, na seleção. Ele preenche aquela missão à perfeição.
Está otimista para a final contra a Argentina, contra este Lionel Messi?
Esta equipe da Argentina tem uma grande individualidade chamada Lionel Messi. Temos de ter muito cuidado porque está numa forma excepcional. Messi é magnífico, o vi desde o início da temporada no PSG, está muito bem preparado, preparou-se para chegar ao Mundial no topo da sua forma. Ele lidera a missão argentina porque quer prestar uma homenagem a todo o seu povo. Depois ainda há o coletivo da Argentina. Mas se conseguirmos parar Messi, controlá-lo, teremos meio caminho andado para vencer o Mundial. Não podemos subestimar os companheiros de equipe dele, mas temos de ter especial cuidado com Messi, levá-lo muito a sério, porque quando o vemos jogar pela Argentina, é um verdadeiro prazer.
Exemplo disso foi o terceiro gol contra a Croácia?
Não foi só o terceiro gol. Desde o início da Copa que Messi tem estado muito acima dos outros. Sem Lionel Messi a Argentina já teria sido eliminada. Ele faz a diferença, ele acelera o jogo quando pega na bola. Está provando no Catar o bom começo que teve no PSG e a boa forma a que se propôs chegar neste Mundial.
Kylian Mbappé é, junto com Messi, o artilheiro do Mundial com cinco gols. Espera que ele possa fazer a diferença no domingo?
Tem de ser muito melhor do que foi contra o Marrocos, apesar de não ter ficado longe de marcar o dele, sobretudo porque participou da jogada dos dois gols. Talvez não tenha estado tão bem por causa da marcação apertada, já tínhamos visto algo assim contra a Inglaterra. Mas ele está lá e encara os adversários. Quatro anos depois do seu primeiro Mundial, está mais maduro e ganhou confiança para ter sucesso na sua segunda final.
Em um período de 24 anos a seleção francesa joga a sua quarta final de Copa. Será a França a melhor seleção do século XXI?
Depende do ponto de vista. Ouço isso muitas vezes, mas o que eu vejo é que quase todos os nossos jogadores atuam no futebol estrangeiro. E isso já tinha acontecido tanto em 2018 quanto em 1998. Neste Mundial, 80% dos jogadores convocados não jogam na Ligue 1. Mas isso permite que eles cresçam, amadureçam e ganhem confiança, e isso está evidente para todos. Daí que não possamos dizer que o campeonato francês é o melhor, porque os jogadores franceses estão melhorando os campeonatos ingleses, espanhóis, alemães e italianos.