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Futebol 360 com Betão: Sonhos da base já não são os mesmos

Betão
Endrick comemora assinatura de seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras
Endrick comemora assinatura de seu primeiro contrato profissional com o PalmeirasFabio Menotti
Caros leitores, a Copinha está chegando e essa é a maior vitrine para os atletas das categorias de base. Mas, de uns anos para cá, os anseios, sonhos e desejos dos atletas das categorias de base mudaram. Será que todos os jovens ainda sonham em jogar na equipe profissional do seu clube de formação ? Na coluna de hoje irei explanar alguns pontos sobre o assunto.

Sou de uma época em que o sonho de um atleta oriundo das categorias de base era chegar à equipe profissional, poder pisar em um "gramado de verdade", ouvir o seu nome sendo gritado pela torcida, marcar seu nome na história do clube, ter a oportunidade de estar próximo dos jogadores que eram referência na equipe, ouvir a famosa "resenha" dos mais experientes...

A ideia era trilhar uma carreira dentro do seu clube de formação, até como forma de gratidão pela oportunidade. E depois, se houver possibilidade, partir para um novo desafio. 

Mas a evolução comportamental globalizada em todos os ramos do futebol (gestões, imprensa, torcedor, mercado da bola, etc) mudou o comportamento dos atletas. O que podemos ver hoje no Brasil, independentemente do clube, é que os jogadores da base não têm a mesma ambição de antigamente, tirando raríssimas exceções

O desejo de vestir a camisa da equipe profissional do seu clube de formação não existe mais. Já ouvi declarações que a equipe profissional só serviria de "trampolim" para uma maior valorização em negociação futura.

Muitos talentos da base se perdem pelo caminho por desvalorização dos clubes
Muitos talentos da base se perdem pelo caminho por desvalorização dos clubesAnderson Rodrigues/saopaulofc.net

Mas porque houve essa transformação de comportamento? Não quero usar frases prontas, como: "Por que são mercenários desde cedo" ou "Por que são ingratos" ou ainda, "O clube fez sacanagem", etc.

Não é minha intenção julgá-los se estão certos ou errados, mas gostaria de analisar alguns pontos de vista para tentar entender de uma forma mais abrangente essa situação.

Rubens foi formado na base do Atlético-MG antes de chegar ao profissional
Rubens foi formado na base do Atlético-MG antes de chegar ao profissionalPedro Souza / Atlético

Os atletas de base não se sentem valorizados pelo clube?

Escuto essa frase desde os tempos de menino. A questão é que o clube acredita que o jogador precisa ser pacientes antes de uma valorização interna, devendo demonstrar gratidão pelo fato de ter recebido oportunidade em seu início de carreira.

Já o atleta, por sua vez, sempre diz que "roeu o osso" e que a hora de "comer o filé" nunca chega. E é justamente essa "demora na valorização” que faz o atleta pensar em sair.

Chegar à base de um time grande é privilégio de poucos jovens
Chegar à base de um time grande é privilégio de poucos jovensRenan Jardim / Grêmio FBPA

É fato que em 95% dos casos, os jogadores que vem de fora (contratados de outros clubes) são mais valorizados do que aqueles que são da base. Porém, os que chegam de outros times nem sempre são mais eficientes. 

Sempre haverá aquela questão: qual lado deve ter mais gratidão e reconhecimento? Dos atletas aos clubes ou dos clubes aos atletas? Com essa desvalorização interna, muitos preferem buscar novos ares para conseguir a tão sonhada valorização em outro clube.

Mundo ideal para os clube é ter importante retorno financeiro com jogadores formados na sua base
Mundo ideal para os clube é ter importante retorno financeiro com jogadores formados na sua baseDaniel Ramalho - CRVG

Atletas são tratados como mercadorias?

Como escrevi anteriormente, ocorreram várias mudanças comportamentais entre os atletas de antigamente e os atletas de hoje. E essa visão de que o jogador é tratado somente como uma "mercadoria" (se serve para aquele momento, ok...se não serve, vendo ou coloco para fora), revela uma alteração no mercado da bola, que já é muito perceptível, mesmo pelos  jovens atletas.

Alguns se sentem usados pelos clubes, que buscam uma tentativa de retorno financeiro e até mesmo usá-los como moeda de troca (o que não acho errado). Por outro lado, ao longo da minha carreira, já ouvi relatos que determinado clube "forçava" o jogador a aceitar a proposta, pois seria um bom negócio para o clube.

Mesmo não sendo tão vantajoso ao atleta, o mesmo deveria aceitar a proposta. Caso contrário, sofreria represálias. Essa falta de sensibilidade poderia influenciar para essa mudança de comportamento?

Relação sadia entre jogador e sua família com o clube e empresário é fundamental, mas nem sempre possível
Relação sadia entre jogador e sua família com o clube e empresário é fundamental, mas nem sempre possívelFabio Menotti

Sonho vendido por empresários?

Na intenção de deter 100% dos direitos dos atletas e, assim, ter uma rentabilidade maior, muitos empresários fazem promessas de possíveis negociações ou até de negociações inexistentes, alimentando um sonho. Isso mexe diretamente com o anseio e a necessidade financeira dos atletas e seus familiares.

A falta de transparência dos empresários e a falta de informação e conhecimento dos atletas acaba gerando um desconforto entre jogadores e clubes. Os jovens atletas acabam perdendo o foco e, por essas promessas, preferem se desligar do clube ao invés de tentar trilhar uma carreira em seu clube de formação.

Ian Luccas, de 20 anos, trocou a Ferroviária pelo Cruzeiro em busca de sonhos maiores
Ian Luccas, de 20 anos, trocou a Ferroviária pelo Cruzeiro em busca de sonhos maioresGustavo Aleixo/Cruzeiro

Quantos talentos foram perdidos por causa da "compra de um sonho"? Atletas que tinham tudo para serem destaques em seus clubes, mas foram seduzidos por uma falsa promessa.

Por essas e outras é que acho fundamental que a relação entre empresários e atletas não deve ser fundamentada no dinheiro e sim na cumplicidade e parceria. A busca por conhecimento e informação por parte dos atletas tem que crescer cada vez mais. Eles precisam manter os pés no chão para não serem seduzidos facilmente por esses "sonhos".