Treta com Neymar, hiato, redenção e glória: a carreira de Dorival, novo técnico do Brasil
Nascido em Araraquara, interior de São Paulo, Dorival iniciou no mundo da bola no dente de leite do Atlas, da sua cidade natal. Depois passou pelo infantil do Marília, até chegar à Ferroviária, onde profissionalizou-se como jogador de futebol.
Um dos clubes que marcou a carreira de Dorival como atleta foi o Palmeiras, onde permaneceu de 1989 a 1992. No ano seguinte, em 1993, transferiu-se para o Grêmio de Luiz Felipe Scolari, técnico pentacampeão com a Seleção Brasileira em 2002. No Tricolor Gaúcho, ele conquistou o Estadual de 1993.
Em 1994, participou do elenco campeão brasileiro da Série B com o Juventude e encerrou sua carreira como atleta vestindo a camisa do Botafogo de Ribeirão Preto, em 1999. Na sequência de sua aposentadoria, seguiu atuante no futebol, agora exercendo cargos técnicos.
Formado em Educação Física, sua primeira oportunidade como treinador veio justamente na Ferroviária, em 2002. O resto é história. De Júnior, como era conhecido na época de atleta, ele se transformou em Dorival Júnior, acumulando passagens em alguns dos maiores clubes do futebol brasileiro, como Cruzeiro, Vasco, Santos, Atlético-MG, Internacional, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo e Athletico-PR.
Grande fase no Santos até uma rixa com Neymar...
Depois de rodar no futebol nacional por São Caetano, Cruzeiro e Coritiba, e devolver o Vasco à elite do futebol brasileiro em 2009, Dorival assumiu o comando do Santos, que tinha no elenco talentos geracionais como Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso.
Na Vila Belmiro, o treinador foi campeão paulista e ainda faturou a Copa do Brasil. Mas sua sequência acabou comprometida após nove meses. Dorival afastou Neymar por indisciplina.
O jovem astro santista discutiu com Dorival e com o então zagueiro Edu Dracena durante uma partida contra o Atlético-GO. Neymar tomou um gancho e teve sua punição ampliada por Dorival, algo que desagradou a diretoria do Santos. O treinador acabou sendo demitido.
Antes, Dorival já tinha movimentado o futebol brasileiro quando Paulo Henrique Ganso, um dos grandes nomes do Santos de 2010, recusou-se a deixar o campo na final do Paulistão daquele ano. Após a partida, o meia explicou o episódio. “Pedi para não sair. Sabia que poderia segurar a bola um pouco mais na frente”, afirmou.
Salvação do Galo, ida ao Inter e primeira passagem no Fla
Depois de deixar o comando do Santos, Dorival Júnior foi contratado pelo Atlético-MG e conseguiu livrar o time alvinegro do rebaixamento no Brasileirão de 2010, quando o Galo escapou na penúltima rodada.
Em 2011, foi contratado pelo Internacional e levou o Colorado às conquistas da Recopa Sul-Americana daquele ano e, posteriormente, do Gauchão de 2012. Do Colorado ele rumou para o Flamengo, em sua primeira passagem no time rubro-negro. Dorival acabou não sendo feliz, e sua permanência foi abortada por questões salariais.
Hiato de conquistas e muitos clubes
Depois da primeira passagem no Flamengo, Dorival acumulou momentos complicados em diversos clubes do país. As campanhas positivas estiveram longe do currículo do comandante, que amargou demissões e resultados ruins, inclusive em trabalhos em ambientes onde foi bem sucedido, como Vasco e Santos, além de mais uma passagem relâmpago no Flamengo.
Dorival decidiu dar uma pausa em sua carreira e ficou um ano e meio longe dos gramados. O período coincidiu com problemas familiares, como o diagnóstico de um câncer de mama recebido por sua esposa. Depois foi a vez do próprio Dorival ser diagnosticado com um câncer de próstata. O momento turbulento ainda ficou marcado pelo falecimento do pai.
Retomada no Ceará e a glória no Flamengo
Com os problemas superados e cura da doença que enfrentou, assim como sua esposa, Dorival assumiu o comando do Ceará em março de 2022. Ele obteve sucesso, vencendo os seis jogos que o time disputou na fase de grupos da Copa Sul-Americana.
O desempenho atraiu os olhares da diretoria do Flamengo, que contratou Dorival para o lugar do demitido Paulo Sousa. Rapidamente, ele devolveu a confiança ao elenco rubro-negro e conduziu os atletas às conquistas históricas da Copa do Brasil e da Libertadores.
Foi no Flamengo que, sem dúvidas, Dorival renasceu para o futebol brasileiro, comprovando suas ideias e voltando a conquistar títulos. No entanto, ele acabou não chegando a um acordo com o time rubro-negro para a renovação e deixou o comando técnico. Um desfecho que deixou a torcida do Fla bastante contrariada.
Fim de jejum no São Paulo e a Seleção Brasileira
Dorival então foi para o São Paulo para mais uma passagem no clube do Morumbi. Dessa vez, a história teve seu ápice. O comandante conduziu o Tricolor à inédita conquista da Copa do Brasil de 2023, justamente em cima do Flamengo. O São Paulo, ainda por cima, não conquistava uma taça de âmbito nacional há 15 anos.
Antes mesmo da histórica trajetória no São Paulo, Dorival já tinha falado abertamente sobre o seu desejo de assumir a Seleção Brasileira. Na ocasião, em tom de descontentamento, o comandante declarou que seu nome sequer havia sido lembrado após levar o Flamengo aos títulos da Libertadores e da Copa do Brasil de 2022.
Dorival teve que esperar. Afinal de contas, Fernando Diniz assumiu o cargo de forma interina em uma hipotética ideia da CBF de contar com Carlo Ancelotti na Copa América deste ano. O fato não se concretizou, já que o italiano renovou com o Real Madrid.
E com o péssimo rendimento de Diniz nas Eliminatórias, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, resolveu encerrar o vínculo com o treinador do Fluminense e contratar Dorival para assumir o cargo de treinador efetivo da Seleção.
O estilo de jogo de Dorival
Dorival não atua com um estilo de jogo preferido. O comandante é adepto da busca pelo equilíbrio. Mas, em geral, a cobrança de um time que ataque e marque com a mesma intensidade é a tônica dos seus trabalhos.
Houve alguns momentos de sua carreira que Dorival gostava do ataque total, como foi no Santos de Neymar e Ganso, e também no Cruzeiro. Na Raposa, especialmente, a equipe levava gols na mesma proporção que marcava.
Mas o treinador foi, aos poucos, crescendo o repertório tático e se adequando aos atletas que possuía, como quando colocou Pedro e Gabigol juntos no ataque rubro-negro. A dupla brilhou em 2022, e Pedro chegou à Copa do Mundo do Catar.
Por não ter um esquema de jogo preferido, Dorival pode trazer mobilidade e versatilidade à Seleção Brasileira. A equipe pode jogar tanto com dois atacantes abertos quanto com dois meias. Ele também pode optar pelo tradicional losango no meio-campo.
Tendo em vista o que já vinha trabalhando, a Seleção Brasileira de Dorival Júnior poderá ter dois zagueiros, um volante de pegada no meio-campo, dois meias com qualidade criativa e três atacantes, sendo dois pontas de velocidade e a referência no ataque. Aliás, encontrar esse 9 será uma das missões de Dorival, já que é nítida a falta desse componente na Seleção Brasileira atual.