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Kameni sobre caso Vini Jr.: "Existe racismo na Espanha e precisamos cortar esse mal"

Kameni durante a palestra do programa "El Deporte va por barrios"
Kameni durante a palestra do programa "El Deporte va por barrios"Ricardo Pastor
Com a questão de Vinicius de volta ao centro das atenções após a declaração do jogador do Real Madrid sobre o que aconteceu em Mestalla, Carlos Kameni, goleiro camaronês que passou a maior parte de sua carreira esportiva na Espanha, falou em palestra na sede da Cruz Vermelha, em Málaga.

"A educação é a base para erradicar esse problema", disse Carlos Kameni, que fez um discurso cru sobre a realidade do racismo no esporte e na sociedade espanhola. 

Durante a palestra, intitulada "No esporte não há cor", o goleiro camaronês - ainda em atividade e uma das vozes mais autorizadas do país para falar sobre xenofobia - afirmou sem rodeios que "na Espanha há racismo, devemos cortá-lo e criminalizá-lo", acrescentando que "a base está na educação".

Kameni, em frente ao prédio da Cruz Vermelha, em Málaga
Kameni, em frente ao prédio da Cruz Vermelha, em MálagaRicardo Pastor

O salão das modernas instalações da Cruz Vermelha, no bairro de Segalerva e muito perto de La Rosaleda, onde jogou por cinco temporadas como profissional, ficou lotado para a ocasião com refugiados e voluntários que não perderam um único detalhe de um discurso calmo, equilibrado e carregado de valores.

"Não concordo que não haja racismo no esporte espanhol. Há racismo todos os domingos. Existe racismo e temos que acabar com ele. Se dissermos que não existe, ele continuará acontecendo".

Sem educação básica, não há solução

Kameni declarou durante a palestra que "os pais têm uma responsabilidade".

"Não dou importância ao que acontece no campo. Eu não reclamo lá. Gosto de jogar. Quem está na arquibancada não conta. Ele desperdiçou seu tempo e dinheiro. Isso não me afeta. Isso me afeta na rua. No dia a dia. Isso é forte o suficiente. Nas escolas onde as crianças estudam", continuou.

Kameni ao do público que lotou a palestra
Kameni ao do público que lotou a palestraRicardo Pastor

O ex-jogador do Málaga e do Espanyol entende que esse é um assunto que "só é falado quando algo acontece no campo. Depois disso, não vemos a ação real. Nem no campo, nem na vida. Você acha que parar uma partida será a solução? Temos de educar. Ir às escolas. Se você disser isso na frente de seu pai ou de sua mãe... Você não fará isso de novo. Estou falando sobre as bases. Não há ser humano mais importante em sua vida do que seu pai".

Episódios racistas em sua carreira

Durante a palestra, apresentada pelo jornalista Borja Gutiérrez, Kameni relembrou algumas das provocações racistas que o assombraram durante sua carreira, como as famosas no estádido Mestalla ou no Montjuic, arena do próprio Espanyol, clube onde jogou, e trouxe à tona casos reais e atuais. 

"Eu disse anos atrás que tinha de agir. Não podemos deixar o tempo passar. Ontem aconteceu em Cartagena. Se você tem alguém ao seu lado, tem de dizer a essa pessoa para parar. Antes de Vinicius, isso aconteceu com Iñaki (Williams)."

Kameni com o cartunista Pachi Idígoras
Kameni com o cartunista Pachi IdígorasRicardo Pastor

 

"Quando aconteceu com Vinícius, falou-se em provocação... O que ele faz em campo não lhe dá o direito de expressar esse ódio. É o futebol. Nós deixamos passar muito tempo e isso aconteceu comigo em 2004. Quase 20 anos. Nada foi feito. Aconteceu com Eto'o duas semanas depois em Zaragoza. Deixamos passar tanta coisa... Vinicius? Mas, primeiro, quero que seja algo firme e quero que levemos o assunto a sério".