Cuca se manifestou sobre o caso e os protestos da torcida do Corinthians. O técnico garantiu que é inocente no episódio de Berna, pelo qual foi condenado com outros três jogadores do Grêmio.
"É um tema que aconteceu há 37 anos, em 1987. Eu era emprestado do Juventude ao Grêmio, devia estar no Grêmio há 15 ou 20 dias. Fiquei uma semana para tirar o passaporte. Tenho vaga lembrança de tudo o que aconteceu. Eu tinha 23 anos na época… Nós iríamos jogar uma partida, e pouco antes subiu uma menina para o quarto, onde eu estava junto com mais três jogadores. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada", disse Cuca.
O treinador assegurou que vai "passar por cima dos protestos" para fazer um bom trabalho no Corinthians. Cuca ressaltou que a motivação para comandar a equipe é alta.
"Cada desafio está mais difícil, porque estou ficando mais velho. Mas estou energizado, com muita força. E tenho convicção de que vou fazer um bom trabalho aqui. Sei que o Duilio (Monteiro Alves, presidente) e o Alessandro estão tomando porrada a torto e a direito por terem me trazido. Mas eu não sou bandido. Essa minoria faz barulho, e vai continuar fazendo. Mas por mim não faz mal. Eu falei para o Duilio: ‘Se estiver arrependido e quiser que eu vá embora, eu vou, não tem problema'. Mas eu não vou. Eu vim aqui para vencer e vou vencer, se Deus quiser.
"Ato sexual a vulnerável"
O treinador negou qualquer envolvimento no crime, pelo qual foi condenado há 15 meses de prisão, por violência sexual contra pessoal vulnerável. A menina que denunciou Cuca e os outros três jogadores do Grêmio tinha apenas 13 anos de idade. Apesar da condenação, Cuca e os ex-companheiros não cumpriram a pena, e o crime prescreveu.
"As pessoas falam que houve um estupro, houve acho que um ato sexual a vulnerável. Isso foi a pena dada. A gente vê e ouve um monte de coisas que são inverdades, chegam a ofender. Eu vou fazer 60 anos daqui um mês, tenho duas filhas, uma de 32 e outra de 34. É um tema que elas nem existiam, eu já era casado com a Regiane e sou casado até hoje", apontou Cuca.
"Venho de uma casa onde sou o único homem. Respeitei e respeito todas as mulheres. Nunca encostei um dedo indevidamente em nenhuma mulher, nenhuma mulher, ao longo de todos os anos que vivo na bola. Já trabalhei com vocês da imprensa, já estiveram comigo, estive em diversos clubes. Estive duas vezes no São Paulo, no Palmeiras e no Santos. Nunca me foi questionado isso numa coletiva. Então não é só o Cuca que não falou do tema.
Ajuda em causas a favor das mulheres
Na porta do CT Joaquim Grava, um grupo de torcedoras mostrava seu repúdio com faixas com os dizeres "Respeita as minas". Cuca não soube dizer o nome da campanha em duas oportunidades durante sua apresentação. Houve também manifestações contra a diretoria, chamando a gestão de Duilio de "incompetente".
Mesmo com o clima tenso, Cuca apontou aos jornalistas que deseja participar de ações do Corinthians que tenham as mulheres como foco. Ele ainda lembrou da grande torcida feminina que o time possui.
"Se a vítima disse que eu não estava, e eu juro por Nossa Senhora, que é o que mais adoro e amo na vida, que eu não estava… Como é que eu posso ser condenado pela internet, que te julga e te pune no mesmo momento? Eu sei que hoje a gente está vivendo um mundo melhor, que a mulher tem uma autodefesa muito maior. E tem que ser cada vez maior. E eu quero fazer parte disso. Eu sou pai, avô, marido, filho. Por isso estou aqui, num clube em que 53% da torcida é feminina. Um time que tem a causa aí, até escrevi o nome, como é que é… Respeita as Minas. Eu venho e tem protesto. Lógico que é cabido o protesto, dentro de tudo que é lido e passado", comentou.
Cuca reforçou que, apesar de toda a pressão e a mágoa por tocar em um assunto que lhe machuca, nada abalou o desejo pessoal de estar no Corinthians. Ele disse ainda que não deve nenhuma desculpa à sociedade pelo fato ocorrido em Berna.
"Por que eu devo uma desculpa à sociedade? Se eu não fiz nada, por que devo uma desculpa à sociedade? Dois anos e meio depois desse caso eu fui jogar ali do lado, em Valladolid, na Espanha. Nunca teve consequência nenhuma. A vida passou 37 anos. Nos últimos dois ou três ela mudou de uma forma melhor, muito melhor. Tudo isso machuca muito. Mas, do fundo do meu coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior do que a vontade que eu tenho de estar aqui", afirmou Cuca.
Entenda o caso Cuca
Quando Cuca atuava pelo Grêmio, ele e outros três jogadores do time gaúcho foram acusados por uma garota de 13 anos de estupro coletivo. O caso aconteceu em Berna, na Suíça, em 1987. Cuca e os outros atletas — Eduardo Hamester, Fernando Castoldi e Henrique Etges — foram condenados em 1989, não pelo suposto estupro, mas porque a garota possuía 13 anos, sendo uma violência sexual contra pessoa vulnerável.
Condenado a 15 meses de prisão, Cuca nunca cumpriu a pena, pois o Brasil não extradita seus cidadãos. Em 2004, o crime prescreveu por ultrapassar o período de tempo de sua execução. Em 2021, o técnico negou envolvimento no caso, em entrevista ao UOL.