Opinião: Premier League vai começar a perder para o Oriente Médio, e Igor Jesus é exemplo
Igor Jesus já é titular da Seleção Brasileira. Mas, no ano passado, o atacante do Botafogo jogava pelo Shabab Al-Ahli. Com quatro anos de experiência na Liga dos Emirados Árabes, o jovem de 22 anos estava em fim de contrato naquela temporada e existia interesse da Europa.
No final, Igor Jesus optou por voltar para o Brasil, para o Botafogo. Contratado por 2 milhões de euros (R$12,2 milhões) quando saiu do Coritiba para o Al-Ahli, a transferência para o Fogão em julho de 2024 foi a custo zero. Era um negócio que prometia pouco risco, mas muita vantagem. E o jogador tem cumprido com o seu papel desde então.
A boa fase no Botafogo permitiu que Dorival Júnior o convocasse pela primeira vez para a Seleção. E ele não parou por aí. Poucos meses depois, o clube já recebe propostas da Europa, especialmente da Inglaterra.
West Ham, Arsenal, Newcastle e Southampton tentaram conversar com John Textor, dono do time carioca, sobre o preço do atacante. Mas o empresário, por enquanto, tem como referência a cláusula de 100 milhões de euros (R$ 610 milhões) do contrato de Igor Jesus.
Depois de quatro anos no Oriente Médio, o brasileiro voltou para casa como um jogador muito melhor do que quando partiu. De fato, para o Textor, um jogador 50 vezes melhor do que o Shabab Al-Ahli pagou ao Coritiba pela sua transferência em 2020.
Só os números já dão uma ideia: 44 gols e 15 assistências. Mas é mais sobre o pacote completo que o Shabab Al-Ahli foi capaz de oferecer ao brasileiro que ajudou a desenvolver o seu jogo a ponto dele liderar o ataque do Brasil apenas quatro meses depois de deixar a UAE Pro League.
Jogar futebol regularmente, disputar a Liga dos Campeões da Ásia e trabalhar com técnicos como Leonardo Jardim, para um jovem jogador que procura evoluir e melhorar o seu jogo, tudo faz sentido. E o resultado de tanto trabalho estamos vendo agora.
"Hoje, com o coração partido, me despeço do Shabab Al-Ahli, mas ao mesmo tempo me sinto realizado porque sei que dei o meu melhor pelo clube. Foram quatro anos de muitas conquistas e muita superação de desafios".
"Nesse clube, cresci como atleta e como pessoa. Nunca esquecerei o carinho e o amor que recebi dos torcedores, jogadores e funcionários. Estarão sempre no meu coração. Estou grato por tudo", declarou Igor Jesus ao assinar com o Botafogo.
Shabab Al-Ahli, Liga Saudita e o futebol asiático de alto nível em geral, tudo ajudou Igor Jesus a se tornar o jogador que é hoje. O talento sempre presente e a decisão de se mudar para os Emirados Árabes apenas aceleraram a oportunidade de Igor Jesus concretizar esse potencial.
É claro que este tipo de negócio entre o Oriente Médio e a América do Sul é comum há mais de 17 anos. Desde que Mauro Zárate, ex-Lazio e West Ham, escolheu o Al-Sadd, do Catar, aos 20 anos de idade, em vez de se transferir para um grande clube da Europa. Catar, Emirados Árabes e Arábia Saudita já tiveram a sua cota de jovens talentos sul-americanos passando pelas ligas.
Mas Igor Jesus é um dos destaques pelo barulho que está provocando no Brasil e na Europa. Um exemplo deste tipo de carreira. E, como não poderia deixar de ser, no seu escritório em Riade, Michael Emenalo, o chefe de recrutamento da Liga Saudita, deve estar anotando tudo.
A "abordagem Igor Jesus" deve se tornar um novo braço da estratégia de transferências do Sauditão. Catar e Emirados Árabes abriram caminho para trazer alguns dos melhores jogadores jovens da América do Sul para o Oriente Médio. Mas, com todo o dinheiro envolvido na liga, Emenalo e sua equipe têm todos os recursos para levar esse modelo a um nível totalmente novo.
De fato, que chance terão no futuro um Brighton, um West Ham ou um Brentford de competir com clubes sauditas pelo próximo Moisés Caicedo?
A opção de ir para uma academia da Premier League, lutar contra o frio e a umidade e trabalhar com técnicos de que nunca se ouviu falar. Ou a hipótese de jogar futebol de elite em um Al-Ittihad, ao lado de ícones como N'Golo Kante e Karim Benzema e ser treinado por Laurent Blanc e pela sua equipe de nível internacional.
Mesmo com a pressão da Premier League, é preciso hesitar? E, com Igor Jesus como exemplo, sabemos que a mudança para o Oriente Médio não é um passo atrás. De fato, não há comparação entre o futebol preparatório na Inglaterra e ser titular em uma grande liga asiática.
No momento, Igor Jesus é uma referência. Um exemplo do que o futebol do Oriente Médio pode fazer pelos jovens jogadores sul-americanos, mas, dados os recursos e os nomes atualmente envolvidos, não é uma questão de "se", e sim "quando" o exemplo se tornará um padrão. O mercado mundial de transferências está prestes a mudar.