Faltam 10 dias para Paris 2024: conheça a incrível saga do 1º ouro da história do Brasil
O feito veio em 3 de agosto de 1920 nos Jogos de Antuérpia, na Bélgica, na primeira participação brasileira em uma Olimpíada.
O atleta que conseguiu o ouro histórico foi um ex-militar chamado Guilherme Paraense, que ficou com a primeira colocação da prova de pistola de tiro rápido 25m 60 tiros.
Ele garantiu o ouro ao somar 274 pontos na competição, apenas 2 à frente do norte-americano Raymond Bracken.
No dia anterior, o próprio Guilherme já havia se tornado o primeiro brasileiro a subir em um pódio olímpico. Em 2 de agosto, ele conquistou o bronze na prova de pistola 50m por equipes, junto com Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.
Naquele mesmo dia, Afrânio da Costa foi o primeiro brasileiro a conquistar uma prata ao ficar em 2º lugar na disputa dos 50m de pistola livre 60 tiros. Ou seja, o tiro esportivo é a modalidade que rendeu ao Brasil suas primeiras medalhas de ouro, prata e bronze.
A incrível saga até o ouro
Nascido em Belém, Guilherme Paraense mudou-se ainda pequeno para o Rio de Janeiro, onde se tornou tenente do exército e atleta do Fluminense e do São Cristóvão.
Ele tinha 36 anos de idade quando partiu para os Jogos de Antuérpia. E precisou usar seu treinamento militar para resistir à viagem.
O Brasil enviou à Bélgica uma delegação de 21 atletas para competir nas provas de natação, polo aquático, saltos ornamentais, remo e tiro esportivo.
Como o COB não bancou a viagem, os atletas pagaram do próprio bolso as passagens em um navio de 3ª classe.
O navio era da Marinha Mercante e nada confortável. "Eles preferiam dormir no bar, no chão. Mas para isso só podiam deitar depois que o último cliente saísse e precisavam acordar cedinho para treinar", relatou à ESPN em 2015 a neta de Guilherme Paraense, Valéria.
"Eles treinavam no convés. A comida também era pouca e ruim, muitos passavam mal", acrescentou ela sobre o navio Curvello, que só oferecia pequenos camarotes sem ventilação para os passageiros.
Ao aportar na Ilha da Madeira, em Portugal, veio o primeiro susto.
A equipe brasileira ficou sabendo que só chegaria em Antuérpia duas semanas após o início dos Jogos – a competição havia sido adiada, mas a notícia não havia chegado na Madeira.
No porto seguinte, em Lisboa, a delegação pegou um trem de vagões abertos para poder alcançar a Bélgica a tempo.
Foram dias sob sol e chuva nos trilhos para cruzar Portugal, Espanha e França, antes da chegada em Bruxelas, para passar pela alfândega.
Na capital belga, os brasileiros tiveram suas armas e munições confiscadas, já que não conseguiram provar que estavam ali para participar das Olimpíadas em uma Europa que tinha saído da Primeira Guerra Mundial apenas dois anos antes.
Cada atleta conseguiu ficar apenas com uma arma na alfândega. Ao entrar em Bruxelas, porém, eles foram assaltados.
Depois da medalha, a revolução
Após 27 dias de viagem, a delegação sobrou com apenas uma pistola e 200 balas. E ainda precisava chegar ao local da competição.
O torneio de tiro acontecia numa base militar a 18 quilômetros da estação de trem mais próxima. Atrasado, o time brasileiro teve de percorrer o último trecho da epopeia a pé.
O Brasil só conseguiu competir – e conquistar medalhas – graças à equipe dos Estados Unidos, que emprestou armamento aos brasileiros.
"Depois das provas, os americanos tentaram entrar com recurso, dizendo que meu avô não podia competir porque era militar e teria vantagem. Mas o Comitê Olímpico Internacional não aceitou", lembrou Valéria Paraense.
Na volta ao Brasil, Guilherme Paraense foi recebido com honras pelo presidente Epitácio Pessoa.
O medalhista olímpico continuou ganhando prêmios no tiro esportivo, se sagrando também campeão sul-americano.
Paraense chegou a ser coronel do Exército e participou da Revolução de 1930. Ele faleceu aos 83 anos, de infarto, em abril de 1968.