Título da Libertadores pelo Flu eleva de vez o patamar de Fernando Diniz
É claro que assumir a Seleção Brasileira já havia sido um passo gigante. Mas ainda restava colocar o último tijolo na construção da imagem de grande treinador.
Veja como foi a final da Libertadores
O próprio Diniz, porém, faz questão de minimizar a importância dos títulos na avaliação de seus trabalhos. Para o técnico, os resultados se tornam consequência da evolução de cada jogador, não só no quesito profissional; do bom ambiente e das relações dentro do clube; do jogo que resgata a essência do futebol de rua.
“Se a gente não tivesse vencido, a gente não ia ser fracassado, como o Boca não é fracassado. Tem que parar com isso. Quem chegou aqui é campeão. Campeão não é quem ganha título, não. Campeão é quem vive com dignidade, quem respeita, trabalha com amor, e foi até o fim", disse Diniz em entrevista à TV Globo.
Na coletiva um dia antes da final, o treinador já havia adotado o mesmo discurso.
"Na minha vida, não é importante como me enxergam, e sim como eu me enxergo. Não estou à mercê da bola que vai entrar e da que não vai entrar. Se fosse assim, estaria mais propenso a ter um resultado que não gostaria, pois estaria muito mais ansioso do que estou", ressaltou.
Para chegar ao ápice de sua carreira, Diniz percorreu uma trajetória de 14 anos — quase o mesmo período em que o Fluminense foi do vice para a LDU ao título contra o Boca Juniors. Do começo no interior de São Paulo à conquista da América, alguns passos simbolizaram o caminho do treinador.
Brilho no Audax
Após iniciar a carreira no modesto Votoraty, Diniz rodou por clubes do interior paulista e passou pelo Paraná antes de ganhar uma chance no Audax, da primeira divisão de São Paulo. O trabalho do técnico ganhou notoriedade no país pelo estilo de jogo ofensivo, com troca de passes desde o goleiro, mesmo com um elenco limitado em um time pequeno.
O Audax eliminou São Paulo e Corinthians no mata-mata e perdeu a final para o Santos. O título não veio, mas a primeira semente do Dinizismo estava plantada.
Primeiros passos na Série A
Mesmo com o rebaixamento à Série A2 do Campeonato Paulista no ano seguinte ao vice, o trabalho de Fernando Diniz o credenciou a assumir um time da Série A do Brasileirão. A aventura no Athletico-PR em 2018, porém, durou apenas seis meses. O técnico sofreu para manter a solidez defensiva e teve resultados ruins.
Ainda assim, Diniz seguia com prestígio no mercado. Em 2019, assumiu o comando do Fluminense pela primeira vez, quase 20 anos depois de atuar pelo clube como jogador. O futebol ofensivo do Tricolor reanimou boa parte da torcida resignada após temporadas medíocres, mas a falta de resultados novamente perseguiu o técnico.
Com o Flu na zona de rebaixamento do Brasileirão, Diniz acabou demitido. Depois, o presidente Mario Bittencourt admitiu que se arrependia da decisão. Mas a história de Fluminense e Fernando Diniz ainda não tinha acabado.
Ascensão e queda no São Paulo
A essa altura, o futebol no Brasil já se dividia entre os dinizistas e os anti-dinizistas. A corrente a favor do técnico enaltecia suas qualidades e via potencial no trabalho; os detratores minimizavam o jogo vistoso pela falta de resultados e títulos.
Na passagem pelo São Paulo, entre 2019 e 2020, Diniz deu razão aos dois lados da polarização. O treinador levou a equipe à liderança do Brasileirão pandêmico, com direito a sete pontos de vantagem — e uma defesa que levava poucos gols.
Na reta decisiva do segundo turno, tudo desabou. O São Paulo engatou uma sequência negativa, sofreu derrotas inesperadas e viu o título escorrer pelas mãos. Novamente, Diniz foi demitido antes do término do campeonato.
A redenção definitiva
Após trabalhos curtos no Santos e no Vasco, o destino voltou a unir Fluminense e Diniz. O técnico assumiu o lugar de Abel Braga nas rodadas iniciais do Brasileirão 2022. A partir daí, começou-se a construir a consagração definitiva.
Com ótima campanha na Série A, o Flu fez 70 pontos, ficou em 3º lugar e garantiu vaga direta na Libertadores. Na Copa do Brasil, caiu na semi.
O ano de 2023 começou com um título histórico do Campeonato Carioca. A goleada de 4 a 1 em cima do Flamengo deu a Diniz seu primeiro troféu relevante. Mas o melhor ainda estava por vir.
Depois de passar pela fase de grupos da Libertadores com direito a 5 a 1 no River Plate, o Flu de Diniz foi superando os obstáculos no mata-mata. Com alta dose de emoção, é verdade. O técnico marcado pela coragem, enfim, alcançou sua grande recompensa.