Exclusiva com Marcelo Salazar: dirigente brasileiro do Al Nassr fala sobre CR7
Ex-jogador da seleção portuguesa de futsal, Marcelo Salazar (que nasceu no Recife, mas tem dupla cidadania) foi também técnico interino e assistente de Mano Menezes e Péricles Chamusca na equipe saudita, que está próxima de chegar a um acordo com CR7.
Antes de mais nada, Marcelo, como é que um jogador de futsal se torna diretor esportivo de um dos maiores clubes da Arábia Saudita?
Durante a minha carreira de jogador de futsal fiz cursos de gestão esportiva, sou formado em Educação física no Brasil. Sempre me preparei para o que ia acontecer quando tivesse de colocar um ponto final na carreira de atleta. Quando parei de jogar decidi tirar os meus cursos, sou um treinador licenciado. Comecei como preparador físico e vim para Arábia Saudita, em 2018, já como assistente do Péricles Chamusca. Depois apareceu o convite do Al Nassr com o Mano Menezes, mas as coisas não correram bem e passamos por um período complicado, com vários treinadores. No ano passado, em janeiro de 2022, chegou o Miguel Ángel Russo e o presidente decidiu fazer mudanças na estrutura também, aceitando uma dica do Pedro Emanuel (treinador português que estava de saída). Quando ele foi embora disse-me que eu o ajudei muito dentro de campo, mas que podia ajudar ainda mais o clube fora dele. Falo cinco idiomas, tenho um conhecimento muito bom do campeonato e falo a língua dos treinadores, tenho o curso. O presidente resolveu aceitar a opinião. No fundo, acabou que foi graças ao Pedro Emanuel.
E quais são as ideias do Marcelo Salazar para o Al Nassr?
O grande objetivo é voltar a ser campeão. O último campeonato que ganhamos foi em 2018/19. Desde então, o Al Hilal, o nosso maior rival, venceu todas as três edições. Atravessámos também algum período de instabilidade depois da saída do Rui Vitória (temporada 2020/21). Tivemos muitos treinadores, Alan Horvat, Mano Menezes, Pedro Emanuel, Miguel Ángel Russo, eu também estive no banco em seis jogos (conseguiu quatro vitórias). Agora conseguimos trazer o Rudi Garcia, um treinador de grande calibre que nos dá condições de voltar a ser campeões e vencer todas as competições em que entramos. É essa a nossa grande ambição.
E nessa ambição aparece Cristiano Ronaldo?
Não estou autorizado a dizer nem que sim, nem que não (risos). Vamos aguardar e ver o desenrolar das coisas até ao final do ano. Como vocês sabem esta é uma negociação que tem uma magnitude enorme, não só para o clube, mas para o país e para o futebol mundial, e que tem de ser conduzida por instâncias superiores. O que eu posso dizer é que o Cristiano Ronaldo é um dos melhores da história do futebol. Sempre foi um exemplo para mim enquanto atleta, pela vontade que mostra de vencer. E depois, como cidadão português, torci sempre por ele. Mas na hora certa o futuro vai ser revelado.
Ancelotti, por exemplo, disse que não era o campeonato ideal para Ronaldo, alegando pouca competitividade. Como é que vocês olham para estas críticas?
Criticar o que se ignora é muito fácil. Eu já estou aqui há cinco anos e todos os jogadores com os quais conversei ficam positivamente surpreendidos quando aqui chegam, sobretudo pelo nível do campeonato. Aconteceu com o Luiz Gustavo, que é um brasileiro internacional e já venceu a Liga dos Campeões pelo Bayern. É normal para quem não conhece. Já quando o David Ospina se mudou para cá disseram na Colômbia que era o passo errado, mas a Arábia Saudita mudou muito. Até mesmo viver em Riad e com as famílias tem sido uma agradável surpresa para os jogadores, com as escolas e tudo o aqui temos. A isso juntamos um nível esportivo alto.
É um sinal deste nível a Arábia Saudita ter sido a única seleção capaz de vencer a Argentina na Copa do Mundo?
Desde a chegada do Turki Al-Sheikh como ministro do esporte, em 2017, houve uma grande mudança. Primeiro foi logo a possibilidade de ter sete estrangeiros, o que fez com que o nível da liga aumentasse imediatamente. É o campeonato mais forte do continente asiático neste momento. Prova disso é que temos equipes regularmente nas semifinais e finais da Liga dos Campeões Asiáticos. Basta ver também o exemplo do Al-Faisaly em 2021, que caiu de divisão, mas está nas oitavas de final da Champions. E por isso também a seleção nacional cresceu, basta ver a diferença entre 2018 e 2022. Não passamos (no Mundial de 2022), é certo, mas vencemos a Argentina com o Messi, não existia essa desculpa de ele não estar, fizemos um bom jogo com a Polônia e com o México foi mais aberto.
Voltar a ser treinador está nos seus planos?
É uma boa pergunta. Não quis renovar por mais mais do que um ano. Tive convites para ser treinador, mas optei por permanecer no Al Nassr porque queria dar este tempo para conhecer melhor a função e não queria sair daqui sem ser campeão. Este ano tenho a certeza que vai ser uma temporada vitoriosa. Estou bem, cada dia vou aprendendo mais e vou deixar a decisão para o meio de 2023, dependendo logicamente das possibilidades que vão surgindo.