Futebol 360 com Betão: Flamengo e Tite têm tudo para dar certo
No entanto, a diretoria do Flamengo agiu de forma certeira na escolha do treinador. E quando digo treinador, incluo toda a sua comissão técnica, que são pessoas altamente capacitadas, com quem tive o prazer de trabalhar junto em 2004, no próprio Corinthians.
Escolha certa
Não escrevo que a diretoria do Flamengo acertou na contratação de Tite por conta das vitórias nos dois primeiros jogos, contra Cruzeiro e Vasco, mas sim por tentar aliar três fatores principais: o perfil do elenco; as necessidades imediatas do clube; e o perfil do treinador e de toda sua comissão técnica.
Primeiramente falando sobre o perfil do elenco do Flamengo, altamente qualificado tecnicamente, formado por atletas experientes e que na sua maioria têm uma história recente vitoriosa dentro do próprio clube. Já demonstraram um trabalho coletivo muito produtivo, e precisam voltar a ter essa produtividade. Costumo dizer que, com elencos assim, tendo um treinador que "não atrapalhe”, já é meio caminho andado.
Sobre as necessidade imediatas, os jogadores precisam retomar a confiança, não somente em si mesmo, mas em quem está à frente do processo — e entendo que o Tite seja o nome certo.
Sobre o perfil de Tite, é um treinador experiente, agregador, com processos claros, competente, em quem os atletas podem confiar. Desde a época em que trabalhamos juntos, tanto ele como a sua comissão sempre demonstraram uma metodologia de trabalho humanizada, que respeita a individualidade de cada atleta.
Baseado nas características do elenco, Tite apresenta uma virtude que é fundamental para todo treinador nos dias de hoje: gestão de grupo. Todos sabemos que ele já está acostumado com isso, mas, com tantos jogadores renomados no elenco, será um grande desafio ter uma excelente gestão de vestiário. E tenho certeza que isso eles tirarão de letra.
Olho no olho com Freddy Rincón
O Tite ganha o respeito do grupo de uma forma singular, sendo respeitoso, verdadeiro e sempre falando “olho no olho” com todos os atletas da mesma forma, desde os mais jovens até os mais experientes. E falando em “olho no olho”, me vem à memória um episódio que aconteceu em 2004, quando ele foi meu treinador no Corinthians.
Na ocasião tínhamos um elenco bem mesclado de jovens da base, atletas já em meio de carreira e os mais experientes. Entre os mais experientes estavam Freddy Rincón, Fábio Costa, Fábio Baiano, Marcelo Ramos e outros. Certa vez, chegamos para treinar no CT do Parque Ecológico e, como de costume, todos os atletas colocaram o uniforme e foram direto para o campo, já que não havia essa estrutura dos dias de hoje com áreas de convivência.
Quando estávamos todos no campo esperando o início do treino, percebemos a ausência do Tite e do Freddy Rincón — ex-jogador colombiano que faleceu em abril de 2022, em um acidente automobilístico. Rincón era o jogador mais renomado do elenco. Todos tinham visto os dois chegarem ao CT, e se não estavam no campo, só poderiam estar dentro do contêiner (vestiários improvisados da época).
Ficamos mais ou menos uns 30 minutos aguardando no campo, todos curiosos para saber o que estava acontecendo. De repente, o Rincón saiu do contêiner com cara de poucos amigos e, logo na sequência, saiu o Tite.
Ao chegar no campo, o treinador reuniu todos os atletas no centro do gramado e disse: “Primeiro eu precisava falar com Rincón de forma individualizada e depois eu falaria com todos, em respeito a ele e a vocês. Chamei o Rincón para dizer que ele tinha perdido espaço no grupo e que não contaria com ele para o restante da temporada”.
Todos ficaram atônitos pela representatividade do Rincón, pois não sabíamos como ele reagiria naquele momento, e também pela atitude de grandeza do Tite. Com isso, só aumentou o respeito do grupo em relação a ele. Olho no olho sempre, sinceridade com o grupo e respeito aos seus princípios.
De lá para cá, minha admiração por ele e toda sua comissão só cresce. Fico na torcida para que ele realize um excelente trabalho à frente do Flamengo e que todos os seus objetivos sejam alcançados.