Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Exclusivo: Liga Holandesa baniu sintético por competitividade e não por receio de lesões

Alex Xavier
Gramado do Excelsior, o último sintético da 1ª divisão dos Países Baixos
Gramado do Excelsior, o último sintético da 1ª divisão dos Países BaixosExcelsior FC
A Eredivisie resolveu banir gramado sintético na liga a partir de 2025 por querer igualar as condições que times holandeses encontram em torneios continentais, explicou a liga ao Flashscore nesta sexta-feira (16).

Todos os clubes da primeira divisão dos Países Baixos serão obrigados a jogar em grama natural ou gramado híbrido "de alta qualidade" a partir da temporada 2025/26.

O Flashscore ouviu também a Federação Holandesa de Futebol e a UEFA a respeito da impopularidade da grama artificial para entender a decisão do país.

O tapetinho do estádio do Excelsior, em Roterdã
O tapetinho do estádio do Excelsior, em RoterdãExcelsior FC

Destrinchamos também as metanálises das pesquisas sobre o impacto do sintético na saúde dos atletas.

Veja abaixo o que dizem o futebol europeu e a ciência sobre o assunto:

Por que a Eredivisie vai banir o sintético?

"Essa decisão foi tomada com base na perspectiva de poder oferecer as mesmas condições que são usadas nos jogos europeus. Dessa forma, aumentamos as chances de os clubes holandeses terem um bom desempenho nas competições europeias de clubes", explicou Arnoud Schonis, diretor internacional da Eredivisie.

São poucos os clubes de elite da Europa que ainda jogam em gramado artificial.

Perguntado se a decisão foi baseada em estudos científicos sobre o tema, Schonis afirmou que ainda não é possível afirmar que o sintético cause mais problemas aos atletas.

A Johan Cruyff Arena, do Ajax, tem gramado híbrido
A Johan Cruyff Arena, do Ajax, tem gramado híbridoProfimedia

"Há alguns estudos que nós e a KNVB (Federação Holandesa de Futebol) conhecemos, mas não todos", respondeu.

"A KNVB espera lançar um estudo em conjunto com uma universidade com o objetivo de reunir todas as pesquisas disponíveis que já foram realizadas. Não apenas análises em que diferentes tipos de gramados são comparados, mas principalmente as características técnicas esportivas que esses gramados significam para o corpo do jogador. Com isso, devemos ter uma visão melhor das possíveis lesões", acrescentou o diretor.

De acordo com a KNVB, houve "muitas reclamações" de jogadores sobre a grama artificial desde que ela foi estabelecida no futebol profissional do país, há 20 anos.

Este tipo de relvado sempre foi impopular entre os atletas "entre outras coisas, porque (para eles) a bola quica de forma diferente e ocorrem muitas lesões", explicou Daan Schippers, assessor de imprensa da KNVB.

"Na eleição anual do sindicato dos jogadores sobre os melhores campos do futebol profissional, os clubes de grama artificial invariavelmente terminam em último lugar", acrescentou Schippers.

A Eredivisie disse ao Flashscore que também está "familiarizada com o desejo da maioria dos jogadores de preferir jogar na grama natural".

"Alguns jogadores sentem dores musculares por um período mais longo depois de jogar em um campo de grama artificial, mas isso ainda não foi comprovado", afirmou Arnoud Schonis.

Fábrica de grama artificial no Vietnã, uma das autorizadas pela FIFA
Fábrica de grama artificial no Vietnã, uma das autorizadas pela FIFACCGrass

O que diz a UEFA sobre o sintético?

"A grama artificial pode ser usada para jogos em locais que sediam competições oficiais da UEFA, desde que atenda aos requisitos do Programa de Qualidade da FIFA", afirmou a assessoria de imprensa da entidade.

Pergunta se a UEFA desencoraja o uso da grama artificial ou se pretende baní-la em breve, a assessoria apenas respondeu que "a UEFA insiste que todos os locais que tenham grama artificial devem ter o certificado correto em vigor".

Pasta derretida do sintético do Allianz Parque, do Palmeiras
Pasta derretida do sintético do Allianz Parque, do PalmeirasReprodução/Twitter @ge

E o que diz a ciência sobre a grama artifical?

Há mais de 1,4 mil artigos na literatura científica investigando o efeito da grama artificial na saúde e no físico dos atletas.

A maioria destas pesquisas tem foco nos esportes americanos, e muitos divergem sobre o tema pois:

• Diferentes estudos analisam diferentes tipos ou geração de grama

• Via de regra, os estudos consideram diferentes tipos de contusão (lesões sem contato entre atletas, lesões nos membros inferiores, lesões após impacto com a superfície, etc.).

• O número e as incidências das lesões também variam de pesquisa para pesquisa

Quando discrepâncias assim acontecem, os pesquisadores se voltam para a metanálise destes estudos todos para descobrir qual a melhor conclusão atual sobre o tema (a metanálise é basicamente o compilado de todos os estudos) – que é exatamente o que a Eredivisie anunciou ao Flashscore que vai fazer em breve.

Fabricação de grama sintética na CCGrass, no Vietnã
Fabricação de grama sintética na CCGrass, no VietnãCCGrass

A metanálise mais recente disponível no Google Scholar é de julho do ano passado.

Ela foi conduzida por pesquisadores de diversas universidades da Finlândia em cima de 22 dos mais completos estudos que tratam da "Incidência de lesões de futebol sofridas em gramado artificial em comparação com grama e outras superfícies de jogo".

E a conclusão dos cinco cientistas no artigo publicado na prestigiosa The Lancet é a seguinte:

• Homens (11 estudos) e mulheres (5 estudos) tiveram menor incidência de lesões na grama artificial

• Atletas profissionais tiveram incidência menor de lesões (8 estudos) na grama artificial

• Não houve evidência de diferenças na incidência de lesões em jogadores amadores (8 estudos)

• A incidência de lesões na pélvis/coxa (10 estudos) e no joelho (14 estudos) foi menor na grama artificial

Taxas de incidência de lesões no sintético em comparação com outras superfícies por jogos e sessões de treinamento
Taxas de incidência de lesões no sintético em comparação com outras superfícies por jogos e sessões de treinamentoKuitunen, Immonen, Pakarinen, Mattila e Ponkilainen

"A incidência geral de lesões no futebol é menor na grama artificial do que na grama natural. Com base nesses resultados, o risco de lesões não pode ser usado como argumento contra a grama artificial quando se considera a superfície de jogo ideal para o futebol", concluíram os pesquisadores finlandeses.

"Revisões sistemáticas e meta-análises anteriores incluíram todos os esportes praticados em gramado artificial e constataram maior incidência de lesões quando o futebol americano foi incluído", acrescentou a análise.

"No entanto, não identificamos nenhuma revisão sistemática anterior que tivesse focado nas lesões no futebol em gramados artificiais e fornecido uma síntese estatística", ponderaram eles.

O Super Bowl foi jogado em gramado natural
O Super Bowl foi jogado em gramado naturalAFP

Na NFL o bicho pega

A liga de futebol americano tem um índice de contusão por partida muito mais alto que o futebol (em todas as superfícies de jogo).

Por lá, há muitos estudos que alegam que, sim, há mais lesões no artificial, e o movimento anti-sintético tem a adesão de 92% dos jogadores da NFL.

Um problema é que grande número destas pesquisas são financiadas por empresas de sintético ou associações de grama natural, como o tweet a seguir:

Os números mais recentes da própria NFL jogaram, porém, um pouco de água fria neste movimento dos atletas.

Os dados recém-divulgados pela liga mostram que o número de lesões na última temporada foi "praticamente o mesmo" nos dois tipos de gramado, após anos de uma pequena discrepância favorável à grama natural.

Se ainda não há consenso sobre o efeito do sintético na saúde, nos Estados Unidos a reclamação dos atletas trouxe mais pesquisas sobre o tema na última décadaa, além de melhorias na qualidade do gramado artificial.

No futebol, vemos o mesmo caminho, e em breve a Federação Holandesa e ciência trarão respostas mais definitivas sobre os tapetinhos.