Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Futebol 360 com Betão: Poucos jogadores se preparam para a transição de carreira

Tinga foi dado por Betão como exemplo de transição correta de carreira
Tinga foi dado por Betão como exemplo de transição correta de carreiraBVB
Caros leitores, hoje irei falar sobre um assunto que todos os atletas sabem que um dia irá chegar, mas poucos se preparam: o da transição de carreira ou simplesmente, aposentadoria dos gramados. 

Há quem diga que um atleta morre duas vezes, com a primeira delas sendo na sua aposentadoria dos gramados. A segunda é a morte do corpo, algo que nenhum de nós escaparemos. 

Lembro-me bem que, quando ainda criança, ouvia os narradores dizendo: “O atleta veterano de 30 anos” e eu pensava: "Quando eu tiver 30 anos, já serei um veterano". 

Quando fui promovido para o time profissional do Corinthians, com apenas 17 anos, meu maior medo era chegar aos 30 anos e também me tornar um desses “veteranos”. 

Diante desses números, eu teria somente mais 13 anos de carreira (que pavor!). Aquilo me atormentava mas, com o passar dos anos, houve uma junção de melhorias no futebol e na mentalidade dos atletas que ajudaram a prolongar a vida útil dos jogadores. 

Aconteceram muitas evoluções das metodologias de trabalho, das tecnologias avançadas e em áreas fundamentais como a preparação física, fisioterapia, fisiologia e nutrição. Hoje, é bem comum atletas passarem dos 35 anos atuando em altíssimo nível.

Betão subiu ao profissional aos 17 anos de idade
Betão subiu ao profissional aos 17 anos de idadeProfimedia

Como me preparei

Como sempre fui uma pessoa “pé no chão”, muito preocupado com o meu futuro antes mesmo de me aposentar, iniciei meus estudos já pensando na transição de carreira. 

No ano de 2014 (oito anos antes da minha aposentadoria), quando atuava pelo Dínamo de Kiev, da Ucrânia, e ainda com 31 anos, não tinha uma direção exata em que ramo atuaria ao final da carreira. Mas senti a necessidade de voltar a estudar e fiz um curso de empreendedorismo no SEBRAE. 

Após esse curso, vi que somente ele não era o suficiente e fiquei mais instigado a buscar novos aprendizados. Foi então que resolvi me aprofundar nos estudos. De lá para cá, fiz oito cursos: dois de Gestão no Futebol (um pela Universidade do Futebol e outro pela Futebol Interativo), além de outros dois de PNL (Programação Neurolinguística), um de treinamento avançado em liderança internacional e dois de Executivo de Futebol (um pela Foothub e outro pela CBF Academy). 

Cabeça boa e "pé de meia"

Além da preparação através dos estudos, é de fundamental importância a preparação mental e o planejamento financeiro, pois nos acostumamos a viver uma rotina durante a maior parte de nossas vidas e, “de repente”, tudo acaba. 

A falta de rotina, de não ter um direcionamento no que fazer e, em alguns casos, a ausência dos holofotes chegam a causar depressão em muitos ex-atletas. Isso pode trazer consequências gravíssimas, com alguns se tornando dependentes químicos e abusando do álcool e outras drogas.

Quando você se prepara e planeja uma virada de chave, tudo fica mais leve. As pessoas me perguntam: Betão, está sendo difícil se acostumar com a aposentadoria? Você sente saudades? 

Eu digo que, pelo fato de ter me preparado para esse momento, as coisas ficaram mais tranquilas de serem assimiladas, a virada de chave foi no automático. 

Essa é uma realidade diferente se o atleta não se prepara e se aposenta de forma súbita, seja por lesões, pela idade ou algum outro motivo inesperado. Neste caso, acredito que seja bem mais trabalhoso. De uma forma ou de outra, não será fácil. Por isso, aconselho a todos a iniciarem essa preparação o quanto antes.

Conversa com Tinga fez Betão refletir sobre importância de atletas pensarem fora do futebol
Conversa com Tinga fez Betão refletir sobre importância de atletas pensarem fora do futebolProfimedia

Viver em uma bolha

Eu costumo dizer que os atletas vivem dentro de uma "bolha". A mente fica tão fechada que acabam se esquecendo das centenas de oportunidades que existem fora dela. Existe um grande tabu que jogadores de futebol não podem exercer ou estarem envolvidos em outra atividade que não seja o futebol. 

Eu tenho o seguinte pensamento: se não atrapalhar o desempenho como atleta, não tirar o foco e tão pouco prejudicar sua equipe, qual o problema de ter uma atividade paralela? 

Uma das questões que sempre percebi é que muitos atletas se esquecem que, um dia, essa vida de atleta irá acabar. Eles não serão atletas para sempre.

O ex-atleta Tinga, que atuou pelo Internacional, Grêmio, Borussia Dortmund e Seleção, teve uma carreira muito vitoriosa dentro dos gramados. Fora deles, ele segue sendo bem-sucedido. Tinga é um belo exemplo ao ter se tornado um grande empreendedor. 

Certa vez, em uma conversa informal, ele me disse: “Betão, os atletas precisam conhecer pessoas fora do futebol, precisam bater um papo com o vizinho, conhecer a vida do jornalista, do médico, do dentista, do engenheiro, do empresário autônomo, etc. 

Ele precisa saber e conhecer o leque de opções que existe fora da "bolha" chamada futebol. Aquilo me chamou muita atenção e levarei esse ensinamento para o resto da minha vida.

E agora, o que fazer?

Sempre é bom lembrar da frase que aprendi com um excelente preparador de grandes clubes do Brasil, de carreira internacional e Seleção Brasileira, José Carlos Rodrigues Coelho:

“Os atletas não podem se esquecer que a vida útil irá até os 35 anos, mais ou menos. Todos terão, no mínimo, mais 35 anos de vida. É aí que vem a pergunta: "E agora, o que fazer?"