Tal tipo de falcatrua não vem de hoje. Vale lembrar o escândalo envolvendo a loteria esportiva italiana no começo dos anos 1980, que demorou alguns anos para fazer o futebol local recuperar a credibilidade.
As punições foram exemplares. Um total de 12 jogadores foram presos no campo de jogo e outros cinco receberam ordem para depor assim que suas partidas foram encerradas. Entre os envolvidos estavam jogadores com passagem pela seleção da Itália como Paolo Rossi, Bruno Giordano e Enrico Albertosi.
No final, a Comissão Disciplinar da liga foi exemplar em suas punições. Milan e Lazio caíram para a Serie B, Avellino, Bologna e Perugia começaram a temporada 1980/81 com cinco pontos a menos e 22 jogadores receberam suspensões de três meses a banimento do esporte (caso de Albertosi). Rossi, carrasco do Brasil na Copa de 1982, cumpriu suspensão de três anos. Seria lindo ver penas deste nível acontecerem por aqui. Por falta de merecimento, não será.
Alguns clubes optaram por afastar atletas preventivamente, outros não o fizeram, enquanto alguns preferiram conversar com os jogadores para entender seu real envolvimento e, após isso, tomar alguma decisão de afastamento ou não.
Vale a pena fazer parte da bandidagem?
A grana fácil por um mero cartão pode ser chamativa, mas não deveria falar mais alto para um jogador que lutou tanto para chegar em um nível que poucos alcançam, se formos analisar o número de interessados e sonhadores que batalharam muito para ter a mesma oportunidade e ficaram pelo caminho.
Todo o suor e sacrifício que fizeram para chegar em um time de Série A do futebol brasileiro pode ir por água abaixo por uma proposta tentadora, que o fez aceitar talvez sem pensar muito. Nestas horas, formação e caráter podem fazer a diferença para tomar a melhor decisão. Por mais que os salários de uns ou outros envolvidos não sejam altos, é inconcebível o envolvimento.
Acharam que era algo fácil demais e difícil de ser descoberto. Mais complicado de entender é a situação de alguns que ganham bons salários e se sujeitaram a participar deste processo escandaloso e nojento, que tem tudo para apresentar novas cenas nas próximas semanas. O crime não compensa, já dizia o poeta.
Agora que a casa caiu devem estar arrependidos, olhando com que cara para seus filhos, pais, amigos e cônjuges, certamente envergonhados por verem um dos grandes orgulhos da família ter se permitido uma recaída desnecessária e vexatória.
Fico pensando na tentativa deste jogador se justificar para seus entes próximos ou, até mesmo, um pai buscando explicar para o filho pequeno o que aconteceu no cenário nacional, que o jogador do seu time não honrou as cores do clube como deveria.
Tarde demais para o perdão
Olhar pra trás e lembrar dos percalços que percorreram para chegar tão longe pode fazê-los se arrepender de imediato. Agora é tarde demais para desculpas, admissões e pedidos de perdão. Tiveram tempo de sobra para ignorar mensagens, desligar uma ligação ou pensar se valia mesmo a pena.
Podiam ter conversado com tanta gente, avaliado o cenário e ter agradecido a tentadora oportunidade. São homens formados, pais de família e, até que se provasse o contrário, cidadãos de bem. Tão grave quanto manchar sua carreira, que pode estar correndo risco de banimento, é sujar o nome do futebol brasileiro por um dinheiro que certamente não valeu a pena. O buraco é muito mais embaixo, pode acreditar.
Quantos agora não vão pensar que uma penalidade, um cartão ou escanteio aconteceram por livre e espontânea vontade? Fizeram o futebol brasileiro ter comprometida sua credibilidade, com esta podendo demorar sabe-se lá quanto tempo para ser recuperada.Não se assustem se mais nomes de jogadores aparecerem nas próximas horas e, até mesmo, de árbitros.
Não há limite para o nível de sujeira que uma máfia como esta pode chegar. Futebol é, ao mesmo tempo, uma paixão avassaladora, mas também envolve um dos meios mais podres que pode existir. Quem conhece por dentro, sabe disso.
Hora de rever o cenário das apostas
O lado positivo pode ser a necessidade de rever como funcionam estas apostas e sua regulamentação. Aproximar as casas de apostas do governo é fundamental para que órgãos responsáveis sejam alertados quando situações que causam algum tipo de dúvida apareçam. A tentativa do governo de regular o setor é um passo importante e necessario.
Texto de medida provisória, com a ideia de regulamentar as casas de apostas no Brasil, foi entregue ao presidente Lula na noite desta quarta-feira (10). A redação foi feita pelo Ministério da Fazenda e encaminhada via Casa Civil. Não é possível que esta bandidagem siga atuando com tamanha liberdade.
O merecido é, no mínimo, uma rigorosa e justa punição para os envolvidos, sejam eles jogadores ou apostadores. A impunidade tão famosa e corriqueira no Brasil não pode ganhar mais esta página em seus capítulos, agora no mundo das apostas esportivas, permitindo que novas situações sigam acontecendo.
União de envolvidos para coibir novas ações
A hora de agir é agora, sem tempo a perder, com a investigação precisando se aprofundar até onde não for mais possível. Enquanto não houver um pulso firme, com presença da CBF, de órgãos de segurança e, até mesmo dos clubes, a tendência é de situações parecidas seguirem acontecendo.
Se o cenário seguir frouxo, vão deitar e rolar, fazendo um dinheiro fácil e enganando os milhões de torcedores. O futebol brasileiro, tão famoso por seus talentos, ganha uma mancha das maiores possíveis, que vai ficar marcada por décadas, aproveitando a presença de empresas de apostas que, nos últimos anos, cresceram e investiram bastante a ponto de estarem presentes nas camisas, banners, anúncios e propagandas a cada clique ou troca de canal.
O que era pra ser algo positivo para o cenário do futebol brasileiro, com mais dinheiro entrando para os clubes e meios de comunicação, foi pro lado errado e o momento de corrigir a rota é ontem.
Vejamos o desenrolar de uma situação que envergonha e entristece quem acreditava que cada gesto ou ação dentro de campo era feita pensando no melhor para seu time e não no bolso de manipuladores inescrupulosos que tiveram o apoio de jogadores que merecem uma punição das mais rígidas para terem tempo de sobra para pensar no que fizeram.