Aproveitamento de 100% na Eredivisie: Qual o segredo do PSV de Peter Bosz?
Com o PSV perdendo por 2 a 0 para o Sevilla, faltando pouco mais de meia hora para o fim do jogo e prestes a ser eliminado da Liga dos Campeões, Peter Bosz colocou um meio-campista ofensivo no lugar de um de seus zagueiros.
A mexida ofensiva deu certo: o time holandês empatou 20 minutos depois e acabou virando o jogo depois de ver o adversário ficou com 10 homens.
As coisas correm bem na Champions, com o PSV se recuperando de uma pesada derrota para o Arsenal para conseguir vaga na próxima fase.
Na Eredivisie, a situação é melhor ainda: 14 jogos, 14 vitórias, 50 gols a favor e apenas seis gols contra.
Quando Bosz assumiu o lugar de Ruud van Nistelrooy em junho, ele herdou um clube que não conseguia desafiar o Feyenoord de Arne Slot.
E depois que o garoto-prodígio Xavi Simons foi emprestado ao Leipzig, no meio do ano, nem mesmo os torcedores mais otimistas do PSV tinham muita esperança de que o clube pudesse conquistar algo nesta temporada.
O cenário mudou algumas semanas depois, quando a equipe de Eindhoven conquistou uma merecida vitória por 1 a 0 sobre os atuais campeões da liga e venceu a Supercopa da Holanda, o que provou ser um sinal do que estava por vir.
Embora não tenham um craque como Xavi, o elenco liderado por Joey Veerman, Johan Bakayoko, Noa Lang e Luuk de Jong está funcionando melhor do que nunca como equipe, produzindo um dos jogos mais vistosos da Europa.
Discípulos de Johan Cruyff, o técnico do PSV ficou famoso por seu estilo de futebol extremamente ofensivo - conhecido na Holanda como "BoszBall".
Assim como gostava Cruyff, a prioridade de Bosz é ter a bola, construindo jogadas desde a defesa e recuperando a posse o mais rápido possível, de preferência em cinco segundos.
Adotar a regra dos cinco segundos, como ele a chama, é arriscado, com a linha defensiva tendo de ficar alta e os jogadores tendo de sair da posição para pressionar o adversário, mas ele não se preocupa muito com isso, preferindo vencer por 4 a 3 do que por 1 a 0.
A equipe venceu por uma margem de três gols ou mais em nove ocasiões neste ano, marcando pelo menos quatro gols em sete partidas.
Mas o estilo da equipe não seria ofensivo demais para funcionar contra adversários mais fortes? Quando o Arsenal goleou o PSV por 4 a 0 no primeiro confronto da Liga dos Campeões, parecia que sim.
No entanto, ao contrário de suas passagens anteriores pelo Borussia Dortmund, Bayer Leverkusen e Lyon, onde as fragilidades defensivas acabaram por lhe custar o emprego, Bosz conseguiu fazer o esquema funcionar também contra times grandes.
Nas últimas quatro partidas, contra Lens, Twente, Sevilla e Feyenoord, o PSV se deu bem em todas.
A vitória mais impressionante foi o 2x1 em Roterdã, quando o Eindhoven abriu 10 pontos de vantagem sobre os atuais campeões, apesar de não contar com dois de seus principais jogadores, Lang e Hirving Lozano.
Sabendo que o Feyenoord atacaria sua equipe desde o início, já que precisava vencer, Bosz não quis priorizar a solidez defensiva (como a maioria dos treinadores faria), mas sim tirou um de seus zagueiros centrais e colocou o meio-campista Jerdy Schouten para jogar atrás.
Seu raciocínio era que a melhor maneira de impedir que o Feyenoord marcasse gols não seria recuando, mas impedindo que eles atacassem o máximo possível, mantendo a posse de bola.
"No final das contas, concluímos que é possível tentar defender e impedir que eles marquem um gol, mas preferimos que eles tenham de correr atrás da bola", disse o técnico após a partida.
"Foi por isso que decidimos colocar um meio-campista na defesa", explicou.
"Um risco? Não acho que seja. Se você se defender por noventa minutos, você perderá, então viemos aqui para vencer", concluiu Bosz.
E eles venceram, dando mais chutes a gol e registrando um xG mais alto em uma merecida vitória em cima de um treinador que atrai o interesse dos maiores clubes do mundo.
O PSV tem o melhor início de temporada entre todas as principais ligas europeias em 2023.
Essa arrancada inicial não acontece na Holanda desde 1987, quando o PSV de Guus Hiddink, campeão da Liga dos Campeões, ganhou as 17 primeiras partidas da liga.
Dada a sua abordagem kamikaze, não temos como prever se o time de Bosz vai ser dar bem no mata-mata da Champions, mas você pode apostar que o time fará bons jogos. Pelo menos aos olhos do holandês, é disso que se trata o futebol.
"Quero entreter os torcedores no estádio", disse Bosz certa vez. Em Eindhoven, ele certamente tem conseguido seu objetivo.