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Futebol 360 com Betão: Por que minha transferência para o futebol francês melou

Betão
Jean-Claude Plessis, presidente do Sochaux em 2007, foi eleito novamente em 2023
Jean-Claude Plessis, presidente do Sochaux em 2007, foi eleito novamente em 2023Profimedia
Caros leitores, os jogos oficiais ainda não iniciaram, mas a temporada 2024 já começou. O mês de janeiro é o mês mais agitado no mercado do futebol brasileiro. É o mês de montagem de elencos, de chegadas e saídas, em meio a especulações sobre contratações. Tudo isso recheado por algumas polêmicas.

Existem atletas que acabam trocando o atual clube pelo rival, o que sempre gera um desconforto e desconfiança por parte dos torcedores. Na minha opinião, isso é natural.

Sabemos que futebol mexe diretamente com a paixão, mas os atletas são profissionais. Além do fator financeiro, o atleta precisa estar em um ambiente onde se sente bem.

Muitas vezes, as mudanças são necessárias, mesmo que seja para um rival. Essa história aconteceu comigo. Em 2008, saí do Corinthians e fui jogar no Santos. No início, houve desconfiança por parte do torcedor santista. Com trabalho e respeito a camisa, essa desconfiança acabou.

Outro fato que gera muito incômodo entre diretorias é quando o clube procura um treinador de outra equipe. Sabemos que tudo isso faz parte do jogo. Mas, no meu ponto de vista, em qualquer tipo de negociação, deve-se manter a lealdade e a cultura da boa vizinhança. Uma pena que nem todos pensam e agem dessa forma.

Betão enfrentou resistência ao sair do Corinthians e ir para o Santos
Betão enfrentou resistência ao sair do Corinthians e ir para o SantosProfimedia

Jogo de interesses

Dentro de todas essas polêmicas, a que mais causa problemas é o jogo de interesses. Se já é difícil entrar em um acordo quando duas partes estão interessadas, imagine só como é a situação quando os atuantes são três ou quatro.

É bem mais difícil agradar a todos, sejam eles clubes empresários, atletas e intermediários. Todos querem se beneficiar e alguém terá que abrir mão de algo. Quem se dispõe a isso?

Betão é o zagueiro que mais defendeu as cores do Avaí
Betão é o zagueiro que mais defendeu as cores do AvaíProfimedia

A quase-transferência para a França

Vou trazer um relato que poucos sabem. Eu tive uma negociação que acabou sendo frustrada para jogar na equipe do Sochaux, da França. 

O ano era 2007, eu ainda atuava pelo Corinthians. Recebi uma proposta através de um intermediário (o conhecido agente José Fuentes, que não era o meu empresário). Fiquei muito feliz e motivado pela oportunidade, criei expectativas, fiz contas com os valores apresentados e embarquei para aquela aventura. 

Quando cheguei ao clube, o presidente estava em viagem para Alemanha. Para ganhar tempo, fui conhecendo as dependências do clube, fiz os exames médicos, conheci os “futuros” companheiros e até já tinha escolhido o número da camisa e como gostaria que meu nome fosse escrito. 

Em uma certa noite, o treinador recém-chegado ao clube, que estava hospedado no mesmo hotel, me convidou para uma reunião. Ele explicou que havia acompanhado meus jogos, falou sobre minhas características e fez algumas perguntas sobre como eu gostava de atuar e as funções que eu me sentia mais confortável.

Fiquei muito empolgado pela recepção e ansioso pela assinatura do contrato. Enquanto aguardava a volta do presidente, segui os treinos separadamente do grupo para manter a forma. Lembro-me até hoje: em uma sexta feira nublada, marcamos a reunião com o presidente, meu empresário, o intermediário e eu.

Betão durante sua passagem pelo Dynamo de Kiev
Betão durante sua passagem pelo Dynamo de KievProfimedia

O estraga-prazeres

Enquanto aguardávamos na antessala, chegou um homem (que depois eu descobri que era uma espécie de captador do clube), me olhou dos pés à cabeça, não nos cumprimentou e entrou na sala do presidente. Após alguns minutos, esse homem sai da sala do presidente com cara de poucos amigos e com um sorriso sarcástico.

O presidente nos chama logo em seguida. Entramos na sala. Somente o intermediário falava francês e ele traduzia as falas do presidente. Sem enrolação o presidente falou:

“Não vai ter negócio!” Quando o intermediário traduziu, eu sorri pensando que fosse brincadeira. Nisso, o intermediário disse: “Ele está falando sério”. 

Parecia que eu havia perdido o chão, meus sonhos, planos, todos os projetos foram por água abaixo. Resumo da história: depois de tudo, fiquei sabendo que aquele “captador”  havia passado um mês no Brasil e voltou ao clube sem nenhum jogador.

Ao me ver chegando através de outra pessoa, se sentiu incomodado e melou o negócio. Por isso, quando ouço alguém dizendo que o “negócio está fechado, só falta assinar”, eu desconfio e digo: “Então o negócio não está fechado, pois sem a assinatura não tem negócio”.