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Futebol 360 com Betão: Conheça o recovery, prática cada vez mais essencial no futebol

Betão
Calendário cheio do Brasil dificulta recuperação entre os jogos
Calendário cheio do Brasil dificulta recuperação entre os jogosFlashscore/Avaí
Caros leitores, esta coluna dá sequência ao texto anterior, no qual falei sobre a criação do departamento de performance e saúde dentro dos clubes de futebol, uma evolução do antigo DM (departamento médico). Hoje gostaria de falar sobre mais um termo que está em alta nos tempos modernos no futebol brasileiro: "recovery".

Poderíamos dizer que é quase uma substituição ao treino regenerativo, tipo de trabalho de recuperação utilizado antigamente de uma forma mais simplificada.

Junto com a evolução de diversos departamentos que atuam dentro dos clubes, as disciplinas que compõem o departamento de performance e saúde entenderam a necessidade de ter um olhar mais cuidadoso e aprofundado em relação à recuperação dos atletas.

Todos nós sabemos que a quantidade de jogos que a maioria dos clubes do Brasil tem no calendário beira o absurdo. Se formos contabilizar o tamanho do nosso país, a logística de viagens que os clubes têm que enfrentar (a maioria faz voos com escalas), a nossa malha aérea e outros fatores que não estão de acordo com essa quantidade de jogos, a conta não fecha.

Um time da elite do Brasil faz, em média, 69 partidas por ano. São 20 partidas a mais em relação à elite do futebol europeu e 22 a mais se comparado aos países sul-americanos. Para mim, esses dados escancaram um fato: no Brasil, a preocupação está com o evento em si e não com a qualidade do evento.

É preciso ter muitos jogos para preencher todos os dias da semana da grade de televisão aberta e dos canais esportivos fechados, obter mais patrocínios e fazer a máquina girar. E a qualidade do jogo? Isso não importa tanto, fica em segundo plano.

Atletas têm pouco tempo de recuperação entre um jogo e outro
Atletas têm pouco tempo de recuperação entre um jogo e outroMarcelo Cortes/Flamengo

Tempo de recuperação

É necessário que exista um tempo hábil para os atletas se recuperarem entre uma partida e outra. Em algumas situações, os clubes chegam a jogar duas e até três partidas em 72h. Em alguns casos, dentro dessas 72h, são 10h viajando. Eu mesmo já passei por isso. Por vezes, a recuperação necessária não é somente física, mas também mental.

De um modo geral, existe um desgaste e um estresse de nível elevado nos atletas. Para se ter uma ideia, um atleta de alto rendimento tem de 2.500 a 4.200 tomadas de decisões por partida, chegando a 46 tomadas de decisões por minuto. Levando em consideração uma derrota, é mais difícil dormir. Em caso de vitória, não há tempo para desfrutar, pois já devem pensar no próximo confronto. ATLETAS NÃO SÃO ROBÔS.

A recuperação, por vezes, não é apenas física
A recuperação, por vezes, não é apenas físicaRodrigo Coca/Ag. Corinthians

Visão de quem aplica na prática

Para nos ajudar no assunto, conversei com dois profissionais do Departamento de Performance e Saúde do Avaí: o fisiologista Pedro Mohr e o fisioterapeuta Ricardo Burigo.

Burigo nos traz a definição do termo recovery: “É o período que, após uma partida ou treinamento muito intenso, o atleta leva para recuperar plenamente força, resistência, flexibilidade e capacidade técnica. Esse período pode variar de acordo com a condição prévia do atleta, mas raramente ocorre antes de 72h após uma partida intensa”.

Ricardo Burigo, fisioterapeuta do Avaí
Ricardo Burigo, fisioterapeuta do AvaíLeandro Boeira/Avaí

O fisiologista Pedro Mohr fala da importância do recovery aos olhos da fisiologia, no intuito do atleta otimizar seu processo de recuperação.

“Durante um processo de microciclo semanal, há sessões onde o objetivo costuma ser o de aumentar a capacidade física do jogador (treinos de aquisição). É importante ter em mente que esse tipo de treino gera fadiga/dor muscular tardia. Logo, para potencializar a supercompensação e o estado de prontidão para a sessão seguinte, é fundamental que os atletas sigam rotinas dentro e fora do clube condizentes com a otimização da recuperação, principalmente através da nutrição adequada e da boa qualidade do sono."

Pedro Mohr, fisiologista do Avaí
Pedro Mohr, fisiologista do AvaíLeandro Boeira

O recovery em números e dados

Com o avanço tecnológico das práticas no futebol, nada pode ser feito através do “achismo”. Mas é claro que sempre haverá alguns métodos que são passados de geração em geração, porém sem evidências científicas. Para se obter melhores resultados, o caminho correto é utilizar práticas baseadas em evidências científicas e literaturas.

“A crioterapia é uma das formas de recuperação mais utilizada no esporte. Ela pode reduzir a concentração de CK (creatina quinase, um marcador de dano muscular), reduzir a percepção de fadiga e dor muscular, bem como aumentar a percepção de recuperação" (Choo et al, 2022), exemplificou Pedro Mohr.

Pedro Mohr, fisiologista do Avaí
Pedro Mohr, fisiologista do AvaíLeandro Boeira/Avaí

Falando sobre a parte nutricional, Mohr ressaltou a importância da ingestão e reposição de carboidratos (CHO). “A baixa ingestão de CHO durante um microciclo de treinamento pode reduzir em até 17% o desempenho de corrida no jogo subsequente" (Souglis et al, 2013).

Ele também faz um alerta sobre a importância do sono:  “A falta da qualidade do sono afeta na ressíntese de glicogênio, na recuperação do dano muscular, aumenta o risco de lesão, a fadiga mental, impactando ainda em uma menor tolerância à carga de treino e no aumento do risco de contrair doenças."

O fisioterapeuta e o recovery

Para o fisioterapeuta Ricardo Burigo, o Brasil sempre se mostrou um grande pioneiro quando o assunto é fisioterapia. Ele diz que os clubes grandes e médios do país não deixam muito a desejar para os grandes e médios da Europa. Segundo Burigo, há um fator no Brasil que afeta diretamente os clubes na oferta do recovery ideal para seus atletas. Esse fator se chama “calendário brasileiro”.

“A já amplamente debatida quantidade de jogos e o tamanho do nosso país, de proporções continentais, não permite uma logística ideal para o recovery dos atletas”, disse Ricardo Burigo. Ele afirmou, ainda, que estudos demonstram que um atleta exposto a uma partida de futebol ainda não apresenta uma plena recuperação dos níveis de força muscular, mesmo após 72h.

Futebol brasileiro tem fisioterapia de ponta
Futebol brasileiro tem fisioterapia de pontaDivulgação/Fluminense

Com a sequência de 2 ou até 3 jogos em uma semana, torna-se impossível que os atletas mantenham a capacidade atlética. Acredito que uma reestruturação no calendário passa a ser o principal fator de mudança nesse aspecto."

Quando falamos sobre a função do fisioterapeuta no processo de recovery, Ricardo Burigo foi enfático em dizer que alguns recursos são amplamente difundidos, porém carecem de evidências que sustentem o uso. Alguns deles são: fotobiomodulação, massagem e crioimersão.

Mesmo com tantas opções de recursos para auxiliar na recuperação dos atletas, Ricardo Burigo diz: “Nenhum recurso auxiliar substitui uma boa alimentação e uma boa noite de sono”.

Após falarmos sobre o departamento de performance e saúde e o recovery, chego à conclusão de que, devido à realidade de rotina de jogos que enfrentamos no Brasil, o recovery se torna tão ou até mais importante que uma sessão de treinamentos.

Ricardo Burigo, fisioterapeuta do Avaí
Ricardo Burigo, fisioterapeuta do AvaíLeandro Boeira