Michael Jordan faz 60 anos: a história da lenda que dominou o basquete
Em setembro do ano passado, a camisa 23 do Chicago Bulls, que Michael Jordan usava em 1998, quando conquistou seu último título da NBA, foi leiloada na casa de leilões Sotheby's por US$ 10,1 milhões. Isso por si só reflete a grandeza da lenda do basquete.
O homem que ganhou seis anéis de campeão da NBA — e conquistou o mesmo número de prêmios de MVP das Finais — ganhou duas medalhas de ouro olímpicas (Los Angeles 1984 e Barcelona 1992), jogou 14 All-Star Games e ainda é considerado o maior jogador de basquete de todos os tempos, duas décadas após o fim de sua carreira.
Dois tricampeonatos com os Bulls
Quando Chicago o draftou em 1984, Michael já era considerado uma futura estrela, e fez jus ao hype. Ele foi capaz de levantar um time abaixo da média com suas atuações e o levou aos playoffs em todas as temporadas. Ele teve que esperar um pouco mais por um título, mas, quando os Bulls triunfaram pela primeira vez, em 1991, foi apenas o começo de uma era incrível que ele comandou.
Em 1991, 1992 e 1993, Jordan foi absolutamente dominante, ganhando o troféu de MVP após cada celebração de título. Três vezes seguidas — ninguém havia feito isso antes dele.
Jogos de azar e pai assassinado
Mas o verão de 1993 foi um dos mais difíceis para Jordan. Já havia especulações durante a temporada de que ele teria se viciado em apostas e, em julho daquele ano, dois adolescentes assassinaram seu pai em um ponto de parada de uma rodovia. Em outubro, antes da nova temporada, ele anunciou que estava deixando o basquete.
A breve carreira de Jordan como jogador de beisebol começou. Mas, menos de dois anos depois, estava de volta ao basquete em busca de novos recordes. Pode não ter conquistado outro título da primeira vez, mas, entre 1996 e 1998, Michael Jordan comemorou seu segundo tricampeonato e anunciou outra despedida.
Volta após aposentadoria
Houve mais um retorno à NBA, desta vez com o Washington Wizards. Jordan vinculou seu último retorno à doação de seu salário às vítimas dos ataques de 11 de setembro. A assinatura de contrato em Washington ocorreu em 25 de setembro de 2001, apenas 14 dias após o ataque terrorista às cidades americanas. Suas duas temporadas com os Wizards foram mais difíceis, embora ele tivesse autoridade para trazer o técnico Doug Collins com ele e tenha sido formalmente nomeado diretor de operações de basquete.
Depois que sua carreira terminou em 2003, porém, os Wizards não lhe deram o cargo prometido. Ainda assim, a despedida de Jordan foi importante. Seu último jogo na Filadélfia foi assistido por mais de 21 mil espectadores que se levantaram e o aplaudiram por três minutos.
Péssimo general manager
A era como general manager fracassada com os Wizards foi seguida por outro capítulo. Em 2006, Jordan comprou o Charlotte Bobcats. Desde então, eles voltaram ao nome original, Hornets, e Jordan ainda é seu dono até hoje. Charlotte chegou aos playoffs apenas três vezes nos 17 anos desde que o ex-jogador comprou a franquia.
Com o número 23, mas não só com ele
O número 23 tornou-se reverenciado graças à era Jordan. Na faculdade e em Cleveland, foi por causa de sua inspiração que o próprio LeBron James jogou com o mesmo número. E o Miami Heat, clube pelo qual Jordan nunca jogou, aposentou o número 23 em homenagem à lenda.
Mas Jordan também teve dois episódios com outros números. Quando ele voltou para Chicago, pegou a 45. "Eu não queria mais usar a 23, sabia que meu pai não estava lá para me assistir. Senti que era um novo começo, e 45 foi meu primeiro número quando joguei no high school", explicou.
Era também seu número no beisebol. O episódio terminou, no entanto, depois de uma tensa série de playoffs contra Orlando, em 1995. Nick Anderson marcou a cesta decisiva do jogo sobre Jordan, e, em uma entrevista, brincou que o craque era melhor com o número 23.
Michael Jordan jogou uma partida em 1990 com o número 12, e Orlando também estava lá. A razão era diferente. Durante o aquecimento antes do jogo, um funcionário da arena quebrou o teto falso do vestiário e roubou a camisa 23 dos Bulls. Jordan então jogou com o 12 nas costas e sem seu nome.
Last Dance dividiu amigos
A era gloriosa do Chicago Bulls tem sido tema de vários livros e filmes. O trabalho mais famoso, que detalha o domínio de Jordan e a conquista de seis títulos da NBA, é o documentário Last Dance, produzido pela Netflix. No entanto, foi essa minissérie que colocou ex-parceiros da era de ouro uns contra os outros.
"Tornou-se um suposto documentário cheio de mentiras para tirar o melhor proveito de Jordan", lamentou Horace Grant, atleta dos Bulls na década de 90. Ele foi acompanhado por Scottie Pippen, que sugeriu que Jordan estava tentando mostrar à geração atual que ele estava acima de qualquer outro e, sobretudo, que era melhor do que LeBron James.
"Mesmo quando estávamos ganhando, não recebíamos nenhum crédito. E na maioria das vezes éramos apenas criticados por perder. Só Michael podia fazer qualquer coisa, e mesmo que tenha chutado mal e perdido a bola cinco vezes, ele era perfeito para a imprensa e o público", disse Pippen. Essa também era a realidade do Chicago Bulls.
Legado do Air Jordan
Além de suas façanhas no esporte, o mais famoso tênis de basquete já fez história, rendendo ao próprio Jordan e à marca Nike centenas de milhões de dólares. No entanto, Jordan inicialmente relutou em se encontrar com representantes da marca, que ainda não tinha a relevância de hoje. O empresário de Jordan, David Falk, tentou falar com a estrela em ascensão por meio de sua mãe. "Ela disse que talvez eu não gostasse, mas pelo menos consegui entrar e entrevistá-los", relembrou Jordan sobre a ligação que o deixou rico em pouco tempo.
Além de seu primeiro contrato de US$ 2,5 milhões em cinco anos, Jordan também recebeu ações da empresa e, o mais importante, deu o nome ao tênis. Tornou-se um negócio benéfico para os dois lados, que ainda hoje traz grandes retornos financeiros para ambos.
A designação Air denotava a nova tecnologia de amortecimento de impacto da Nike; Jordan era apenas um selo de qualidade. Naquela época, os jogadores de basquete só podiam jogar com tênis branco, mas Jordan usava um modelo vermelho e preto, e pagava uma multa a cada jogo. Não o prejudicou, e deu a ele ainda mais publicidade.
Presente de aniversário
Michael Jordan faz 60 anos nesta sexta-feira e, para comemorar seu aniversário, decidiu doar US$ 10 milhões para uma fundação que ajuda a realizar os desejos de crianças que sofrem de doenças graves. "Nos últimos 34 anos, tem sido uma grande honra trabalhar com a Make-A-Wish e ajudar a trazer sorrisos para aqueles que estão passando por momentos difíceis na vida. Testemunhar sua força e resiliência em suas histórias de vida tem sido uma verdadeira inspiração", afirmou.
O tênis tem Federer, o futebol tem Pelé, e os fãs de basquete não têm dúvidas de que o jogador mais importante de todos os tempos foi Michael Jordan. "Ele fez da NBA e de outros esportes profissionais o ambiente que vemos hoje. Poucas pessoas se preocupavam com contratos milionários, publicidade, espaço na mídia ou direitos televisivos antes de sua era. Então ele apareceu", escreveu o biógrafo de Jordan, David Halberstam.
O legado de Michael Jordan ainda pode ser visto em todo o mundo. Não só nos Estados Unidos. Até nos locais mais remotos da África, um quarto de século depois do fim de sua era, é possível encontrar uma camisa dos Bulls com o número 23 estampado.