Faltam 20 dias para Paris 2024: relembre primeiros ouros da vela brasileira nos Jogos
A 20 dias das Olimpíadas de Paris 2024, o Flashscore conta a história dos primeiros ouros da vela brasileira, tanto no masculino quanto no feminino.
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Uma jornada que começou com os precursores Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad, e se estendeu a ídolos como Eduardo Penido, Marcos Soares, Lars Grael, Alexandre Welter, Lars Björkström, Torben Grael, Robert Scheidt, Marcelo Ferreira, Martine Grael e Kahena Kunze.
Destaca-se também a rápida adaptação brasileira à modalidade, trazida por descendentes de europeus no fim do século 19. A cronologia da vela no país aponta um espaço de cerca de 30 anos entre eventos significativos da modalidade.
Em 1906 foi criado o primeiro clube voltado à vela, o Iate Clube Brasileiro. Em 1935 aconteceu a primeira competição. Já em 1968 a primeira medalha olímpica, o bronze conquistado por Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad, na classe Flying Dutchman, nos Jogos da Cidade do México.
Dos "mares abertos" em águas mexicanas, a vela tornou-se um importante aliado brasileiro no quadro de medalhas olímpicas. Nos Jogos de Montreal, em 1976, Reinaldo Conrad, agora ao lado de Peter Ficker, voltaria a conquistar mais um bronze na Flying Dutchman. Quatro anos depois, em Moscou, a consagração que a modalidade buscava no país. E foi em dose dupla.
Um encontro improvável
O Brasil amargava um jejum de 24 anos sem conquistar uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos, feito estabelecido pela última vez pelo ícone Adhemar Ferreira da Silva, no salto triplo, na Olimpíada de Melbourne, em 1956.
Mas esse hiato se encerrou em Moscou 1980, quando um encontro improvável de um ex-aventureiro sueco e um paulista filho de alemães transformou-se na mais perfeita combinação dourada.
A história desta medalha é deliciosamente impressionante. Começou na década de 1970, quando o sueco Lars Björkström decidiu iniciar uma volta ao mundo ao lado do amigo Anders Lublin. Eles fariam o trajeto de moto, tendo como ponto de partida a Califórnia, nos Estados Unidos.
A dupla chegou ao Brasil em 1972 e decidiu experimentar o país. O encanto foi imediato e Lars nunca mais deixou nossa nação. Já residente no Brasil, decidiu trazer da Suécia o barco da classe Tornado que se tornaria o motriz para o primeiro ouro do país na vela. Ele velejava desde os 12 anos e queria dar sequência à prática no seu novo país.
Em um clube às margens da Guarapiranga, o barco chamou atenção de Alexandre Welter, um experiente velejador da classe Finn que já havia sido reserva da delegação brasileira em duas Olimpíadas, em Munique 1972 e Montreal 1976. Seu sonho era competir pela classe Tornado, mas ele não possuía condições à época de importar uma embarcação daquele porte, já que ela se enquadrava na categoria de iate de luxo.
Welter não teve dúvidas de que ali existia uma oportunidade e procurou Lars para estabelecer um primeiro contato. De um bilhete deixado embaixo da porta aos títulos que os conduziram até Moscou, a parceria foi fortalecida. Uma empatia quase imediata.
A confirmação da vaga para os Jogos de 1980 veio durante competição na Itália. A dupla chegou afiada em Talin, na Estônia, já que em Moscou não havia uma raia adequada para a competição. As águas do Mar Báltico eram conhecidas de Lars e Alexandre, que disputaram regatas na região nos três anos anteriores às provas olímpicas.
As regatas nos Jogos de Moscou se mostraram incrivelmente favoráveis para Lars e Alexandre. Tudo deu certo e o ouro veio antes mesmo do fim da competição.
"Depois de quatro regatas, tínhamos quatro barcos empatados na liderança. E nós éramos um deles. Daí, tivemos a sorte de ter um vento perfeito para a gente, não muito forte, mas não fraco. Na quinta regata ganhamos e na sexta também", recorda Lars.
Um desfecho incrível para um aventureiro sueco de alma brasileira e um paulista apaixonado pelo esporte.
Os meninos do Rio
Marcos Soares e Eduardo Penido tinham 19 e 20 anos, respectivamente, quando chocaram o mundo no litoral que margeia a cidade de Talin, capital da Estônia, distante a mais de mil quilômetros de Moscou, sede dos jogos Olímpicos de 1980.
Nas águas do Mar Báltico, o barco dos "Meninos do Rio" deslizou de forma suave até ouvir o estrondo do canhão que anunciava a glória na classe 470. Assim como aconteceu com Alexandre Welter e Lars Björkström, eles só foram saber que haviam vencido depois que a regata se findou. Naquele misto de expectativa e tensão, o anúncio tornou-se um choque. Eles haviam entrado para a história.
Um sonho que havia sido gerado quatro anos antes, quando então adolescentes se juntaram para competir e vislumbrar a possibilidade de defender o Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscou.
Aquela foi a segunda medalha de ouro da vela brasileira na mesma edição de uma Olimpíada, a quinta dourada da história do país, coroando a modalidade de uma vez por todas e abrindo um caminho sem volta de histórias vitoriosas para o esporte nacional.
As mulheres da Baía de Guanabara
Nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, Fernanda Oliveira e Isabel Swan na classe 470 tornaram-se as primeiras brasileiras medalhistas na vela, faturando o bronze. Oito anos depois daquele momento singular, duas jovens brasileiras se estabeleceram no lugar mais alto do pódio no "quintal de casa".
No dia 18 de agosto de 2016, velejando frente a amigos e familiares na Baía de Guanabara, Martine Grael e Kahena Kunze tiveram o privilégio de conquistar a medalha de ouro olímpica na classe 49er FX, estreante nos Jogos do Rio 2016.
Na última regata da classe, a dupla ousou na manobra decisiva da disputa contra as neozelandesas Alex Maloney e Molly Meech e assumiu a liderança na reta final, rumo ao ouro. Elas confirmaram a conquista e terminaram a regata carregadas pelos espectadores em festa na Praia do Flamengo. Uma cena histórica e que marcou aquela edição olímpica, a primeira disputada em solo brasileiro.
A vela sempre esteve no DNA da dupla. Martine é filha de Torben Grael, que conquistou cinco medalhas olímpicas. Kahena é filha do velejador de ascendência alemã Claudio Kunze, campeão mundial júnior da classe Pinguim em 1973.
Juntas, elas chegaram à Rio 2016 como campeãs mundiais dois anos antes e prata nos Jogos Pan-Americanos 2015 na classe 49er FX, além de terem sido eleitas atletas do ano pela Federação Internacional de Vela.
Depois do ouro nos Jogos do Rio, elas repetiram o feito em Tóquio 2020, tornando-se bicampeãs olímpicas, e entraram em um seleto grupo de atletas nacionais.
Medalhas olímpicas do Brasil na Vela:
Ouro
Moscou 1980: Eduardo Penido e Marcos Soares (470)
Moscou 1980: Alexandre Welter e Lars Björkström (Tornado)
Atlanta 1996: Robert Scheidt (Laser)
Atlanta 1996: Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)
Atenas 2004: Robert Scheidt (Laser)
Atenas 2004: Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)
Rio 2016: Martine Grael e Kahena Kunze (49er)
Tóquio 2020: Martine Grael e Kahena Kunze (49er)
Prata
Los Angeles 1984: Torben Grael, Daniel Adler e Ronaldo Senfft (Soling)
Sydney 2000: Robert Scheidt (Laser)
Pequim 2008: Bruno Prada e Robert Scheidt (laser)
Bronze
Cidade do México 1968: Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad (Flying Dutchman)
Montreal 1976: Peter Ficker e Reinaldo Conrad (Flying Dutchman)
Seul 1988: Torben Grael e Nelson Falcão (Star)
Seul 1988: Clinio Freitas e Lars Grael (Tornado)
Atlanta 1996: Kiko Pelicano e Lars Grael (Tornado)
Sydney 2000: Marcelo Ferreira e Torben Grael (Star)
Pequim 2008: Fernanda Oliveira e Isabel Swan (470)
Londres 2012: Bruno Prada e Robert Scheidt (star)