Escândalo, violência e derrotas: Ajax vive uma das maiores crises de sua história
O clássico em casa contra o Feyenoord, de Roterdã, foi suspenso pelo árbitro no domingo (24) aos 10 minutos do segundo tempo, quando os visitantes estavam vencendo por 3 a 0, devido ao lançamento de sinalizadores e outros artefatos incendiários no campo pelos torcedores do Ajax.
Os torcedores invadiram o campo e entraram em confronto com a polícia montada, que foi forçada a usar bombas de gás lacrimogêneo.
"O clube está em chamas", foi o título no site da associação de torcedores, descrevendo a interrupção do jogo no domingo contra o arquirrival como "um agravamento da crise" que abala o clube 36 vezes campeão da Eredivisie.
Os 35 minutos restantes da partida serão jogados com portões fechados na quarta-feira (27), anunciou a federação neerlandesa de futebol nesta segunda-feira.
Pior colocação em meio século
É preciso voltar à temporada 1964/1965, quando o ícone do clube Johan Cruyff havia acabado de chegar à equipe juvenil do Ajax, para encontrar um começo de temporada pior.
A equipe, que venceu apenas uma partida na Eredivisie até agora, está a dez pontos do líder, o PSV Eindhoven.
Na Liga Europa, os jogadores do treinador Maurice Steijn, que assumiu o time em junho, empataram com o Olympique de Marselha (3-3), outro clube abalado por uma crise - e não será fácil se classificar em um grupo que também inclui o Brighton, atual terceiro colocado na Premier League inglesa.
Após o fiasco do domingo, o clube anunciou a saída "com efeito imediato" do diretor de futebol, Sven Mislintat.
Para a associação de torcedores, "está claro que a instabilidade reina no clube, não apenas em campo, mas também na diretoria".
Disputa pelo poder
No cargo há apenas quatro meses, Mislintat estava sendo investigado por um possível conflito de interesses em relação a uma transferência de última hora nesta pré-temporada, envolvendo o lateral croata Borna Sosa, por oito milhões de euros.
O Ajax negou que essa demissão esteja relacionada com a investigação, citando a "falta de apoio geral dentro da organização" como a razão por trás da decisão.
Mas o "caso Mislintat" tem sido tratado como um escândalo vergonhoso no país.
A imprensa holandesa tem relatado também uma luta pelo poder dentro do clube nos últimos meses.
Mislintat teria perturbado o treinamento na semana passada, gritando para os jogadores que Steijn poderia perder seu cargo em caso de derrota contra o Feyenoord.
As saídas consecutivas do diretor esportivo Marc Overmars, em fevereiro de 2022, e do diretor-geral Edwin van der Sar, em maio de 2023, fragilizaram a estrutura.
Caos total
"Foi, naturalmente, uma tarde muito sombria", admitiu Steijn no domingo. As especulações continuam sobre o nome de seu substituto. Louis van Gaal, lenda do Ajax, está doente e retirou o próprio nome da disputa, afirmando que sua saúde deve ser prioridade.
O diretor-geral interino do Ajax, Jan Van Halst, também está sendo alvo da ira dos torcedores e admitiu que o clube está passando por uma crise profunda.
"É um período muito difícil. Se fosse possível simplesmente mudar o rumo das coisas apertando um botão", disse.
O jornalista especializado em futebol neerlandês Jaap Stalenburg resume a situação da seguinte forma: "é o caos, um caos total".
"Eles estão brigando em todos os lugares. No campo, fora dele. Eles precisam de um ditador, de um líder forte para colocar ordem em tudo isso", acrescentou.
O Ajax, então treinado por Erik ten Hag, chegou às semifinais da Liga dos Campeões em 2019. Mas essa performance parace ter ficado em um passado distante.