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Exclusivo: Raí conta onde o PSG errou e por que o time não deu liga

Alex Xavier
O hoje executivo de futebol no estádio do Paris FC
O hoje executivo de futebol no estádio do Paris FCProfimedia
Em entrevista exclusiva ao Flashscore, o ex-jogador Raí, um dos maiores ídolos da história do Paris Saint-Germain, explicou por que o clube entrou em crise com a torcida e o time atual não deu liga. O título francês se aproxima, mas a temporada é frustrante.

Raí conversou com o Flashscore da capital da França, onde trabalha como embaixador e parceiro-acionista do Paris FC – clube que deu origem ao PSG junto com o extinto Stade Saint-Germain. A equipe hoje está na segunda divisão

"Eu trouxe investidores e patrocinadores para subirmos para a Ligue 1 nas próximas temporadas", contou o craque, que também é um dos diretores da Fundação Gol de Letra e faz mestrado em políticas públicas no Institut d'Études Politiques.

Raí com Ronaldinho e Cafu na conquista do Tetra
Raí com Ronaldinho e Cafu na conquista do TetraFIFA

Formado na base do Botafogo-SP, Raí marcou época no PSG entre 1993 e 1998. Em 217 partidas pelo time francês, anotou 74 gols e conquistou 7 troféus.

Em 2020, Raí foi eleito em votação promovida pelo Paris Saint-Germain como o maior jogador da história do clube.

O ex-camisa 10 também foi tetracampeão do mundo com a Seleção Brasileira, em 1994, e é lenda no São Paulo, time pelo qual foi campeão intercontinental em 1992.

Confira abaixo a primeira parte da entrevista com Raí:

Flashscore: Você vê semelhança entre o seu PSG e o PSG de hoje? Ou é um universo completamente diferente?

Raí: Não só o Paris Saint-Germain, mas o universo do futebol é completamente diferente. Hoje os clubes têm um potencial financeiro gigante, você consegue ter vários jogadores de Seleção Brasileira no mesmo time. Naquela época, por mais que a torcida adorasse o time, a gente tinha quatro, cinco jogadores em seleções. Hoje, dependendo do time, você tem 15 jogadores de seleção. Não dá para fazer muitas comparações também porque o coletivo pesava mais, porque você não tinha tantos jogadores que podiam fazer a diferença. A força do coletivo era muito mais necessária.

Quando cheguei ao PSG, o desafio era colocar o time num primeiro nível europeu, então isso foi uma conquista, e a torcida cresceu junto com a gente. Nós chegamos em uma semifinal de Liga dos Campeões que o clube só conseguiu repetir agora recentemente na era do Catar.

Para os nossos objetivos, chegamos bem longe e a torcida comprou. E era um time que comprou muito essa ideia de estar junto, de ter a força coletiva. Então é difícil comparar, mas nesta era do Catar, digamos assim, houve temporadas muito boas – melhores que a atual, nesta não podemos dizer que o time tenha tido um jogo coletivo, ou uma evolução coletiva, mesmo sendo campeão francês.

Então, se compararmos essa temporada atual com a minha época no clube, dá para dizer que a gente teve uma regularidade melhor e uma coesão coletiva mais interessante.

Por que você acha que o time atual não deu liga coletiva nem com Pochettino, nem com Galtier?

Houve muitas mudanças e alguns problemas de coesão de grupo. Houve um processo de renovação de contrato do Mbappé bem difícil, arrastado, acho que isso deixou algumas sequelas. E saiu o (diretor de futebol) Leonardo, chegaram jogadores, teve troca de treinador…  Então houve uma série de mudanças que dificultou essa liga entre o grupo todo.

Raí levou o time francês à sua primeira semi de Champions
Raí levou o time francês à sua primeira semi de ChampionsPSG

Os torcedores estão mais mimados porque agora os clubes ricos têm 15 jogadores de seleção? Como você vê essa reação super crítica dos torcedores do PSG?

Acho que existiu um erro de comunicação no início do projeto, que foi o de prometer o título da Liga dos Campeões – ou, se não prometeram, criou-se essa expectativa. E quando você cria a expectativa de que só isso representa o sucesso, você tem uma sensação de fracasso a cada temporada.

Isso é uma coisa que foi minando essa relação torcida-clube porque tudo o que é menos do que a Liga dos Campeões, se procura defeitos e culpados. Acho que tem esse lado, mas acho que quando se chega ao extremo de ir (protestar) na casa de jogador, isso é um absurdo em qualquer lugar do mundo e uma falta de respeito.

Messi no Parc des Princes
Messi no Parc des PrincesAFP

Acho que também existiram muitos problemas extracampo que criam um rancorzinho com a torcida, algumas histórias e circunstâncias que vão se acumulando e que, num momento de crise, se manifestam.

Não diria que a torcida ficou mimada, mas essa expectativa de Liga dos Campeões e investimentos altos com uma falta de performance – não de resultado, mas performance – foi minando a relação. Mas não é nada que não volte, a paixão de futebol é isso – é amor extremo, depois revolta extrema.

O jogador sente essa revolta extrema? Acha que alguns no PSG sentiram?

Sim, com certeza algumas relações vão ficar marcadas. É natural numa temporada você ter momentos de crise, em todos os clubes, mas como gerir essa crise… Para mim, o futebol é a arte de gerir crises. É mais difícil, às vezes, do que construir uma equipe, porque a crise você vai ter, mas se você faz uma gestão ruim destes momentos, você prejudica qualquer tipo de evolução.

Esse caminhão de dinheiro do Catar pode fazer mais mal do que bem ao clube?

Você tem exemplos de todos os tipos, né? Exemplos que deram certo e errado. Acho que o dinheiro cria uma obrigação de jogar bem, mas não é só o dinheiro que resolve. Então, nessa relação com a torcida, às vezes pode atrapalhar porque aumenta demais essa expectativa, porque investimento gera cobrança.

Raí ganhou de Ronaldinho na votação de maior jogador do PSG
Raí ganhou de Ronaldinho na votação de maior jogador do PSGPSG

Você acha que o Mourinho pode ser uma solução para dar liga no time?

(Risos) Estou em outro projeto, no Paris FC, e você só consegue ter legitimidade para dar este tipo de opinião quando você está dentro, principalmente a gente que é do meio.

Kylian Mbappé vai virar o maior ídolo da história do PSG?

Ele está se encaminhando para virar um dos maiores ídolos da história do futebol, e do clube consequentemente. Na seleção (francesa) ele já chegou perto de ganhar o bicampeonato (mundial) com 23 anos. Ele tem muita carreira pela frente, mas os números dele até agora são para se tornar um dos maiores jogadores da história da França, junto com Zidane, Platini… desse nível para cima.

Títulos de Raí

Pelo São Paulo:

Mundial (1992)

Libertadores (1992 e 1993)

Brasileiro (1991)

Paulista (1989, 1991, 1992, 1998 e 2000)

Pelo PSG:

Campeonato Francês (1994)

Copa da França (1995 e 1998)

Copa da Liga (1995)

Supecopa da França (1995 e 1998)

Recopa Europeia (1996)

Pelo Brasil:

Copa do Mundo (1994)