O evento transformou Vinicius em um símbolo da luta contra o racismo, mas também abriu uma brecha entre o jogador e o Valencia, ofendido por Vinicius ter inicialmente chamado os torcedores "che" de racistas em geral.
A poucos dias do retorno de Vinicius ao estádio valenciano, esse desentendimento viveu um novo episódio com a proibição do clube de permitir o acesso das câmeras da Netflix ao estádio, que está preparando um documentário sobre o brasileiro.
Fontes valencianas disseram à AFP que a produtora não tem os direitos da partida e só queria que uma câmera focasse durante os 90 minutos na arquibancada da torcida, onde estavam as três pessoas que proferiram os insultos no ano passado.
Isso faz com que o Valencia tema pela intenção da gravação, de acordo com essas fontes, que também ressaltam que lhes foi solicitada uma entrevista com Hugo Duro, o jogador que recebeu o tapa pelo qual Vinicius foi expulso naquele jogo, depois de ter tido seus altos e baixos durante a partida.
A produtora, no entanto, poderá fazer imagens do lado de fora do estádio e na chegada e saída dos jogadores.
LaLiga respeita a decisão do Valencia
"Essas são decisões do clube e todas elas são muito difíceis de serem tomadas. Eles decidiram não deixar a produtora entrar, e eu tenho que respeitar isso", disse o presidente da LaLiga, Javier Tebas, na terça-feira (27).
"Não acho que o fato de não entrar para fazer o documentário seja uma consequência.... Acho que é uma medida de precaução. Na verdade, vou participar do documentário e vou dar uma entrevista", acrescentou Tebas.
Vinicius foi insultado na partida de 21 de maio de 2023 do Campeonato Espanhol, quando o Real Madrid perdeu por 1 a 0 no estádio Mestalla.
A partida foi interrompida por vários minutos e o jogador confrontou os supostos autores dos insultos, que ele apontou.
Três jovens estão sendo investigados por um tribunal de Valência, perante o qual Vinicius testemunhou em outubro passado que havia sido alvo dos insultos por ser negro e um importante jogador do Real Madrid.
Todos os três foram banidos para sempre pelo Valencia, que considera injusta a forma como Vinicius generalizou a imagem da torcida valenciana como racista.
O técnico do Real, Carlo Ancelotti, também culpou o estádio inteiro pelos insultos, antes de se retificar dizendo que estava se referindo a "um grupo que se comportou muito mal".
Jogo contra o racismo
O que aconteceu no estádio Mestalla acabou tendo uma dimensão internacional, com declarações de apoio ao jogador vindas, entre outros, dos mais altos níveis da Espanha e do Brasil.
O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, escreveu: "Tolerância zero para o racismo no futebol", enquanto o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, considerou que "as ligas devem tomar medidas sérias porque não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol".
As federações espanhola e brasileira também repudiaram o ocorrido e, como demonstração de apoio, as duas equipes jogarão um amistoso contra o racismo no dia 26 de março no estádio Santiago Bernabéu sob o slogan "Uma só pele".
Mas, antes dessa partida, Vinicius terá que voltar a um estádio cujo comportamento será observado milimetricamente no sábado e que também medirá o progresso do brasileiro no controle de suas emoções.
"Não sou santo, às vezes falo demais, driblo quando não devo, faço coisas que não deveria fazer, mas estou aqui para melhorar, quero melhorar", disse Vinicius em janeiro, após vencer a Supercopa da Espanha.