Especialista em acesso lembra de intercâmbio no Arsenal: "Acharam que eu era gato"
Este foi o quarto que ele conseguiu, sendo três da Série B pra Série A com Vitória, Avaí e Cuiabá.
No Campeonato Paulista de 2022, Luiz Gustavo defendeu as cores do Santo André, foi capitão e destaque técnico da equipe. Uma das experiências mais enriquecedoras da sua trajetória aconteceu no começo de carreira, quando integrava a base do Mirassol.
Com 14 anos, ele jogava no time sub-15 e chamou atenção de representantes do Arsenal, sendo convidado para ficar um mês no clube de Londres fazendo um intercâmbio. A ideia era tentar aproveitar ao máximo a experiência, conhecendo de perto a realidade de um clube de alto nível, incluindo a vivência próxima do time profissional.
Foi em Londres que ele se deparou com um dos momentos mais inusitados da sua vida, despertando a desconfiança da direção do Arsenal. O clube imaginou que poderia estar diante de um "gato", termo usado para jogadores que atuam, de forma irregular, em categorias abaixo da que deveriam estar. Tudo por causa do bom desempenho que ele apresentava ao lado de atletas mais velhos.
Depois de começar a carreira no Mirassol, foi para o Palmeiras e passou por Oeste, Ferroviária, Guarani e Santo André. No Rio de Janeiro, jogou pelo Vasco, onde criou certa identificação com a torcida.
Nesta entrevista exclusiva ao Flashscore, Luiz Gustavo lembra da desconfiança da diretoria do Arsenal, do breve contato com Arsène Weger e jogadores que ele tinha como ídolos e de como essa experiência segue sendo importante até os dias de hoje.
Confira:
Pode nos contar melhor esse caso da suspeita de ser "gato" durante sua passagem pela Inglaterra?
Eu estava treinando muito bem no Arsenal, e eles desconfiaram que eu era "gato" porque na época que eu fui não tinha base. Tinha o Grupo A, que jogava a Champions League, a Premier League, e o Grupo B, que tinha garotos de 16 anos para cima. Como eu tinha 14 anos e estava treinando bem com os outros de 16, eles desconfiaram que tinha algo de errado. Eles falaram para os meus empresários que queriam fazer um exame de osso para comprovar minha idade.
Antes de fazer o exame, eu liguei pro meu pai, chorando, perguntando se eu era gato. Eu falei: “Pai, o pessoal quer fazer exame em mim, eles estão falando que eu sou gato, querem fazer exame de osso em mim. Se eu for gato, me fala logo, senão eu nem faço o exame, eu vazo daqui.” Ele começou a falar no telefone: “Você acha, moleque, você é besta? Pode fazer o exame, você tem 14 anos, sim, não tem nada disso aí não!
Só que eu já estava chorando, né? (Risos) Falei: “Pai, não mente para mim, pelo amor de Deus, porque isso vai me queimar no futebol, não pode.” O pai então me tranquilizou e falou: “Fica quieto, moleque, pode fazer esse exame aí que você não tem nada não!”. Foi uma coisa que ficou marcada para mim. Eu desliguei o telefone, fiz o exame e não deu em nada mesmo.
Ficou surpreso com a chance de passar alguns dias na Inglaterra?
Sim, fiquei bastante surpreso porque naquela idade passar um período na Inglaterra era uma coisa gigantesca, muito maior do que é hoje, principalmente num grande clube que é o Arsenal. Era muito novo, não tinha experiência nenhuma, não sabia exatamente o tamanho daquela oportunidade, mas fiquei feliz demais.
O que pesou para que essa oportunidade acontecesse?
Pesou que eu estava numa categoria acima no Mirassol, jogava no sub-15. Eu fiz um campeonato muito bom, como capitão, me destaquei e fui muito bem, graças a Deus. Acho que foi isso, fiz um campeonato disputadíssimo, acima da média pra minha idade.
Alguma outra lembrança importante ou curiosa destes dias por lá?
Uma lembrança curiosa é que a gente dividia o vestiário com todos os jogadores que estavam lá na época. Adebayor, Fábregas, Eduardo da Silva, Denilson… e também o treinador Arsène Wenger, que foi lá e deu a mão para a gente. Não sabia nem entendia o inglês, mas ele falou um pouco com a gente. Tinha um tradutor, ele passou palavras de motivação, deu bastante força. Essa foi a parte mais curiosa, dividir o vestiário com jogadores que a gente só jogava no vídeo game. Foi uma experiência única para mim.
Quais os maiores aprendizados que carrega com você até hoje?
Os maiores aprendizados são a disciplina, o foco, saber aonde quer chegar e a determinação. Acho que isso é fundamental na carreira de todo atleta, de todo jogador. Isso que torna os jogadores diferentes e capazes de alçar voos maiores. Esses são os aprendizados que levo para minha vida e carreira, a persistência para alcançar os objetivos.
Teria feito algo de diferente para ficar mais tempo na Inglaterra e aproveitado mais esta oportunidade?
Com certeza. Na época não tinha noção da importância que era estar lá, em um clube como o Arsenal, mas com a cabeça de hoje, eu teria feito diferente. Teria aproveitado a oportunidade, teria ficado lá e aproveitado tudo o que fosse possível, que com certeza iria ser parte fundamental para minha carreira na Europa. Infelizmente não aconteceu, a gente tem que levantar a cabeça, trabalhar de novo para chegar lá. Vida que segue, se um dia não chegar, serviu de aprendizado e a experiência valeu muito a pena.
Acredita ser uma oportunidade que aparece para poucos jovens?
É uma oportunidade que aparece para poucas pessoas. O futebol hoje mudou muito, existe um preparo físico e também mental para os atletas desde cedo, até por isso os jovens hoje em dia estão sabendo aproveitar melhor as chances. Como eu disse, infelizmente na época eu não tinha noção dessa oportunidade e infelizmente acabou passando. Se eu tivesse esse entendimento, teria ficado lá e a minha carreira com certeza teria acontecido na Europa.