Ebulição do mercado saudita é resultado de visão de expansão do governo local; entenda
Depois de Cristiano Ronaldo em 2022, que foi para o Al-Nassr, destaques como de Benzema, Firmino, Koulibaly e Kanté, confirmaram presença na próxima edição da liga saudita.
Messi é um embaixador do turismo do país, que quase o teve em sua liga. O argentino preferiu rumar para o Inter Miami, da Major League Soccer (MLS), dos Estados Unidos, e agradecer pela oferta de 400 milhões de euros por ano vinda do Al-Hilal.
A ideia do governo local é chamar atenção para o projeto “Visão 2030”, que vai além do futebol. No mundo do esporte, o país vai sediar a Copa da Ásia de 2027, a próxima edição do Mundial de Clubes da FIFA e os Jogos de Inverno em 2029. Neom, como será chamada a cidade-sede, deve ser construída até 2026.
Os sauditas também estão na briga pela candidatura da Copa do Mundo de 2030, mesmo com a concorrência de Espanha, Portugal e Ucrânia saindo na frente.
Na última temporada, as Supercopas da Espanha e da Itália tiveram a Arábia como sede.
Desenvolvimento e novo patamar
Fora do futebol, aparece o projeto de uma nação que quer estar na lista de referências globais em diversos setores.
A melhoria da qualidade de vida recebe importante atenção neste contexto, assim como a capacitação de profissionais e desenvolvimento de indústrias nacionais.
Ser anfitrião de eventos internacionais pode fazer a diferença para o desenvolvimento do país em termos esportivos, culturais e de entretenimento.
Não duvide que, em pouco tempo, a Arábia Saudita vai ganhar ainda mais protagonismo no cenário internacional, mesmo com um pequeno território e cerca de 35 milhões de habitantes.
“Estão sendo construídas cidades, o acesso e a abertura são maiores. O que me chama atenção, agora, é o interesse que nomes com muito mercado na Europa possuem em jogar na Arábia Saudita. Em outra época, eles achavam que iam sair do radar de seleções e que teriam um melhor contrato na Europa. Mas jogadores de nível de Champions League estão preferindo jogar a liga saudita.
“A imagem que está sendo vendida é muito positiva. Fica clara a abertura do país, são propostas atrativas para atuar em uma liga forte, com evolução em todos os sentidos”, afirma Cláudio Prates, auxiliar técnico Al Taawoun Club, clube que brigou na parte de cima da tabela na última temporada.
Cláudio trabalha junto do técnico brasileiro Péricles Chamusca, que está indo para a sexta temporada no futebol local.
Quarteto forte e governo incentivador
Os principais nomes se concentram nos quatro times mais fortes (Al-Nassr, Al-Ahli, Al-Hilal e Al-Ittihad), com os de menor expressão também colocando seu nome no mercado. O Al-Ettifaq, terá o inglês Steven Gerrard como treinador e também tenta chamar atenção.
O governo local tem influência direta no valor econômico dos times. No último dia 5 de junho, o Fundo de Investimento Público (FIP) do país confirmou que vai adquirir 75% dos direitos dos quatro maiores clubes.
“A Arábia Saudita está fazendo uso do futebol para tentar mudar a percepção do mundo a seu respeito e, com isso, atrair pessoas, eventos e empresas do mundo todo.
Cada clube tem a sua própria administração e organização financeira. Porém, também contam com ajuda financeira do governo”, comenta Flávio Vianna, agente de futebol desde 2013.
“Os clubes possuem seus orçamentos anuais provenientes da federação, patrocinadores e direitos de transmissão. Além disso os clubes, na sua maioria, possuem um xeique ou alguém com poder financeiro que, muitas vezes, faz um aporte pessoal ao clube.
“Nos últimos anos, o governo resolveu investir no futebol para a contratação de grandes atletas que são monitorados, avaliados e bancados por ele. Os nomes vão de acordo com o tamanho do clube, importância na liga e participação na Champions League asiática.
"Não existe um limite de valor estipulado, tudo é analisado caso a caso de acordo com cada clube”, indica Erick Palazzi, agente FIFA e sócio proprietário da AS Football, que gerencia carreira de atletas.
Reforço fundamental
A presença de craques e jogadores com títulos e experiência agrega de várias formas.
Com salários que não encontram limites por algum tipo de legislação e a invasão de craques de peso, pode ser inevitável que a liga local atinja outro patamar em nível técnico, além de maior visibilidade na mídia internacional.
Cada time pode ter até oito estrangeiros, com jogadores renomados tendo grande importância para colocar o campeonato no cenário global.
“O jogador saudita é melhor do que os locais dos outros países. Os estrangeiros elevam o nível da liga, apesar da dúvida sobre isso poder enfraquecer a seleção nacional. Os jogadores sauditas estarão diante de um acréscimo de concentração e nível técnico, uma nova mentalidade profissional. Isso ajuda o jogador dentro de campo”, projeta Cláudio Prates.
Novo mundo
Conhecedor do futebol árabe há quase 30 anos, Cláudio Prates conhece de perto a realidade local e suas transformações. Entre idas e vindas, ele pôde testemunhar situações que colocam o futebol saudita em novo patamar, com este novo cenário tendo tudo para ser um caminho sem volta.
“Um dos lados positivos dos sauditas é reconhecer a necessidade de melhora. Antigamente, eles eram pouco profissionais na sua estrutura e também no comportamento. Uma gestão profissional se instalou nos últimos anos, a evolução foi impressionante. Quase todos os clubes estão muito bem estruturados, o legado da Copa no Catar foi grande. Uma ajuda importante foi a presença de comissões técnicas de profissionais do Brasil e da Europa”, pontua Prates.