Futebol 360 com Betão: Estaduais exigem pressão surreal para um campeonato sem glamour
Deve-se fazer experiências na competição? Deve-se aproveitar para dar ritmo de jogo a todos os atletas? Deve-se observar atletas da base? E assim por diante...
Eu aprendi uma frase com Fernando Carvalho, ex-presidente e campeão mundial com o Internacional, que diz assim: “Cada realidade, a sua verdade”.
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Os campeonatos estaduais perderam aquele glamour dos anos 90 e do início dos anos 2000. Na época, existia uma grande expectativa para o início das competições.
Clubes, atletas, torcedores e imprensa pareciam estar todos na mesma sinergia. Hoje, vemos muitas opiniões contraditórias sobre o tema, o que faz perder um pouco do brilho dos campeonatos estaduais.
Alguns clubes, como o Athletico-PR, deixaram de utilizar sua equipe principal no estadual, visando uma melhor preparação para o restante da temporada. A opção tem dado certo, tanto que outras equipes estão seguindo o mesmo caminho. Estou de acordo que, quanto mais tempo os treinadores e atletas tiverem de preparação, melhor será.
Mas isso serve para todas as equipes? Não! Como diz a frase do Fernando Carvalho: “Cada realidade, a sua verdade”.
Fatores preponderantes
Para que se possa ter uma avaliação mais exata do que é importante para cada clube, existem vários fatores que pesam nessa decisão. Vou citar alguns deles.
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Pressão por títulos: Mesmo que seja somente um início de trabalho, alguns clubes iniciam a temporada já pressionados. A escassez de títulos faz do campeonato estadual a principal competição do ano, tendo em vista que pode ser a única real oportunidade da conquista de um título para muitas equipes.
Pressão por resultados imediatos: Seja um treinador que acaba de chegar ao clube ou que terminou a temporada anterior sem resultados expressivos, o campeonato estadual requer resultados imediatos. Muitas vezes, isso influencia na escalação utilizada no início da competição.
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Rivalidade local: Em cada estado, sempre existe uma rivalidade, seja ela histórica, por tabus, por tempo sem conquistas de títulos estaduais ou por quantidade de títulos conquistados no estado. Pensando nesse fator, em alguns estados não se pode nem cogitar um time alternativo. É dada uma maior importância à rivalidade local do que para o restante da temporada.
Financeiro (premiações e bilheteria): Alguns campeonatos estaduais, como o Paulistão, oferecem premiações financeiras aos clubes campeões. Com isso, algumas diretorias pressionam o planejamento dos treinadores para entrar com força máxima neste torneio. Sem contar que, na maior parte do campeonato, a presença do público é muito baixa, e alguns clubes saem no prejuízo em dias de jogos.
Torcedor, mídia e patrocínios: Para que o torcedor compareça aos estádios, além de ver seu time de coração, a maior atração são os jogadores. Todos querem ver os principais em campo. Para que se tenha maior público e uma boa renda, alguns clubes impõem a utilização dos principais jogadores.
Por incrível que pareça, alguns patrocinadores também solicitam a utilização do time principal nos estaduais. Existe também a força da própria mídia que, por transmitir jogos ao vivo, faz uma “pressão” para que os principais jogadores estejam em campo.
Calendário: Por outro lado, o fator de maior interferência é o calendário do futebol brasileiro. Muitos são beneficiados por esse calendário inadequado, menos os principais participantes do espetáculo, os atletas. Temos um calendário inchado, que somente prejudica de forma direta a performance em campo.
O fato de uma pré-temporada ser feita com um tempo inadequado, exigindo que os atletas estejam, em menos de 20 dias, aptos a apresentar um desempenho de alto nível, é algo surreal. Para os clubes menores, que não têm calendário no ano e que iniciaram a preparação no ano anterior, é algo que faz sentido. Por isso, é algo que deve ser revisto com muita atenção.
Pensamento a longo prazo
Reforço minha opinião que, para os clubes com ambições maiores na temporada, sou a favor que utilizem os campeonatos estaduais para testar esquemas táticos, observar os novos contratados, dar ritmo aos atletas, poupar jogadores para uma melhor preparação física para suportarem o ano, utilizar os jovens da base, etc.
Claro que sempre compreendendo o contexto de cada clube. Afinal, “cada realidade, a sua verdade".