Futebol 360 com Betão: Trocar de treinador é a única solução?
Essa questão está tão intrínseca no nosso futebol, que já cansei de ouvir as pessoas dizendo que isso faz parte da cultura do futebol brasileiro.
Pode ser até comum essas trocas acontecerem, mas não é normal acontecer com tanta frequência.
Sempre que tenho a oportunidade, falo sobre o tema, pois acredito que a troca de treinador deve ser a última cartada, quando já se tentou de tudo e não surtiu efeito.
É fato que, para tudo, deve existir um contexto. A contratação do treinador também faz parte de um planejamento traçado pelo clube e, se as coisas não estão dando certo, não se pode simplesmente apontar o dedo e demitir o treinador.
A impressão que tenho é que, quando se demite um treinador com pouco tempo de trabalho, é um tiro no pé de quem contratou. Talvez, foi feita uma contratação sem convicção.
Experiência
Eu vivi uma das piores experiências profissionais da minha vida no ano de 2007, quando ocorreu o rebaixamento do Corinthians para a Série B do Brasileirão. Apesar de muitos classificarem o elenco como um dos piores da história do clube, afirmo sem medo de errar que o rebaixamento se deu em 2007.
Mas o processo que levou ao rebaixamento se iniciou alguns anos antes. Não vou me ater a outros detalhes para não fugir do tema mas, para se ter uma noção, eu joguei na equipe profissional do Corinthians de 2001 a 2007. Tive 15 treinadores neste período. Isso mesmo, 15 treinadores.
Pode ser que a qualidade técnica do elenco não ajudava mas, com tantas trocas de treinadores, o rebaixamento era uma questão de tempo.
Instabilidade no cargo
Infelizmente existe um êxodo de treinadores do Brasil para países alternativos, o que acontece cada vez mais, por conta de uma grande instabilidade no cargo de treinador no nosso futebol.
Treinadores brasileiros preferem estar em ligas sem nenhuma visibilidade a estarem no Brasil e viverem o risco de demissão a cada rodada.
Além do mais, vejo que estamos em um momento onde se “tritura” os jovens treinadores.
Não se permite o amadurecimento dos mesmos, não se permite o erro ou a derrota. São logo taxados de despreparados e imaturos.
Mas como terão maturidade se não permitem errar? Como estarão preparados se não recebem oportunidade e sequência de trabalho?
Por isso, quando eu vejo um treinador brasileiro trocando de clube sem ser demitido e indo para o futebol do exterior, não o julgo. Seja pelo fator financeiro ou pela instabilidade no cargo, lá fora ele terá um pouco mais de segurança.
Trocas na hora H
Botafogo e Cruzeiro, dois clubes grandes brigando por objetivos distintos na competição, mas que nessa rodada protagonizaram situações iguais, demitiram seus treinadores na busca por resultados imediatos.
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O Botafogo, vem apresentando um futebol muito abaixo do que estava jogando no primeiro turno e tem uma das piores campanhas do returno. São 6 jogos sem vencer. Nessa última rodada, perdeu a liderança para o Palmeiras e, mesmo com um jogo a menos, vê até a segunda colocação ameaçada. Já o Cruzeiro, demitiu o técnico Zé Ricardo após 10 rodadas. O clube ocupa a 17ª colocação e vem de 3 derrotas consecutivas.
Fato novo
Algumas pessoas acreditam que essa troca de treinadores gera um “fato novo” e mexe com o ambiente do clube. O que precisam saber é se o treinador era o único problema ou se as trocas foram motivadas para dar uma “resposta” ao meio externo.
Outra questão: resta menos de um mês para o final do campeonato. E se os treinadores que vierem não alcançarem os objetivos esperados? Serão demitidos ou entrarão 2024 já desgastados? Esperar resultados imediatos em pouco tempo de trabalho pode ser algo muito arriscado.