Mattheus Oliveira, filho de Bebeto: "Tive que provar duas vezes mais que os outros"
"Objetivo é a manutenção"
Qual o objetivo do Farense para esta temporada? Passa por estabilizar o clube na Liga Portugal?
Com certeza. A última vez que o Farense esteve na Liga acabou por descer de divisão, por isso a manutenção é muito importante para o clube ter estabilidade após o primeiro ano. Portanto, o principal objetivo do Farense é a manutenção.
Qual influência teve o técnico José Mota no acesso?
Ele foi muito importante. Tem muita experiência, já subiu muitas equipes e é um treinador que puxa muito pelos jogadores. Tivemos jogos em que não jogamos tão bem, mas mostramos uma alma e vontade enormes. Desde que o mister Mota chegou, tivemos apenas uma derrota e isso diz muito da sua importância no acesso.
E os torcedores?
Um dos principais motivos foram eles, que proporcionam um ambiente diferente do que estava habituado para a Liga Portugal 2. Notei que eram diferentes logo na minha chegada com o estádio cheio na segunda liga. Assim, o jogador sente-se mais jogador. Quando temos jogos em casa, Faro para e todos vão ao estádio.
O Mattheus já está em Portugal desde 2014...
Muito tempo! Portugal é a minha segunda casa. Já passei mais anos em Portugal como profissional do que no Brasil. Muitos não sabem, mas sou português desde os meus 15 anos e a minha segunda filha nasceu em Lisboa. Eu e a minha família somos muito felizes. Amo Portugal.
Como passa os seus dias?
Sou uma pessoa muito tranquila. Sou muito de estar com a família, de almoçar com a minha esposa e ir ao parque com a minha filha. O meu dia a dia é deixar a minha filha na escola, ir para o treino e depois fazer atividades com a minha família. Sou muito caseiro.
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O que mais o surpreendeu quando chegou a Portugal?
A evolução do campeonato português. Quando cheguei ao Estoril, nem todos os jogos eram passados na TV. No Brasil, todos eram transmitidos. Mas a proporção que tomou o campeonato português é absurda. Vês os jogadores da seleção portuguesa e são todos jogadores de grandes clubes. Até mesmo os treinadores. É um país que respira futebol e foi muito bacana acompanhar esta evolução.
Atualmente, o que gosta mais?
Adoro estar perto da praia. Adoro um clima em que não chova tanto e aqui em Faro tenho isso. Gosto da tranquilidade e da segurança e aqui em Portugal também temos isso. Conseguimos ter uma qualidade de vida excelente. Posso sair de casa com a família sem grandes problemas.
"Aquele período no Sporting foi o mais triste"
Algum dia chegou a pensar que podia representar a seleção portuguesa?
Os meus amigos sempre perguntaram isso, principalmente quando fui para o Sporting. O meu sonho sempre foi vestir a camisa da seleção brasileira, mas hoje, pelo carinho e forma como o país me acolheu e por me sentir um luso-brasileiro, não teria qualquer problema. Seria a forma de retribuir o carinho que os portugueses sempre me deram.
Estoril, Sporting, Vitória de Guimarães, Mafra e Farense. Como tem sido o percurso?
Teve altos e baixos. Alguns momentos de alegria e dificuldade. Mas os momentos de alegria foram sempre maiores...
Diga-me um...
Posso dizer vários. A qualificação com o Vitória (de Guimarães) para a Liga Europa; a temporada que fiz no Estoril e que deu a minha venda ao Sporting. Foi um sonho realizado, porque vim para Portugal para dar esse salto. Poderia mencionar mais, mas estes foram os principais.
E o momento mais triste?
Quando fiquei algum tempo sem jogar. Aquele período no Sporting foi o momento mais triste da minha carreira, embora tenha sido importante passar por aquilo para mudar a mentalidade. O meu pai sempre me disse que sem sacrifício não chegamos a lugar nenhum. Eu amo jogar futebol e estar sem fazer o que se ama é complicado...
Sente que podia ter feito mais no Sporting?
O time era muito forte. Quando cheguei, diziam que o William e o Adrien iam ser vendidos e não foram, o meio-campo da seleção portuguesa era William, Adrien e Bruno Fernandes. Fiz tudo o que estava no meu limite, tanto que o Jorge Jesus disse que estava satisfeito. Faltou sequência. Nos jogos em que tive oportunidade, joguei bem, tinha muita vontade, mas entendo também que era um período difícil. Não acho que tenha ido mal, mas tenho a cabeça tranquila porque fiz tudo o que podia ter feito.
"Sou muito grato ao Coates"
Como é que o Mattheus olha para a forte presença dos treinadores portugueses no Brasil?
Vejo de forma muito positiva. Cria-se muita polêmica, mas tem grandes treinadores portugueses. O Abel e o Jorge Jesus fizeram uma história fantástica. O Bragantino (do Pedro Caixinha) faz uma campanha espetacular e o António Oliveira também está faz um bom trabalho no Cuiabá. Independentemente da nacionalidade, o importante é o crescimento. Por exemplo, o Brasil há muito tempo não conquista o Mundial. Temos os melhores jogadores e é super importante ter os treinadores portugueses para ajudar.
Acredita que o Ancelotti pode devolver os títulos ao Brasil?
Acho que sim. Foi muito vencedor por onde passou. Venceu nas cinco principais ligas. Em termos de títulos, acredito que escolhemos o certo. Uma coisa curiosa do Ancelotti é que ele se dá muito bem com os brasileiros. Não tenho preconceito nenhum em relação a treinadores estrangeiros.
Escolha três treinadores e alguns jogadores que o tenham marcado.
Treinadores: Jorge Jesus, Luís Castro e não podia esquecer o Joel Santana, um treinador histórico no Brasil e que foi a primeira pessoa a dar-me uma oportunidade no profissional.
Em relação a jogadores: o Bruno Fernandes é o número um. Rafael Leão, um jogador que vi treinar pela primeira vez e pensei logo que ia ser craque de bola. Mathieu, um jogador espetacular e com uma qualidade técnica impressionante, além do Ronaldinho Gaúcho. Estive pouco tempo com ele, mas nunca vi ninguém com a magia e qualidade técnica dele. Por último, tenho de mencionar o Seba Coates, porque foi muito importante quando estive no Sporting. É um líder nato e me ajudou bastante na adaptação. Sou muito grato a quem me ajudou.
Impossível não terminar a falar sobre o seu pai (Bebeto). Qual importância teve na sua carreira?
O meu maior ídolo é o meu pai. Felizmente, nasci com pais presentes e importantes na minha vida. Só posso dizer que é um privilégio ter um ídolo dentro de casa. Conversou sempre muito comigo e me passou valores que guardo até hoje. Muita humildade, respeitar a todos, desde o presidente ao roupeiro, e muito sacrifício. Ele soube sempre que eu, por ser filho dele, tinha de provar duas vezes mais do que os outros. Por isso, humildade, respeito e sacrifício são os três pilares que ele me transmitiu e que carrego para sempre na minha vida.