Sua temporada na Grécia foi um resumo da tumultuosa e inconstante peregrinação do colombiano na era pós-Real Madrid.
O que rolou no Olympiacos
James começou brilhando no time de Atenas. Ele chegou em setembro, e em outubro foi eleito o melhor jogador do mês na Superliga Grega (à frente do brasileiro Bernard).
Mas foi só. Sete meses depois, James Rodríguez foi demitido do clube alvirrubro.
O anúncio do desligamento veio um dia após a eliminação na Copa da Grécia, e com a equipe seis pontos atrás dos líderes Panathinaikos e AEK.
A mídia local afirma que James Rodríguez não reagiu bem à sua substituição no intervalo do clássico contra o Panathinaikos, semana passada. Ele se revoltou com a decisão do técnico José Anigo e não compareceu ao treino no dia seguinte.
Esse episódio fez a diretoria resolver rescindir seu contrato, faltando dois meses para o término.
Em sua breve passagem pelo Olympiacos, James participou de apenas 20 das 38 partidas de seu time na temporada, marcando 5 gols e dando 6 assistências.
O começo brilhante: do Banfield para o Porto
Assim como o início da trajetória na Grécia, James Rodríguez começou sua carreira impressionando todo mundo.
Com apenas 14 anos de idade, ele foi o jogador mais jovem a iniciar uma partida profissional na Colômbia, no Envigado, time da primeira divisão do país.
Em apenas dois anos, o colombiano se transferiu para o Banfield, e se tornou o estrangeiro mais jovem a marcar na primeira divisão argentina, com apenas 17 anos.
Em pouco tempo ele virou o "James Bond de Banfield" e passou a ser comparado à lenda Carlos Valderrama, um maestro do meio-campo.
Em julho de 2010, após ser feliz na Argentina, chegou a hora de ir para o Porto por €5,1 milhões.
Aos 19 anos de idade, sua primeira temporada em Portugal foi incrível. James marcou 14 gols e 12 assistências jogando principalmente como um ponta invertido, e acabou ganhando o prêmio de revelação da Primeira Liga.
Em Portugal ele não deixou seu futebol cair de nível e ganhou três títulos da Primeira Liga com o Porto, além da Liga Europa em 2011.
O auge: de Mônaco para o Mundial
Aquele jogador que parecia um mix de Valderrama com Cristiano Ronaldo chamou a atenção do Monaco, que resolveu investir muito dinheiro no atleta de 22 anos: €45 milhões.
Em sua primeira temporada na França, ele foi, de novo, o jogador da temporada do time e o principal assistente da Ligue 1.
No ano seguinte, James chegou ao auge. Aos 23 anos, o camisa 10 chegou na Copa do Mundo de 2014 como total coadjuvante, mas acabou ganhando o mundo.
No Brasil, ele levou a Colômbia às quartas de final (melhor resultado da história), e marcou 6 gols em 5 jogos.
James ganhou também o prêmio Puskas de gol mais bonito do Mundial ao assinar uma pintura na vitória por 2 a 0 contra o Uruguai nas oitavas de final.
Aqui, um breve relato pessoal: eu estava no Maracanã nesta partida, bem atrás do gol em que a Colômbia atacava no primeiro tempo.
O primeiro gol de James, aos 28 minutos de jogo, naquele estádio mítico tomado por torcedores vestindo amarelo foi tão maravilhoso, que a reação imediata da maioria dos colombianos à minha volta foi de colocar a mão no rosto, em um gesto de incredulidade.
Bem atrás de mim, dois torcedores se ajoelharam e começaram a chorar de emoção, abraçados. Foi daquelas coisas que só a Copa do Mundo e estrelas do futebol conseguem proporcionar.
James ainda fez o 2 a 0 no segundo tempo e terminou o jogo ovacionado por todo o Maracanã.
O quase: do Real Madrid para o Bayern
Mal acabou a Copa, James foi parar no time dos seus sonhos. Com o Real Madrid ele assinou um contrato de 6 anos.
Novamente, na primeira temporada no clube novo, seus números foram ótimos e ele anotou alguns gols sublimes.
Em quase todas suas aparições, ou ele botou a bola na rede, ou deu assistência. Foram 17 gols no total e 18 assistências em 46 jogos.
Resultado? James foi eleito o meio-campista da temporada 2014/2015 da LaLiga.
Aí pintou seu primeiro problema: a partida de seu mestre Carlo Ancelotti.
Em 2015, o treinador italiano foi para o Bayern, e Rafa Benítez assumiu o Real. E sua derrocada começou.
Em um time cheio de estrelas, James nunca achou seu papel ou até mesmo uma posição na equipe do técnico espanhol.
Benítez foi embora e com Zidane, a coisa piorou.
Além da preferência do francês por meias marcadores, as lesões do astro colombiano começaram a se acumular, sua forma física começou a minguar e a intensidade exigida por Zizou tiraram qualquer espaço de James no time.
Era hora de partir. Em 2017, ele foi atrás de Ancelotti e se mudou para o Bayern por empréstimo, aos 26 anos de idade.
Na Alemanha, foram duas temporadas bastante decentes com 14 gols e 14 assistências. Segundo Rummenigge, chefão do Bayern, o clube queria que ele ficasse, mas James pediu para a diretoria não ativar a opção de compra, que já havia sido acordada com o Real Madrid.
James estava infeliz em Munique. Talvez por mais uma despedida de Ancelotti?
Fim da linha: do Real para o Everton
Após dois anos, ele voltou para o Bernabéu, com Zidane novamente no comando. O francês deu a ele apenas 400 minutos para jogar em 2019/2020 e James resolveu partir de vez.
Partir para o Everton, porque quem estava lá? Carlo Ancelotti.
Logo de cara, o colombiano meteu 3 gols e 3 assistências nos primeiros cinco jogos na Inglaterra.
E rapidamente, chegaram mais lesões, e um certo desânimo. O Everton caiu para o 10º lugar naquele ano e James caiu junto, marcando apenas seis gols e dando quatro assistências em 23 partidas.
Ancelotti acabou voltando para o Real na temporada seguinte e adivinha quem chegou ao Everton? Rafa Benítez!
Que destino, hein, James.
No final da passagem pelo Goodison Park, o clima azedou de vez quando ele admitiu em uma live no Twitch que não sabia contra quem o Everton jogaria no fim de semana.
Além disso, ele foi visto passeando em um iate no meio da Premier League antes de ter jogado um minuto sequer com Benítez.
Hora de partir de novo. Para os torcedores do Everton, ficou um gostinho de nunca ter visto James Rodríguez jogar.
Por conta da pandemia, todas as partidas do colombiano em Liverpool foram com portões fechados.
A bomba: a entrevista problema
"O garoto James não está focado. Em vez de trabalhar para a nova temporada, foi arrumar suas sobrancelhas e cabelo enquanto deveria estar trabalhando. Grandes equipes como o Real Madrid esperam profissionalismo, mas este garoto tem a cabeça fraca".
Estas foram as palavras do ex-médico da seleção colombiana, Héctor Cruz, em agosto de 2019, enquanto James sofria com lesões no Everton.
"Já previ que daria errado porque ele não trabalha", disparou o doutor em entrevista ao site colombiano Futbolred.
"James deixou a Copa do Mundo machucado, contratou um avião particular, foi para a praia e descansou", disse Cruz, acrescentando que o jogador estava "mal da cabeça".
Héctor Cruz se desculpou pela entrevista um tempo mais tarde, mas o estrago estava feito.
O fracasso: do Catar à Grécia
Da Inglaterra, o camisa 10 foi jogar no Al-Rayyan, em 2021, por 10 milhões de euros.
Após pouco tempo no clube, James Rodríguez bateu de frente com a torcida do Al-Rayyan por ter falado que queria ir jogar no Valencia.
"Eu iria até a pé, e aceitaria uma diminuição no salário", disse James à época, de novo no Twitch.
Insatisfeito com o desempenho da equipe na Qatar Stars League e desejando jogar em um ambiente mais competitivo "como a Europa ou a MLS", o Al-Rayyan mandou James plantar batatas: contrato encerrado.
No Catar, com 31 anos já, ele fez apenas 15 aparições pelo clube em um ano, anotando 5 gols e 7 assistências.
O colombiano então foi para a Grécia em setembro de 2022, onde durou menos de um ano, e a história você já sabe.
De acordo com o jornal espanhol AS, James está em contato com Galatasaray e Besiktas para tentar ser um camisa 10 relevante novamente.
Seu histórico de lesões e descompromisso mostra, porém, que seu tempo de James Bond e novo Valderrama já se foi.