Futebol 360 com Betão: A transformação no departamento médico dos clubes de futebol
Eu concordo em alguns aspectos, mas vocês já pararam para pensar que essa qualidade de jogo e nível técnico exigidos, podem estar sendo influenciados por fatores que quase ninguém dá a devida importância?
Vou citar três fatores dentre outros tantos. Primeiro: o calendário de jogos.
Com o calendário tão apertado como o que nós temos, com tantas viagens de longa distâncias e logísticas ruins, os atletas mal tem tempo de treinarem de forma adequada e se preparem para o jogo seguinte.
Muitas vezes, os atletas fazem mais o trabalho de recuperação, de um jogo para o outro (o chamado recovery,), do que o treinamento.
Com isso, os atletas acabam não se recuperando de forma adequada e sempre carregam o cansaço e a fadiga de um jogo para o outro, fazendo com que a qualidade do jogo diminua. São fatores que interferem diretamente no nível técnico e na concentração dos atletas.
Poucos "tapetes"
O segundo fator é a qualidade dos gramados. Quando falamos em Série A do Brasileirão, os gramados tendem a ser melhores.
Porém, existem as variações de gramas sintéticas que afetam de forma diferente no esforço dos atletas, por vezes mais duros e mais rápidos, trazendo um nível de exigência física diferente.
Já na série B, a dificuldade com os gramados são ainda maiores (já foi pior!), mas ainda temos muito a melhorar.
E o terceiro fator que eu gostaria de trazer é o advento das redes sociais. Muita gente acha que é “mimimi”, que isso não deveria interferir no comportamento dos atletas e que eles devem saber lidar com as críticas e ameaças sofridas. Isso seria no mundo ideal. Mas é fato que nem todos são iguais e muitos precisam de ajuda.
Departamento de performance e saúde
Fiz essa introdução para falar da forma que o futebol está crescendo e de um novo departamento que vem fazendo grande diferença. Se por um lado, muitos acham que o futebol brasileiro está estacionado no tempo, sou prova viva de que o futebol vem crescendo e muito, de dentro para fora.
Os clubes estão se estruturando de uma forma que possam dar cada vez mais estrutura e qualidade aos atletas. A maioria dos clubes brasileiros incluíram o “Departamento de Performance e Saúde” em seu organograma.
Para quem nunca ouviu falar, esse departamento seria o antigo DM (Departamento Médico), porém em uma versão turbo. Para nos direcionar melhor sobre o assunto, falei com o Head de Performance e Saúde do Avaí, professor Neto Pereira.
“A origem desse modelo de gestão ainda é recente. Por vezes, ainda há uma discordância quanto a função e demandas, mas existe o consenso sobre a matriz científica que orienta as melhores práticas das áreas relacionadas”, disse Neto Pereira.
Mudança necessária
Antigamente no futebol, o DM era formado basicamente por médicos, fisioterapeutas e massagistas. Já o departamento de performance e saúde é mais completo e complexo, sendo formado por um head de alta performance, além de médicos, fisiologistas, preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e enfermeiros. O atleta consegue ser analisado e avaliado de uma forma 360°.
Essa mudança foi para melhor. Pude provar, na prática, a eficiência desse trabalho transdisciplinar. Além de ajudar em diversos processos, através de dados obtidos e a troca de informações entre as áreas, consegue-se um controle de cargas, evitando as lesões e extraindo o melhor dos atletas.
“O fator primordial desse departamento é ser um filtro facilitador das inúmeras informações, tornando elas um conhecimento aplicado. A tomada de decisão fica mais assertiva”, completou Neto Pereira.
A evolução do departamento
Em conjunto com as novas exigências, também aumentaram as demandas e o conhecimento com relação aos atletas. Com isso, chegou-se a necessidade de um departamento que trabalhasse dados que se complementam, aumentando o conhecimento sobre os atletas de uma forma mais individualizada.
“Havia uma lacuna importante entre o que é performance com qualidade e o fato do atleta estar lesionado. Existem inúmeros status de disponibilidade do atleta, haja visto que há uma compreensão sobre o futebol ser um esporte coletivo, mas com demandas individuais”, enfatizou Neto Pereira.
Que fique bem claro que não estamos aqui condenando o trabalho feito pelos departamentos médicos, muito pelo contrário. Estes foram trabalhos muito bem elaborados. Mas, com toda a evolução que houve no futebol, também foi necessário a evolução desse departamento, onde as áreas trabalham de forma integrada.
Para concluir, Neto Pereira foi enfático e preciso: “Não se há uma minimização do olhar clínico dos médicos, mas há uma maximização das intervenções de múltiplas áreas, como: educação física, fisioterapia, fisiologia, nutrição, psicologia e enfermagem.
"É uma quebra de paradigma até certo ponto recente, onde há vez, voz e veto compartilhada de forma colegiada por distintos profissionais qualificados”.