Cinco motivos que explicam o fiasco da Seleção Brasileira desde a queda no Catar
Apesar de continuar formando grandes nomes para as principais ligas do mundo, o futebol brasileiro não vem conseguindo um coletivo forte e os números mostram a crise atravessada pela Seleção desde a eliminação na última Copa do Mundo para a Croácia, nos pênaltis, nas quartas de final.
Confira a tabela das Eliminatórias no Flashscore
Foram 19 jogos desde então, com seis derrotas, seis empates e apenas sete vitórias. Neste período, a Seleção ainda acumulou recordes negativos nunca antes registrados, além de uma dura eliminação para o Uruguai nas quartas de final da Copa América.
Nas Eliminatórias, apenas em quinto lugar com 10 pontos, o time acumulou quatro jogos consecutivos sem vitórias, com três derrotas seguidas. Além disso, voltou a perder uma partida no torneio qualificatório após 37 jogos, vendo ainda um tabu de 22 anos sobre o Uruguai ser "estraçalhado" em Montevidéu.
Neste cenário preocupante, o Flashscore listou abaixo cinco motivos que explicam o fiasco atual da Seleção Brasileira:
O conto Ancelotti
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, tinha um plano depois de mais uma eliminação da Seleção em Copas do Mundo e o fim de contrato de Tite. O objetivo era trazer um treinador estrangeiro e Carlo Ancelotti tornou-se a grande ambição do dirigente. Só faltou - literalmente - combinar o mesmo com o multicampeão comandante do Real Madrid.
Envolvido por uma falsa promessa de que Ancelotti desembarcaria no país antes da Copa América nos Estados Unidos, respeitando o tempo de contrato com o Real Madrid, Ednaldo propôs que a Seleção tivesse um técnico "tampão". O escolhido foi Fernando Diniz, campeão da Libertadores com o Fluminense.
Nas coletivas, Ednaldo se calava sobre Ancelotti, enquanto Diniz afirmava que era o técnico principal, sem tocar no assunto de ser um interino improvisado até que o italiano chegasse.
No fim, todos sabem como essa história terminou. Ancelotti, que nunca afirmou ter dito sim ao Brasil, acabou renovando com o Real Madrid e Diniz foi sacado do cargo para que Dorival Júnior, campeão da Copa do Brasil com o São Paulo, fosse contratado como o técnico principal.
Um atraso de planejamento que custou caro e se reflete no processo de busca de identidade da Seleção, que ainda não tornou-se um time. É um mero amontoado de talento sem direção.
Quem é o presidente da CBF?
No meio de todo esse tumulto, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, ainda foi afastado de suas atribuições em decisão judicial. Não surpreende o fato de Ancelotti ter "pulado do barco" antes mesmo que isso se tornasse algo sério.
Aliás, o estado da Confederação Brasileira de Futebol explica muito do baixo rendimento da Seleção Brasileira e dos sucessivos vexames do time desde então. Os últimos cinco presidentes deixaram o cargo por suspeitas de irregularidades.
Ricardo Teixeira foi banido do futebol após ser acusado do recebimento de mais de R$ 30 milhões em propinas. José Maria Marin foi condenado a quatro anos de prisão após ser denunciado pela justiça dos Estados Unidos por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Marco Polo del Nero foi banido pela FIFA por receber propina em troca de acordos comerciais. Rogério Caboclo, o presidente que antecedeu Ednaldo, foi afastado depois de ser acusado de assédio sexual por uma funcionária da CBF.
Já Ednaldo Rodrigues, o presidente atual, foi deposto da entidade por ter sua eleição considerada irregular pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele voltou ao cargo no início do ano por decisão do ministro Gilmar Medes, do Superior Tribunal Federal (STF), e o caso ainda está em aberto.
A crise também está na base
É fato que o mercado brasileiro segue alimentando o futebol internacional, especialmente o europeu. Grandes valores estão surgindo no país, como Endrick e Estêvão. Todavia, as seleções de base do país estão patinando, emulando os resultados ruins do time principal.
Bicampeão olímpico, o Brasil, mesmo com Endrick, foi incapaz de conquistar uma classificação para os Jogos Olímpicos de Paris, caindo no qualificatório deste ano.
Na Copa do Mundo Sub-20 do ano passado, a Seleção Brasileira da categoria foi eliminada por Israel nas quartas de final, sendo derrotada por 3 a 2. O Brasil chegou a ficar duas vezes na frente do placar, mas não soube segurar a vantagem.
País do futebol?
Para os estrangeiros, ainda é difícil entender a relação do povo brasileiro com a Seleção. Um relacionamento que só vem se deteriorando ao longo dos anos. Cinco títulos mundiais estão na conta. Mas o último aconteceu há 22 anos e, desde então, o povo brasileiro está muito desgostoso com o que tem visto da Seleção.
Existe uma crise de identidade, já que muitos dos talentos deixam o país muito cedo e por valores até inferiores do que foram investidos nos últimos anos. Em 2023, foram pagos 935,3 milhões de dólares (cerca de R$ 4,9 bilhões pela cotação atual) por 2.375 brasileiros, 19% a menos do que foi pago pelos 1.753 negociados em 2018, segundo relatórios da FIFA.
Com isso, fica difícil criar um vínculo com os atletas e até mesmo reconhecê-los como potenciais craques do time verde e amarelo. Cada vez mais interessados em suas realizações pessoais, muitos desses atletas acabam não dando liga quando se juntam e o brasileiro comum, preocupado com o estado de seu clube do coração nos torneios nacionais e internacionais, solta até um "graças a Deus" quando o técnico da Seleção resolve não convocar ninguém que esteja atuando no futebol brasileiro.
É uma dinâmica cruel, que reflete o grande distanciamento entre a paixão do brasileiro pelo futebol e pela Seleção, vista cada vez mais como um empecilho ou então um saudosimo barato. Isso sem contar na conotação política que o time acabou despertando em um país extremamente dividido.
E o Neymar?
O principal craque da Seleção Brasileira é o mesmo desde 2011. Neymar responde pelos apelos do futebol brasileiro e, por mais que muitos falem de seu comportamento extracampo, a situação da Seleção sem ele é muito pior. A "Neymardependência" é real e o Brasil ainda não conseguiu lidar com isso - há mais de uma década.
Temos outros talentos, como Vinicius Junior e Rodrygo, outros nomes despontando como Endrick, Estêvão e Savinho, mas nada se compara a importância de Neymar em um terreno bem pobre de ideias e que, por muitas vezes, padece pela falta de iniciativa e também de assumir responsabilidades. É um Brasil mecânico, comum, sem brio e vazio.
Bônus: Parados no tempo
O futebol brasileiro, por muito tempo, acreditou que seus grandes craques conseguiriam dar jeito nas mais complicadas situações que a Seleção se colocava. E, realmente, as coisas eram mais simples com Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Adriano, Kaká e tantos outros.
Mas o futebol mundial não é apenas individualidade, ou o um contra um, a ginga, o toque final imprevisível. Obviamente que tudo isso, em um contexto geral, traz ao jogo a magia que lhe faz ser o mais popular do mundo. Mas o futebol também é coletivo e o Brasil parou no tempo no aspecto técnico e tático.
Não que o Brasil não seja capaz de derrotar uma seleção europeia. A bem da verdade, as últimas cinco Copas mostraram que isso tornou-se uma missão pra lá de complicada, com o país sendo derrotado no mata-mata em todas as ocasiões. Mas, se taticamente a postura não for mudada, ficará cada vez mais difícil competir. E isso pode passar pela necessidade de ter um técnico estrangeiro no comando.
O Brasil precisa evoluir em diversos aspectos e se desvincular de algumas arrogâncias que fazem nosso jogo não sair mais do marasmo. Haja vista, cravar que a Seleção estará na final da Copa do Mundo de 2026. Será mesmo?