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Futebol 360 com Betão: Violência de torcida me causou sensações que não desejo a ninguém

Betão
Video quebrado de ônibus da delegação do Palmeiras
Video quebrado de ônibus da delegação do PalmeirasSE Palmeiras
Caros leitores, no último final de semana, infelizmente, o que chamou a atenção não foram somente os gols dos campeonatos estaduais. Mais uma vez, a violência ganhou destaque.

O que me deixa mais triste é que esses atos de vandalismo estão sendo normalizados.

Eles estão diretamente ligados ao futebol, esporte que deveria ser sinônimo de integração, educação e cidadania e se tornou sinônimo de violência, afastando muitas famílias dos estádios.

Na madrugada da última sexta-feira (2), alguns “torcedores” estiveram no CT do Corinthians (CT Joaquim Grava) e dispararam rojões em direção ao local. Já no sábado (3), um torcedor do São Paulo arremessou uma garrafa no ônibus que levava a delegação do Palmeiras e foi detido. 

No domingo (4), antes da bola rolar no clássico entre Vasco e Flamengo, torcedores protagonizaram cenas de violência fora do Maracanã. Pelo levantamento, cerca de 60 torcedores foram detidos e ocorreu uma morte. Foram três dias seguidos de violência no futebol, isso não pode ser considerado normal. 

Violência é (muito) diferente de pressão

Existem algumas frases utilizadas por torcedores que acabam sendo um reflexo da nossa sociedade, por exemplo: “Se não aguenta pressão, sai do clube”, “Joga por amor ou joga por terror”, “Se não ganhar o jogo, vamos te buscar na sua casa”. 

Todos sabem da responsabilidade que é defender a camisa de um clube que representa milhões de torcedores apaixonados.

O futebol é um esporte que está diretamente ligado ao fanatismo, à paixão e emoção dos torcedores. Mas será que tudo isso faz parte do jogo ? Não podemos normalizar a violência e agressões. A indignação vai além, pois algumas pessoas apoiam e fomentam tais atitudes, inclusive pessoas influentes que estão na mídia.

Terror na pele 

Quando ainda atuava pelo Corinthians, passei por muitas situações constrangedoras como  invasões no CT, invasão de ônibus, invasões de gramado durante o jogo e invasão de concentração. Elas me despertaram sensações que não desejo para ninguém.

O sentimento foi de insegurança e vulnerabilidade. Certa vez, em 2006, o clube estava passando por um momento difícil na reta final do Brasileirão. Fomos fazer uma “intertemporada” na cidade de Jarinú (interior de São Paulo), local afastado, no meio do nada e rodeado pela mata. 

Por volta de 22hs após o lanche da noite, começamos a ouvir alguns sons vindos da mata, os quartos ficavam no final de um barranco. Quando saímos dos quartos, vimos cerca de 20 torcedores que tinham invadido o local e desciam alvoroçados pelo barranco. Eles estavam visivelmente alterados.

Na ocasião, não tínhamos o apoio de seguranças e nós mesmos tivemos que resolver a situação até que o treinador Emerson Leão chegou para intervir. Foi uma situação assustadora e constrangedora ao mesmo tempo.

Outra vez foi quando fomos rebaixados em 2007. Após o fatídico jogo, todos ficaram no vestiário por mais de uma hora. Quando estávamos todos prontos, subimos em um silêncio sepulcral no ônibus.

O veículo saiu do estádio e não demorou 5 minutos para um torcedor sair de dentro do banheiro do ônibus, tentando agredir os atletas. Até hoje, não sabemos como ele havia acessado o ônibus. Vale lembrar que, em algumas rodadas anteriores, este mesmo cidadão havia “jurado” os atletas no estacionamento do estádio Pacaembu.

Na ocasião, disse que, em caso de rebaixamento, todos deveriam se mudar de país, pois ele iria atrás e que sabia onde todos moravam. Poderia citar outras dezenas de situações que passei como atleta. Daria para escrever um livro.

Pouca coisa mudou 

Se pararmos para analisar, daqueles tempos para os dias de hoje, poucas coisas mudaram e ainda temos casos semelhantes acontecendo: as ameaças continuam, as agressões físicas seguem, a violências também. Como não existem punições à altura, essas situações não param de acontecer. Assim como qualquer outra pessoa, os atletas querem, no mínimo, ter segurança em seu local de trabalho.