Fernando Alonso se abre sobre passado, presente e futuro na Fórmula 1

O piloto falou sobre vários assunto, incluindo Adrian Newey, sócio-gerente técnico da equipe e grande esperança para a tão sonhada 33ª vitória. 

De Michael Schumacher a Max Verstappen, você corre na F1 há mais de duas décadas. Você se vê como um elo entre diferentes gerações esportivas?

Sim, com certeza. Eu corri com Jos Verstappen nas minhas duas primeiras temporadas na Fórmula 1 e agora estou correndo com Max. Acho que a geração mais jovem me via como um pouco mais velho, porque tenho certeza que os pais falavam sobre meus campeonatos mundiais, minhas vitórias na Renault, McLaren e Ferrari. E quando você tem 12 ou 13 anos de idade, pensa: 'OK, OK, não quero ouvir esse tipo de coisa, o presente é diferente, são outros pilotos que estão vencendo agora. Você está vivendo no passado'.

Mas a boa temporada que tivemos no ano passado, com todos os pódios que conquistamos na Aston Martin, é como se tivéssemos nos conectado a uma nova geração de fãs. Nós nos conectamos com uma geração mais jovem, novos fãs que conheceram o esporte por meio de Drive to Survive, da Netflix.

Qual foi a importância do ano passado para sua carreira?

O ano passado foi um alerta para essa geração mais jovem. De repente, foi como se disséssemos: 'Uau, esse garoto, Fernando Alonso, ainda está aqui, ainda é competitivo e eu quero apoiá-lo. O que meus pais disseram sobre ele, tem que ser verdade'. Agora, vejo uma verdadeira mistura de gerações, com 20 anos de diferença, que me apoiam e se interessam pela Fórmula 1. Eu os vejo nos aeroportos, nas ruas, na pista, no meu museu. É muito difícil em qualquer esporte encontrar um atleta que tenha essa conexão com duas gerações muito diferentes de fãs.

Há pessoas que me acompanharam desde os anos 2000, que me viram ganhar aqueles campeonatos mundiais e agora seus filhos e filhas também estão assistindo à Fórmula 1 e torcendo por mim. Eles estão assistindo às corridas com seus pais. É incrível pensar que eu sou esse vínculo, essa conexão entre eles em termos de paixão pelo esporte. É uma história maravilhosa poder dar a volta por cima.

E quanto à sua carreira no automobilismo? Não se pode correr para sempre.

É verdade que nada permanece igual. As coisas seguem seu curso e o que aconteceu no passado é fácil e rapidamente esquecido. É como todos aqueles jogadores do Real Madrid que eu idolatrava quando era criança, agora você vê a equipe atual do Real Madrid e eles não existem mais. Eu adoraria que meu nome vivesse um pouco mais do que a maioria, mas sei que será extremamente difícil porque vivemos no presente, não no passado. As coisas seguem seu curso. É apenas o caminho natural das coisas.

Como fazer para que seu nome dure mais do que a maioria?

Tem coisas que me ajudarão a permanecer no presente, a ser lembrado por um pouco mais de tempo. Tenho uma marca de kart com meu nome, a FA Alonso Kart, que é usada nos principais campeonatos do mundo e pelos campeões mundiais de kart. Criei a A14 Management para orientar e desenvolver jovens pilotos talentosos e tenho o museu e a pista de kart em Oviedo.

Quando renovei meu contrato com a equipe no início do ano, foi mais do que apenas dirigir. Ele me leva até a temporada de 2026 e os novos regulamentos técnicos do esporte. E, a partir daí, veremos quantos anos mais de pilotagem teremos.

Quando eu parar de pilotar, quero continuar fazer parte da equipe para que tudo o que aprendi, toda a minha experiência, tudo o que passei em mais de 30 anos de automobilismo, continue vivo e não morra lentamente com o passar dos anos. 

A chegada de Adrian Newey à Aston Martin muda o momento em que você se vê correndo na Fórmula 1?

Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei sobre isso. Adrian chegará em março do ano que vem e ficará até 2026, então veremos como me sinto no final de 2026 e se posso continuar. Será uma decisão que tomaremos juntos como equipe, com Lawrence (Stroll) e com Adrian.

Para mim, é uma oportunidade incrível. Pilotar um dos carros de F1 de Adrian é algo muito especial, mas também porque, quando se trabalha com pessoas do calibre de Adrian, é possível aprender muito. É extremamente gratificante. 

Você tem competido com Adrian há muitos anos e agora, finalmente, vocês estarão na mesma equipe. Qual foi a sua reação quando soube que iria para a Aston Martin?

Eu esperava que Adrian se juntasse a nós quando ele decidiu deixar sua equipe anterior. No início, você sonhava com essa possibilidade. Houve alguns rumores de que ele estava se juntando a outras equipes e eu perguntei a Lawrence, Martin Whitmarsh e a várias pessoas da equipe se tínhamos entrado em contato com Adrian.

Até acabei entrando em contato com ele. Consegui o número de telefone e enviei uma mensagem de texto: 'Que surpresa. Se você achar que gostaria de um novo desafio, eu adoraria trabalhar com você um dia'.

E então descobri que Adrian e Lawrence estavam em contato. Lawrence me manteve atualizado sobre as negociações. Quando Adrian decidiu se juntar a nós, fiquei muito feliz, mas também muito orgulhoso por ele querer trabalhar conosco e por acreditar em nosso projeto.

Isso também mostra o que Lawrence pode fazer, só ele pode fazer certas coisas. Não há limites para sua paixão pelo automobilismo e sua visão da Aston Martin. Eu nunca vi nada igual, alguém tão determinado, tão apaixonado. Ele é uma inspiração para todos nós da equipe. É um privilégio trabalhar com ele.

Você fala de Lawrence como uma inspiração e mencionou anteriormente os jogadores do Real Madrid que idolatrava quando era mais jovem. Ele também é uma figura inspiradora para muitas pessoas, como é isso?

Ele é especial, mas muitas vezes você não percebe o que significa para as pessoas até passar por momentos com fãs muito emocionados ou ouvir histórias incríveis de apoio. É de abrir os olhos. Você vê o respeito que eles têm por você, o quanto sabem sobre você e como você os inspira a serem melhores ou a conquistarem algo.

Você vê pessoas que estavam em um momento difícil da vida e veem sua carreira e se inspiram nela, veem que você nunca desistiu e escrevem uma carta para contar a história delas e, quando você a lê e ouve essa história, é quando percebe o quanto você pode significar para outra pessoa.

Isso meio que o desperta, porque você está tão concentrado na próxima corrida, na próxima reunião com seus engenheiros, no próximo elemento de desempenho que tornará o carro um centésimo de segundo mais rápido. É uma busca sem fim, acrescentando desempenho ao carro, tornando-se um piloto melhor, e você está tão concentrado nessas coisas que não consegue enxergar o suficiente para perceber o impacto que teve e o quanto significa para as pessoas.

Vamos voltar a Adrian Newey por um momento. Onde quer que ele vá, o sucesso o acompanha: ele é um vencedor em série. Ter isso finalmente ao seu lado faz com que você sinta que sua 33ª vitória no Grande Prêmio, e talvez até mesmo um terceiro título, está mais perto de se tornar realidade?

Bem, a vitória está definitivamente mais próxima com Adrian do que sem ele, isso é certo. Ele tem um histórico incrível de sucesso na Fórmula 1. Estou ciente da minha situação e espero poder estar lá para pilotar aquele carro veloz que Adrian produz, mas se não chegar a tempo de pilotá-lo, ainda assim vou aproveitar, porque ainda farei parte da equipe e dessa jornada emocionante com a Aston Martin Aramco.

Você pensa muito sobre a vitória número 33?

Já pensei nisso e seria muito importante. Vencer outra corrida de Fórmula 1 depois de todos esses anos seria uma verdadeira declaração: nunca desista, sempre lute por seus sonhos, siga sua paixão, faça o que você quer fazer.

Significaria muito para mim, mas também pode significar muito para o esporte em si. E pode significar muito para muitos jovens pilotos, se eles estão passando por um período sem sucesso, não importa, o que importa é que você está fazendo o que ama. Se você continuar tentando dar o seu melhor, continuar melhorando, continuar se esforçando e se puder estar no lugar certo na hora certa, o sucesso pode chegar.

Confira a entrevista completa com Fernando Alonso

A vitória número 33 pode até ajudá-lo a ser lembrado por mais tempo...

Pode ser! Estamos fazendo tudo o que podemos na equipe para que isso aconteça. Será muito especial se conseguirmos. Será especial para mim, especial para a Aston Martin Aramco e especial para recompensar todas as pessoas que me apoiaram durante minha carreira. Vamos ver...