Futebol feminino do Brasil conta com "invasão" de colombianas em 2023
Das 40 gringas que começaram a Série A1, 11 são colombianas. O país é considerado, hoje, uma das principais potências do continente. Uma de suas maiores estrelas, inclusive, joga no Real Madrid e atende pelo nome de Linda Caicedo, uma atacante de apenas 18 anos.
A pouca idade mostra a capacidade do futebol colombiano de formar atletas jovens, já em condições de atrair atenção de um dos principais clubes do mundo.
No Brasil, Atlético-MG, Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras, Santos, Flamengo, Ferroviária, Real Brasília e Grêmio contam com pelo menos uma colombiana em seu elenco.
"Com o aumento do calendário brasileiro para a maioria dos clubes da A1, cria-se a necessidade destes clubes terem cada vez mais elencos qualificados, titulares de rotação e reservas de bom nível, buscando manter o nível da equipe titular e atenuar a sequência de jogos e viagens", comenta Thiago Ferreira, analista de desempenho e criador de conteúdo do canal Planeta Futebol Feminino
"O mercado sul-americano é rico em boas oportunidades de mercado e acredito que esta última janela sedimentou isso. A Colômbia é a atual segunda força do continente, e a chegada de colombianas abre um novo momento no mercado brasileiro. Jogadoras selecionáveis são mais resistentes a virem para o Brasil, já que, longe de suas ligas nacionais, antigamente ficavam mais invisíveis para a suas comissões nacionais."
"Porém, com as constantes conquistas das equipes brasileiras na Libertadores, o atrativo se torna maior para jogadoras de outros locais. Outro diferencial para as equipes brasileiras é o calendário, que oferece um bom número de jogos por ano e mantém as atletas em atividade por mais de nove meses em alguns casos", pontua.
Na última edição da Copa América, a Colômbia perdeu para o Brasil na grande decisão por 1 a 0.
Vantagens que fazem a diferença
Alguns atrativos permitiram que as atletas da Colômbia não pensassem duas vezes para jogar no Brasil, sabendo do cenário mais competitivo, da maior visibilidade e da melhor remuneração que encontrariam por aqui.
"No Brasil, temos mais torneios, o nível é melhor e o calendário dura mais tempo. É um cenário mais organizado, de melhor apoio. O salário também é mais alto", conta a volante Jessica Peña, do Grêmio, que pratica futebol desde os nove anos de idade. "Sempre tive não somente a vontade, mas o sonho de chegar a um nível que me permitisse jogar no Brasil. Estar aqui é algo especial", conta.
Depois de começar a jogar futebol com 16 anos, Ingrid Guerra, atacante do Atlético-MG, vê no Brasil um melhor local para ganhar a vida, mas não deixa de lembrar da qualidade do futebol colombiano.
"A técnica e o talento das jogadoras são os mesmos", garante. "O futebol feminino da Colômbia é de bom nível há algum tempo, a presença dos times do país na Libertadores e os resultados da seleção nacional mostram isso. Não tenho dúvidas de que o número de colombianas no Brasil vai crescer nos próximos anos, vocês verão", reforça.
Êxodo para fazer ponte e aproveitar oportunidade
O talento "dentro de casa" e o prazer de jogar diante de seus compatriotas ainda não são suficientes para as colombianas seguirem em seu país diante de um boa proposta. Estar no Brasil é um salto na carreira, uma ponte que pode ser ainda mais extensa com uma possível negociação para novos rumos. Do Brasil, a tendência são patamares mais altos.
"É uma oportunidade de ganhar mais experiência. Não poderíamos deixar de aproveitar esta chance em um país com um ótimo nível futebolístico. Na Colômbia, os contratos duram poucos meses, os salários por lá não valem tanto a pena, é pra sobreviver e só", conta a também atacante das Vingadoras Manuela Paví.
As conquistas recentes das jogadoras colombianas serviram para mostrar o patamar do futebol local, que entra na rota internacional em um caminho que tem tudo para não ter volta. "Ss dois últimos anos foram vitais para o crescimento do futebol feminino colombiano. O lado triste é que, dentro de nosso país, ainda não temos o devido apoio, mas estamos lutando por isso. A presença de colombianas em vários times do planeta mostra a nossa força", lembra a atleticana.