José Mourinho faz 60 anos: como o técnico português revolucionou o futebol

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

José Mourinho faz 60 anos: como o técnico português revolucionou o futebol

Mourinho completou 60 anos nesta quinta-feira (26)
Mourinho completou 60 anos nesta quinta-feira (26)Profimedia
A corrida até a bandeirinha de escanteio no Old Trafford, a defesa da Inter Milão no Camp Nou, a comemoração de joelhos no Bernabéu, a primeira coletiva de imprensa no Chelsea, na qual se declarou um treinador... especial. José Mourinho completou 60 anos nesta quinta-feira (26), e o Flashscore faz uma viagem pela carreira de um homem que revolucionou o futebol.

José Mourinho está diretamente envolvido no futebol desde os anos 1980, primeiro como jogador e depois como treinador. O português começou como tradutor de sir Bobby Robson, em Portugal e na Espanha, tornando-se peça importante na comissão do inglês.

Mas é claro que isso nunca seria suficiente para o Special One.

A carreira de Mourinho como treinador principal começou em Portugal, na virada do milênio, com o Benfica. Depois de uma passagem pela União de Leiria, chegou ao Porto, onde ganhou tudo em duas temporadas e meia: Campeonato Português, Taça de Portugal, Liga Europa e, claro, a histórica Liga dos Campeões.

Em 2004/05, José Mourinho saiu de Portugal rumo ao Chelsea e nunca mais voltou. Quase 19 anos depois, é notória a marca deixada pelo treinador na liga de seu país natal.

O início: do Benfica ao Porto

Em 2000/01, Mourinho chegava ao Benfica como um perfeito desconhecido, vindo do Barcelona, onde era auxiliar. Uma aposta arriscada em um jovem treinador, naquela época, para quebrar o conservadorismo de Jupp Heynckes, com o clube em plena crise interna. O elenco era tido como mediano, mas José Mourinho começou a ser... José Mourinho, quando falou publicamente sobre Sabry, uma das peças do elenco, que exigia mais tempo de jogo. O técnico respondeu, ponto a ponto, às críticas do atacante egípcio.

José Mourinho fez apenas 11 jogos pelo Benfica, com seis vitórias. O presidente recém-eleito Manuel Vilarinho o trocou por Toni. Mourinho, então, estava praticamente certo no Sporting Lisboa, mas deu um passo atrás na carreira e assumiu o comando da União de Leiria.

"O Benfica era o meu primeiro clube. Depois de ultrapassar as dificuldades iniciais, a equipe ganhava, jogava bem, tinha confiança e simpatia dos torcedores, e pensava-se que podia ter sido campeã já naquela temporada. Mas, ao mesmo tempo, foi um ponto marcante desta carreira", lembrou recentemente o técnico de 60 anos.

Nos seis meses em Leiria, Mourinho levou a União ao quarto lugar, jogando o melhor futebol de Portugal. Ele rapidamente se transferiu para o Porto, no meio da temporada 2001/02, e levou junto jogadores como Nuno Valente e Derlei.

No Porto, Mourinho, continuou a ser... Mourinho. A famosa coletiva de imprensa em sua chegada entrou para a história. "Somos a melhor equipe do país. Em condições normais, somos melhores. Em condições normais, vamos ser campeões. E em condições anormais também vamos ser campeões", disparou, dando um murro na mesa.

E o time realmente foi campeão. Não só em Portugal, mas também na Europa. Após ter conquistado a Liga Europa, venceu o Campeonato Português, a Supertaça Portuguesa e a Liga dos Campeões — com uma goleada por 3 a 0 sobre o Monaco em Gelsenkirchen.

Dois dias depois, Mourinho estava a caminho do Chelsea. Na época, disseram que ele "celebrou a Liga dos Campeões no iate de Abramovich".

Entre 2004 e 2023, muita coisa aconteceu com José Mourinho, cuja rebeldia mexeu com a mente e balançou o coração de todos os torcedores em Portugal. A relação com o Porto tem sido um misto de desconfiança e orgulho mútuos. 

José Mourinho é uma espécie de Dom Sebastião, rei promissor que desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir e prometeu voltar em um dia de nevoeiro. Mourinho conquistou Portugal, e os torcedores ainda esperam pelo seu retorno para comandar a seleção do país. Esteve perto neste ano, após a saída de Fernando Santos, mas não aconteceu. E, como o antigo herdeiro ao trono, a esperança de um dia de nevoeiro que traga o Special One de volta começa a desaparecer.

O "Special One"

Do Porto ao Chelsea, José Mourinho teve sucesso absoluto nos Blues, algo que não ocorreu quando comandou Manchester United e Tottenham.

Ao todo, foram 12 anos de Mourinho na Premier League, com inúmeras declarações memoráveis. A primeira foi logo em sua apresentação no Chelsea, na qual defendeu ser... especial.

No Chelsea, liderou a equipe que muitos dizem ser uma das melhores da história da Premier League. O português consolidou talentos ingleses como John Terry e Frank Lampard, além de ícones como Petr Cech, Didier Drogba e Arjen Robben.

Pelos Blues, José Mourinho mudaria a forma de ver o jogo na Inglaterra, ao apostar em uma antítese do estilo swashbuckling do Manchester United de sir Alex Ferguson e da serenidade do Arsenal de Arsène Wenger — os dois times que dominavam a Premier League antes da chegada do português.

O estilo defensivo de Mourinho, o famoso park the bus — ônibus estacionado — irritava a maioria dos torcedores do Chelsea. Mas eles rapidamente mudariam de opinião, com os títulos ingleses de 2004/05 e 2005/06, duas Copas da Inglaterra, uma Copa da Liga e uma Community Shield.

Mourinho fez história no Chelsea
Mourinho fez história no ChelseaAFP

José Mourinho deixou o Chelsea como o treinador de maior sucesso da história do clube londrino, três temporadas após a chegada. Ele conquistou seis troféus e deixou um enorme vazio na hora da despedida. Juntamente com Abramovich e os petrodólares, mudou a cara do futebol inglês e dividiu opiniões entre os torcedores: odiado por uns, amado por outros, Mourinho estava onde queria estar, no coração dos amantes do esporte.

O retorno de do português ao Stamford Bridge veio em 2013, depois das passagens por Inter Milão e Real Madrid. A Premier League era mais competitiva, mas Mourinho venceu novamente o campeonato e a Copa da Liga, em 2014/15, com muitos dos seus antigos jogadores em atividade.

Durante o reinado inglês, ficaram famosas as suas disputas com outros treinadores, sobretudo com Arsène Wenger, a quem chamou de "especialista em fracassos". A declaração se deu após um desentendimento público entre ambos, na segunda passagem de Mourinho pelo Chelsea.

No período pelo Manchester United, entre 2016 e 2019, José Mourinho era criticado pela aparente falta de conexão com os torcedores, por não jogar da forma como os Diabos Vermelhos estavam habituados — o chamado the Man Utd way. Analisando em perspectiva, Mourinho conseguiu um segundo lugar na Premier League, em 2017/18, a melhor campanha do United na era pós-Ferguson.

Em 2016, venceu a Community Shield e, em 2016/17, faturou Copa da Liga e Liga Europa. As conquistas fizeram de Mourinho um dos treinadores com maior sucesso na história do Manchester United — algo que fez questão de ressaltar várias vezes em coletivas de imprensa.

Antes de assumir o cargo de treinador do Tottenham em 2019, o português tornou-se uma figurinha carimbada na televisão britânica. Ora fazendo aparições intrigantes como comentarista, ora com participações em amistosos beneficentes. Uma delas foi a presença no Loftus Road, em 2017, quando assumiu a posição de goleiro, com momentos hilários que ficaram na memória dos ingleses.

Em 2019, assumiu então o Tottenham, proclamado como Humble One — o humilde. Foi o único clube de sua carreira em que não conquistou troféus — algo que não é exclusivo do português nos Spurs.

Ainda assim, conduziu o Tottenham a uma final de Copa da Liga, no meio da pandemia de COVID-19, tendo por trás as câmares da série All or Nothing, do Amazon Prime Video. Inexplicavelmente, José Mourinho foi demitido uma semana antes da final, a primeira do Tottenham em uma década. Os Spurs acabaram perdendo para o Manchester City, com Ryan Mason no comando.

Mourinho é um treinador que não deixou apenas um legado no futebol inglês. Ele é, sem dúvidas, um ícone na história da Premier League. Faz parte da história do campeonato ao trilhar e abrir caminho para outros técnicos, como Jürgen Klopp, Pep Guardiola e Antonio Conte, que entraram em grandes clubes e imprimiram suas próprias filosofias, assim como o português.

O Special One, o Humble One. No fim das contas, o Legendary One.

Ligação indissociável com a Inter

Após deixar o Chelsea, Mourinho encontrou rapidamente uma nova casa na Itália, na Inter Milão, onde voltaria a conquistar uma Liga dos Campeões e, claro, a ser polêmico.

Um símbolo, um exemplo de grandes histórias, um cataclisma de amor e ódio ao mesmo tempo. Este é Mourinho para a Serie A.

O treinador português tem seu nome escrito em letras douradas no futebol italiano, graças à Tríplice Coroa com a Inter Milão. Um clube histórico, mas que vinha falhando nas grandes decisões. O português trouxe a mentalidade vencedora de volta. E é por isso que mesmo atualmente, no comando da Roma, tem uma ligação indissociável com os torcedores da Inter.

Foi exatamente 10 anos depois do conto de fadas em Milão, onde ganhou tudo que podia, que José Mourinho regressou à Serie A, para assumir a Roma. Um amor à primeira vista entre torcedores e técnico, mas que demorou a se traduzir nas atuações da equipe.

A virada de chave aconteceu na temporada passada, na Liga Conferência, título que encerrou a seca do clube da capital. A partir daí, a ligação entre clube, treinador, jogador e torcida foi evoluindo e se consolidando, para provar de vez que José Mourinho é muito mais do que um treinador.

A polêmica, porém, anda e sempre andou de mãos dadas com o treinador, que faz questão de criá-la quando parece não existir. Dos inúmeros gestos icônicos de Mourinho na Itália, o mais marcante talvez tenha sido o das algemas no Inter x Sampdoria, em 2010, que lhe rendeu uma suspensão de três jogos.

É uma imagem que resume perfeitamente o que Mourinho significa na Itália: um showman, um centralizador, mas, acima de tudo, um escudo para seus times.

Duelo com Guardiola na Espanha

Nossa última parada nesta viagem pela carreira de José Mourinho é em Madri, onde o português esteve por três anos, entre 2010 e 2013. A grande missão era acabar com a soberania do Barcelona de Pep Guardiola.

Duelo com Guardiola marcou passagem de Mourinho pelo Real Madrid
Duelo com Guardiola marcou passagem de Mourinho pelo Real MadridAFP

Depois de sua primeira passagem pela Espanha como tradutor e auxiliar de Bobby Robson, o período de Mourinho no Real Madrid deixa memórias agridoces. Principalmente nos clássicos tensos com o Barcelona, que afetaram até a sua relação pessoal com jogadores da seleção espanhola — sobretudo após o terrível, polêmico e constrangedor episódio em que enfiou um dedo no olho de Tito Vilanova, que faleceu em 2014.

Polêmicas à parte, Mourinho voltou a cumprir sua missão: encerrou a hegemonia do Barça de Guardiola.

Depois da Tríplice Coroa na temporada anterior, o Barcelona parecia imbatível. Um gol de Cristiano Ronaldo na prorrogação da final da Copa do Rei, na temporada de estreia, mostrava que Mourinho tinha outra ideia. No ano seguinte, LaLiga era do Real Madrid, antecipando a saída de Guardiola da Catalunha.

Ficou faltando a Liga dos Campeões para Mourinho. Nos três anos à frente do Real Madrid, parou sempre nas semifinais. Foi o fim de sua história no Santiago Bernabéu.

Durante os anos de seca de títulos espanhóis dos merengues, o nome de José Mourinho sempre ecoou nos corredores. Mas a decisão de não voltar a contratar o treinador foi mais influenciada pela polarização causada por ele na torcida do que pelos seus feitos esportivos. Os madridistas se dividem entre os valores tradicionais do clube e os antagônicos, defendidos pelo técnico.

Mourinho em um dos clássicos contra o Barcelona de Messi
Mourinho em um dos clássicos contra o Barcelona de MessiAFP

De volta para o futuro

Desde seu início humilde em Portugal até chegar ao topo do futebol mundial, José Mourinho conquistou corações e mentes ao longo da carreira — nem sempre da melhor maneira.

Agora, ao completar 60 anos, estamos assistindo ao amadurecimento de um personagem forte. Isso significa que ele parou de causar problemas e gerar polêmicas? Definitivamente não.

À medida que seu legado continua crescendo, é pouco provável que a estrela de José Mourinho diminua. No máximo, seus feitos serão ainda mais reverenciados. A entrada no futebol de seleções parece ser o caminho mais lógico após a Roma e, dada a afinidade com seu país natal, esse parece ser o destino ideal.

Uma coisa é certa: ainda vamos ouvir falar do Special One por muito tempo.