Futebol 360 com Betão: Os jovens treinadores estão pedindo passagem
As dúvidas são sempre as mesmas: permanecer com o mesmo treinador da temporada anterior? Oportunizar os treinadores mais jovens? Trazer um treinador com mais experiência? Trazer um treinador estrangeiro? Muitos são os questionamentos.
Quando os resultados da temporada anterior são positivos, a tomada de decisão com relação a permanência do treinador é mais fácil. Existem alguns fatores que podem interferir na decisão da permanência de um treinador, mesmo com os resultados positivos: o assédio do mercado ou algum tipo de desgaste de relacionamento interno ou externo.
Mas o fato é que com a “dança dos técnicos” no futebol brasileiro, é raro uma equipe que permaneça com um mesmo treinador do início ao fim da temporada e ainda mais que permaneça para a temporada seguinte.
Chave do clube nas mãos dos treinadores
No meu ponto de vista, um erro grave cometido é entregar a chave do clube nas mãos de treinadores. Quando eu ainda jogava, trabalhei com alguns treinadores que tiveram a chave do clube na mão.
Devo dizer que em alguns casos, os treinadores trouxeram benefícios ao clube, mas em outros casos não. Será que vale o risco? Falando em gestão, uma atitude como essa coloca em risco todo um planejamento histórico/metodológico e financeiro do clube.
Digo planejamento histórico/metodológico, pois entendo que um clube não tem que ter a cara do treinador e sim deve-se contratar um treinador que se enquadre com a história, cultura e metodologia do clube.
E financeiro, quando se entrega a chave do clube aos treinadores, sem sombra de dúvidas mudanças serão exigidas. Tanto mudanças de estrutura física do clube, quanto na exigência da contratações de atletas que esse treinador entende que seja importante para os resultados de seu trabalho.
Na maioria das vezes, não é somente um ou dois atletas, são muitos. Após a saída desse treinador, o que fazer com esses atletas trazidos por imposição do treinador e não por consenso do clube?
E tendo em vista que a permanência dos treinadores nos clubes por vezes não chega a completar uma temporada, será que realmente é válido entregar a chave do clube aos treinadores, deixar todas as escolhas em suas mãos e depois ter que arcar com as consequências após a saída do profissional?
Os gestores devem buscar no mercado treinadores que se enquadrem ao trabalho do clube e não o clube deve se enquadrar ao treinador.
Treinadores da Série A e da Série B
Realizei um raso e breve levantamento para entender o perfil dos treinadores que hoje estão à frente dos 20 clubes da Série A e dos 20 clubes da Série B do Campeonato Brasileiro.
Nesse levantamento separei em 3 grupos: treinadores consolidados (que estão ou tiveram trabalhos relevantes na Série A); nova geração (treinadores interinos ou no primeiro trabalho relevante) e os estrangeiros.
Vale lembrar que nesse levantamento a idade, tempo como treinador e o nível dos clubes que dirigiram pode ser um fator determinante para o grupo no qual os treinadores foram alocados.
SÉRIE A
- Consolidados: Tite, Renato Gaúcho, Felipão, Dorival Júnior, Mano Menezes, Zé Ricardo e Rogério Ceni.
- Nova geração (interinos ou efetivados): Lúcio Flávio, **Mário Jorge, Wesley Carvalho, Marcelo Fernandes e Thiago Kosloski.
- Estrangeiros: Abel Ferreira, António Oliveira, Armando Evangelista e Pedro Caixinha (portugueses); Vojvoda, Eduardo Coudet, Ramón Díaz e Fabián Bustos (argentinos)
** Não está mais no cargo, mas merece a citação.
SÉRIE B
- Consolidados: Enderson Moreira, Eduardo Baptista, Jair Ventura, Cláudio Tencati, Lisca, Vágner Mancini, Eduardo Barroca, Marcelo Chamusca, Claudinei Oliveira, Roberto Fonseca e Argel.
- Nova Geração: Léo Condé, Thiago Carpini, Umberto Louzer, Mozart, Daniel Paulista, Fernando Marchiori, João Brigatti e Marcinho
- Não tem estrangeiros.
As escolhas
Entendo muito bem que existem alguns fatores que pesam na hora da escolha de um treinador: histórico profissional, trabalhos relevantes, conquistas, perfil técnico, perfil metodológico, dentre outros.
Mas por vezes, tenho a impressão que na “dança das cadeiras” dos treinadores, são sempre os mesmos que se assentam. E outro fator que aumentou nos últimos anos, foi a procura e a preferência por treinadores estrangeiros.
Deixo claro que não vejo nenhum problema dos dirigentes terem preferência por treinadores mais antigos e tão pouco com os estrangeiros, se são capacitados devem estar nas mais altas prateleiras do futebol brasileiro mesmo. E entendo que para os iniciantes, o tamanho do clube pode assustar.
Eu tive o prazer de trabalhar com os mais renomados e vitoriosos treinadores do futebol brasileiro: Vanderley Luxemburgo, Parreira, Tite, Osvaldo de Oliveira, Emerson Leão, Antônio Lopes, Jorginho, Geninho, Carpegiani e outros mais.
E também tive a oportunidade de trabalhar com alguns estrangeiros aqui no Brasil: Daniel Passarela, Alejandro Sabella e Augusto Inácio. Confesso que as grandes lições que tive no futebol e que me ajudaram por toda minha carreira, eu recebi dos ditos mais antigos.
Todavia, acredito que assim como os atletas, os treinadores não podem viver do que fizeram no passado, mas por aquilo que estão produzindo no presente.
De olho neles
O intuito da coluna de hoje, é para chamar a atenção aos jovens, capacitados e promissores treinadores que estão surgindo no futebol brasileiro. Darei destaque para Mário Jorge, Léo Condé, Thiago Carpini e Umberto Louzer.
- Mário Jorge, com grande histórico nas categorias de base no Rio de Janeiro e que antes da chegada do técnico Tite esteve à frente da equipe do Flamengo após a demissão do Jorge Sampaoli. Mesmo não sendo efetivado, sempre que solicitado na equipe profissional demonstrou muita personalidade e segurança no seu trabalho. Para mim já deixou claro que tem capacidade de sobra para se destacar muito em breve;
- Léo Condé, que já fez campanhas notáveis em outros clubes, hoje está a frente da equipe do Vitória desde fevereiro de 2023. Liderando a Série B com um trabalho muito consistente, está a um passo do acesso e é o grande candidato ao título;
- Thiago Carpini, surgiu com grande destaque a frente da equipe paulista do Água Santa, conseguindo um feito histórico. Após eliminar a equipe do São Paulo e do Red Bull Bragantino nas quartas e semifinal do Campeonato Paulista, ganhou o primeiro jogo da final contra o Palmeiras, mas acabou perdendo o segundo jogo. Pelo saldo de gols, a equipe do Água Santa ficou com o segundo lugar. Ele foi considerado o melhor treinador da competição e hoje à frente do Juventude está como um dos candidatos ao acesso;
- Umberto Louzer, sempre apresentou bons trabalhos por onde passou. Com uma organização tática bem definida, acredito que essa seja sua marca registrada. Não tive a oportunidade de trabalhar com ele, mas quem já trabalhou, disse que a gestão de grupo também é algo a levar em consideração.
A minha torcida é para que em breve esses e outros jovens treinadores sejam primeiras opções dos grandes clubes do futebol brasileiro.