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Futebol 360 com Betão: A transformação no departamento médico dos clubes de futebol

Betão
Estrutura atual permite que o atleta seja avaliado de uma forma mais completa
Estrutura atual permite que o atleta seja avaliado de uma forma mais completaCesar Greco/Palmeiras
Caros leitores, sempre fazemos muitas exigências com relação ao futebol brasileiro, principalmente quando falamos do nível técnico dos atletas e a qualidade dos jogos. Por exemplo, quem nunca ouviu e até mesmo já utilizou a famosa frase: “O futebol brasileiro é nivelado por baixo”.

Eu concordo em alguns aspectos, mas vocês já pararam para pensar que essa qualidade de jogo e nível técnico exigidos, podem estar sendo influenciados por fatores que quase ninguém dá a devida importância?

Vou citar três fatores dentre outros tantos. Primeiro: o calendário de jogos.

 Com o calendário tão apertado como o que nós temos, com tantas viagens de longa distâncias e logísticas ruins, os atletas mal tem tempo de treinarem de forma adequada e se preparem para o jogo seguinte.

Muitas vezes, os atletas fazem mais o trabalho de recuperação, de um jogo para o outro (o chamado recovery,), do que o treinamento. 

Com isso, os atletas acabam não se recuperando de forma adequada e sempre carregam o cansaço e a fadiga de um jogo para o outro, fazendo com que a qualidade do jogo diminua. São fatores que interferem diretamente no nível técnico e na concentração dos atletas.

Rotina de viagens não permite treinos intensos
Rotina de viagens não permite treinos intensosPedro Souza - Atlético

Poucos "tapetes"

O segundo fator é a qualidade dos gramados. Quando falamos em Série A do Brasileirão, os gramados tendem a ser melhores.

Porém, existem as variações de gramas sintéticas que afetam de forma diferente no esforço dos atletas, por vezes mais duros e mais rápidos, trazendo um nível de exigência física diferente. 

Já na série B, a dificuldade com os gramados são ainda maiores (já foi pior!), mas ainda temos muito a melhorar.

E o terceiro fator que eu gostaria de trazer é o advento das redes sociais. Muita gente acha que é “mimimi”, que isso não deveria interferir no comportamento dos atletas e que eles devem saber lidar com as críticas e ameaças sofridas. Isso seria no mundo ideal. Mas é fato que nem todos são iguais e muitos precisam de ajuda. 

Gramados na Série B não costumam ter a mesma qualidade da 1ª divisão
Gramados na Série B não costumam ter a mesma qualidade da 1ª divisãoTombense

Departamento de performance e saúde 

Fiz essa introdução para falar da forma que o futebol está crescendo e de um novo departamento que vem fazendo grande diferença. Se por um lado, muitos acham que o futebol brasileiro está estacionado no tempo, sou prova viva de que o futebol vem crescendo e muito, de dentro para fora. 

Os clubes estão se estruturando de uma forma que possam dar cada vez mais estrutura e qualidade aos atletas. A maioria dos clubes brasileiros incluíram o “Departamento de Performance e Saúde” em seu organograma. 

Clubes de futebol acompanharam a evolução da medicina moderna
Clubes de futebol acompanharam a evolução da medicina modernaCesar Greco/Palmeiras

Para quem nunca ouviu falar, esse departamento seria o antigo DM (Departamento Médico), porém em uma versão turbo. Para nos direcionar melhor sobre o assunto, falei com o Head de Performance e Saúde do Avaí, professor Neto Pereira.

“A origem desse modelo de gestão ainda é recente. Por vezes, ainda há uma discordância quanto a função e demandas, mas existe o consenso sobre a matriz científica que orienta as melhores práticas das áreas relacionadas”, disse Neto Pereira. 

Neto Pereira é Head de Performance e Saúde do Avaí
Neto Pereira é Head de Performance e Saúde do AvaíRafael Xavier

Mudança necessária

Antigamente no futebol, o DM era formado basicamente por médicos, fisioterapeutas e massagistas. Já o departamento de performance e saúde é mais completo e complexo, sendo formado por um head de alta performance, além de médicos, fisiologistas, preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e enfermeiros. O atleta consegue ser analisado e avaliado de uma forma 360°.

Departamento médico dos clubes de futebol sofreu necessária transformação
Departamento médico dos clubes de futebol sofreu necessária transformaçãoEstevão Germano / América

Essa mudança foi para melhor. Pude provar, na prática, a eficiência desse trabalho transdisciplinar. Além de ajudar em diversos processos, através de dados obtidos e a troca de informações entre as áreas, consegue-se um controle de cargas, evitando as lesões e extraindo o melhor dos atletas. 

“O fator primordial desse departamento é ser um filtro facilitador das inúmeras informações, tornando elas um conhecimento aplicado. A tomada de decisão fica mais assertiva”, completou Neto Pereira.

Clubes hoje trabalham com integração de diversas áreas da saúde
Clubes hoje trabalham com integração de diversas áreas da saúdeCesar Greco/Palmeiras

A evolução do departamento 

Em conjunto com as novas exigências, também aumentaram as demandas e o conhecimento com relação aos atletas. Com isso, chegou-se a necessidade de um departamento que trabalhasse dados que se complementam, aumentando o conhecimento sobre os atletas de uma forma mais individualizada. 

“Havia uma lacuna importante entre o que é performance com qualidade e o fato do atleta estar lesionado. Existem inúmeros status de disponibilidade do atleta, haja visto que há uma compreensão sobre o futebol ser um esporte coletivo, mas com demandas individuais”, enfatizou Neto Pereira. 

Atletas contam com acompanhamento mais próximo nos dias de hoje
Atletas contam com acompanhamento mais próximo nos dias de hojeEstevão Germano / América

Que fique bem claro que não estamos aqui condenando o trabalho feito pelos departamentos médicos, muito pelo contrário. Estes foram trabalhos muito bem elaborados. Mas, com toda a evolução que houve no futebol, também foi necessário a evolução desse departamento, onde as áreas trabalham de forma integrada. 

Para concluir, Neto Pereira foi enfático e preciso: “Não se há uma minimização do olhar clínico dos médicos, mas há uma maximização das intervenções de múltiplas áreas, como: educação física, fisioterapia, fisiologia, nutrição, psicologia e enfermagem.

"É uma quebra de paradigma até certo ponto recente, onde há vez, voz e veto compartilhada de forma colegiada por distintos profissionais qualificados”. 

Cenário atual é considerado uma quebra de paradigma
Cenário atual é considerado uma quebra de paradigmaCesar Greco/Palmeiras