OPINIÃO: Estrelas do Brasil devem se mobilizar para salvar a Seleção
Ainda não há motivo para pânico quanto à participação do Brasil na Copa do Mundo de 2026 (em parte devido à expansão do torneio para 48 equipes), pois o país só precisa terminar entre as seis melhores equipes da América do Sul para se classificar. A derrota mais recente para o Paraguai (por pior que tenha sido) deixa o país na quinta posição e ainda no caminho certo para chegar ao Mundial.
O que é mais preocupante é que a derrota por 1 a 0 não surpreendeu ninguém que tenha acompanhado o time de perto nos últimos anos. O Brasil não venceu a Argentina, o Uruguai ou a Colômbia desde que foi eliminado da Copa do Mundo de 2022 nas quartas de final e foi muito mal na Copa América de 2024. O Brasil é uma nação com uma crise de identidade.
O novo técnico Dorival Júnior tem um grupo de jogadores com talento mais do que suficiente para atuar em um nível muito mais alto do que o atual, mas que parecem sobrecarregados pelos grandes nomes que vieram antes deles.
A Seleção de 2024 está sozinha, sem o apoio de ex-jogadores lendários que veem uma equipe sem o talento e a magia que havia em abundância. Mas esta é uma nova era e, embora essa safra de jogadores possa não ter um Ronaldinho, Pelé ou Ronaldo, muitos são jogadores de classe mundial em seus clubes. Portanto, eles precisam do apoio das lendas, dos torcedores e da mídia brasileira para ajudá-los a ter o mesmo desempenho pelo seu país.
No entanto, antes de ser surpreendida pela Croácia no final da partida no Catar, a Seleção era a primeira colocada no ranking mundial e a grande favorita para acrescentar um sexto título à sua ilustre história na Copa do Mundo. Então, o que deu tão errado tão rapidamente após aquela derrota esmagadora?
Quando o Brasil perdeu sua identidade?
Após a dolorosa derrota do Brasil para a arquirrival Argentina na Copa América de 2020, em casa, o país teve uma impressionante sequência invicta após aquele dia sombrio que antecedeu a Copa do Mundo de 2022.
Essa série invicta (incluindo amistosos) durou 16 meses e terminou com uma derrota surpreendente contra Camarões na Copa do Mundo, com 14 vitórias e apenas três empates.
Portanto, a subsequente eliminação da Seleção nas quartas de final da Copa do Mundo é difícil de entender em uma equipe que estava em ótima forma e com um elenco repleto de qualidade.
E se isso já parecia ruim, o que veio depois só confirmou ainda mais o declínio da superpotência mundial para a mediocridade.
Desempenhos decepcionantes e resultados inconsistentes foram a história pós-Catar, enquanto o Brasil se adaptava à vida sem seu talismã lesionado e maior artilheiro de todos os tempos, Neymar.
Jogadores envelhecidos e de baixo desempenho, como Casemiro, Thiago Silva e Fabinho, também caíram em desgraça após a decepção da Copa do Mundo - deixando o Brasil com uma tarefa quase impossível de substituir a experiência e a qualidade de classe mundial.
Este se tornou um período de transição para o Brasil, que, apesar de possuir uma safra empolgante de jovens talentos, está sentindo muito a falta da magia de Neymar e das qualidades de liderança de Fabinho, Casemiro e Thiago Silva.
O Brasil parece uma equipe sistemática com jogadores acostumados à natureza rígida e muitas vezes inexpressiva do futebol europeu. No papel, essa é a direção que o futebol vem tomando há algum tempo, mas o Brasil não é uma equipe comum - talento e personalidade são o que fazem do Brasil o Brasil. E esta equipe atual parece não ter essa identidade.
O que está acontecendo de errado com Vinicius Junior?
Vinicius Jr. foi considerado o sucessor de Neymar, tanto em termos de carregar sua nação em grandes momentos quanto em termos de talento. Infelizmente, no entanto, Vinicius tem sido a maior decepção individual nos últimos 12 meses, pois não conseguiu repetir sua incrível forma no Real Madrid, que o colocou como favorito para ganhar a Bola de Ouro.
É justo dizer que Vinicius não é amado no Brasil como é em Madri e isso não é surpresa quando se comparam seus números no clube e no país.
Na temporada 2023/24, Vinicius marcou 21 gols e deu 10 assistências para o Real Madrid em 39 partidas. Em 10 partidas pelo Brasil, ele conseguiu apenas três gols e cinco assistências. Isso incluiu uma campanha decepcionante na Copa América, em que sua única contribuição com gols foi contra o Paraguai.
Simplesmente, o Vinícius do Real Madrid, que se tornou sinônimo de destaque nos maiores palcos, é um jogador diferente daquele que aparece na Seleção e muitas vezes é anônimo.
Uma possível explicação para os problemas de Vini no Brasil é a pressão para estar à altura das lendas que vieram antes dele. Essa expectativa e exigência em um país que vive e respira futebol devem afetá-lo.
A chegada de Dorival deu um novo e breve ânimo à Seleção, que logo se viu envolvida em resultados e atuações ruins novamente. O Brasil vinha de uma vitória contra a Inglaterra e de um empate em 3 a 3 com a Espanha nos dois primeiros jogos sob o comando do novo treinador.
Em ambos os jogos, o time pareceu muito melhor e esses resultados parecem ainda melhores agora que sabemos que a Inglaterra enfrentou a Espanha na final da Euro 2024.
Na escuridão, surge alguma luz
Parece que muitos problemas seriam resolvidos se Vinicius pudesse começar a jogar com a liberdade e a expressão que ele tem no clube, e a equipe como um todo poderia se beneficiar da simplificação das coisas. Seria muito bom ver a equipe sair para atacar os adversários com Vini causando estragos e Raphinha e Rodyrgo desempenhando papéis de apoio.
O Brasil tem jogadores de ataque com muita qualidade que precisam se conectar mais em campo. Quando houver uma melhor química na linha de frente, a tendência é que estes jogadores produzam algo como o apresentado em seus clubes.
E a pressão é grande, porque uma nova geração de garotos altamente talentosos está pedindo passagem.
Endrick já deixou sua marca na Seleção, marcando contra a Inglaterra e a Espanha em março. O adolescente também está começando a marcar gols pelo Real Madrid. Depois, há Estevão, que o Chelsea contratou no verão por 34 milhões de libras.
Somente em 2024, o adolescente prodígio marcou nove gols e deu sete assistências pela ala direita do Palmeiras e está sendo elogiado no Brasil por suas atuações.
Depois, é claro, há Vitor Roque. Sua passagem pelo Barcelona até agora pode não ter saído como planejado, mas um empréstimo ao Betis é uma oportunidade de provar seu valor na Europa e forçar sua entrada nos planos de Dorival Júnior. Eles são três entre muitos jovens talentos emergentes que estão batendo à porta dos jogadores mais experientes que estão à sua frente.
O futuro do Brasil depende de tirar o máximo proveito de seu melhor jogador, Vinicius Junior, e de suas estrelas do ataque começarem a jogar como uma equipe e não como indivíduos.
Caso contrário, Endrick e companhia estarão esperando por mais chances. E, como Endrick demonstrou com seu primeiro gol na Liga dos Campeões, esses jovens não têm medo de fazer justiça com as próprias mãos, se necessário.