Vini Jr.: craque nos gramados e o rosto global da luta contra o racismo no esporte
O atacante brasileiro recebeu apoio global depois de se posicionar contra os insultos racistas que recebeu no domingo dos torcedores do Valencia no estádio Mestalla. Vinicius Júnior enfrentou a torcida adversária e chamou a atenção de um deles após gritos de "macaco". Depois de mais um episódio lamentável, ele foi às redes sociais para dizer que LaLiga "pertence aos racistas".
O brasileiro fez várias postagens condenando o tratamento vil que vem recebendo na Espanha, provocando um escrutínio mundial sobre a situação. A ascensão de Vini Jr. ao auge do esporte nas duas últimas temporadas foi meteórica, desde que chegou do Flamengo em 2018 por 46 milhões de euros.
Nascido em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, Vinícius Júnior surgiu como um talento adolescente, ostentando habilidade, rara capacidade de drible e velocidade. Ele se tornou o jogador mais jovem da história de seu clube a receber uma oportunidade no profissional, fato que aconteceu aos 16 anos.
Os merengues rapidamente o adquiriram em 2017, garantindo sua futura chegada, e olhando para o mercado brasileiro após o sucesso do Barcelona com Neymar.
Quando o maior artilheiro de todos os tempos do Madrid, Cristiano Ronaldo, foi para a Juventus após a Copa do Mundo naquele verão, Vini foi escalado para o time em seu lugar. Mas o jogador de 18 anos teve dificuldades iniciais para encontrar consistência.
Sua finalização irregular atraiu críticas dos torcedores adversários, conseguindo apenas 14 gols em 118 jogos em todas as competições em suas três primeiras temporadas. No entanto, na campanha de 2021/22, Vini Jr. melhorou drasticamente sob o comando do técnico italiano Carlo Ancelotti, marcando 22 gols, incluindo o gol da vitória contra o Liverpool na final da Liga dos Campeões.
Vini Jr. confirmou que sua ascensão não foi algo passageiro. Ele marcou 23 gols até o momento e vem causando estragos nas defesas, tanto dentro da Espanha quanto na Europa.
"Vinícius é o jogador mais decisivo do futebol mundial atualmente", disse Ancelotti em abril.
O brasileiro é o jogador que mais sofre faltas na liga, com mais passes bem-sucedidos e jogadas que culminam em gol.
"Quando ele chegou, especialmente durante a primeira temporada, estava sob tremenda pressão, era motivo de memes", disse Dani Carvajal no início de maio, antes da final da Copa do Rei.
"Receber essas críticas tão jovem e estar entre os três ou quatro melhores do mundo é algo que eu vi muito raramente. Tudo o que ele é agora é merecido, ele trabalhou duro física e mentalmente", acrescentou Carvajal.
Vinícius Júnior fez sua estreia na Copa do Mundo pelo Brasil em novembro do ano passado e recebeu grande apoio de sua terra natal. Infelizmente, sua ascensão na Espanha foi acompanhada por abusos abomináveis em suas viagens pelo país.
Intolerância sem fim
O último ponto de conflito pode vir a ser um momento decisivo, com Ancelotti exigindo "medidas drásticas" contra o racismo e rotulando o protocolo da FIFA de "obsoleto". A decisão de Vini Jr. de enfrentar os torcedores ajudou a chamar a atenção para um problema que muitas vezes é ignorado.
A LaLiga registrou nove incidentes de racismo contra ele nas duas últimas temporadas e se comprometeu a executar uma nova denúncia depois de investigar os incidentes em Mestalla, embora tenha havido pouco impacto até agora.
Como resultado, a polícia espanhola prendeu três torcedores em Valência e quatro ultras do Atlético de Madri na capital, depois que eles penduraram um boneco de Vini enforcado em uma ponte.
O país sempre registrou casos de racismo no futebol, com abusos contra jogadores da seleção inglesa em 2004, logo depois que o técnico da Espanha, Luis Aragonés, atacou o jogador de futebol francês Thierry Henry com uma injúria racial.
O ex-atacante do Barcelona Samuel Eto'o alertou em 2005 que o racismo estava se tornando mais difundido no futebol espanhol. Quase duas décadas depois, suas palavras continuam sendo verdadeiras.
Vinícius Júnior está sofrendo o impacto disso, embora outros jogadores de futebol negros, como Iñaki Williams, do Athletic Bilbao, também tenham sido atacados. Alguns, inexplicavelmente, culpam as "provocações" de Vini Jr. pelo abuso que tem recebido, já que o jogador gosta de discutir com jogadores adversários e frequentemente discute com os árbitros.
"Vini é uma vítima do que está acontecendo, ele não tem culpa, isso é certo", disse Ancelotti, desprezando a ideia.
"Às vezes as pessoas dizem que ele provoca, ou falam sobre sua atitude. Não, que fique claro - Vini é a vítima em tudo isso."
Até mesmo o presidente da LaLiga, Javier Tebas, criticou Vinícius Júnior por suas reclamações sobre a falta de ação em relação a abusos racistas, ao que ele respondeu: "Em vez de criticar os racistas, o presidente da LaLiga aparece nas redes sociais para me atacar."
Foi mais um sinal de que o atacante pode estar lutando contra um sistema falido, e suas ações foram aplaudidas por muitos.