Oferta do Catar pelo Manchester United coloca questões sobre o futuro do PSG
O QSI, um subsidiário da Autoridade de Investimento do Catar, o fundo soberano do estado do Golfo, assumiu o controle do clube francês em 2011 por apenas 70 milhões de euros.
O PSG tornou-se, desde então, um veículo através do qual o Catar se projeta - sob a propriedade do QSI, o clube deixou de dominar apenas a França e ganhou destaque no cenário europeu, tornando-se uma marca global.
Até 2022, foram gastos R$ 9 bilhões em transferências, incluindo as duas maiores compras da história do futebol - Neymar e Kylian Mbappe em 2017 -, embora todo esse dinheiro ainda não tenha se convertido no maior objetivo do time: a conquista da Liga dos Campeões.
Agora o pequeno estado rico em gás aponta seus recursos para o Manchester United, o clube de maior sucesso na história da liga mais poderosa do mundo, com receitas comerciais e de transmissões muito superiores às que são geradas na Ligue 1.
A oferta, liderada pelo presidente do Banco Islâmico do Catar (QIB), Sheikh Jassim Bin Hamad Al Thani, é estimada em quase US$ 6 bilhões, de acordo com várias fontes. O QIB é propriedade do fundo soberano do Catar.
"Quando se tem uma oferta de alguém que é membro da família Al-Thani, em geral significa inevitavelmente que é uma oferta do Estado", disse à AFP Jean-Baptiste Guegan, professor e especialista em geopolítica no esporte. "Isto significa que nada foi feito sem a aprovação do Emir, Sheikh Tamim bin Hamad Al-Thani".
No entanto, não há qualquer dado que aponte para os cataris abandonarem o PSG a curto ou médio prazo.
Nova estratégia?
Se a proposta do Catar pelo Manchester United for bem sucedida, "os planos do PSG não mudariam em nada. Os dois clubes estariam totalmente separados no campo e fora dele. O QIB está totalmente separado do QSI", disse uma fonte próxima dos proprietários do PSG à AFP.
Em dezembro, o presidente do PSG, Nasser al-Khelaifi, também encerrou o tema, quando disse numa entrevista ao Financial Times que o clube tem "um projeto a longo prazo". Ao mesmo tempo, Khelaifi admitiu que os campeões franceses estiveram em discussões com vários investidores sobre a eventual venda de uma participação de 15%.
"O Catar é capaz de continuar com os dois clubes. Isso não significa que o trabalho esteja terminado no PSG. É, sobretudo, uma demonstração do poder do Catar, que é capaz de mostrar interesse em um clube como o Manchester United", afirmou à AFP Raphael Le Magoariec, especialista no Golfo e no esporte pela Universidade de Tours, em França. "É improvável que se retirem de Paris porque isso seria visto como um fracasso".
No entanto, a disputa com a Câmara Municipal de Paris sobre as tentativas do PSG comprar o Parc des Princes deixou um sabor amargo aos proprietários do clube. O Catar, segundo Le Magoariec, "investiu muito e pensa que a sua generosidade não foi respeitada".
Apesar disso, os laços entre França e o Catar, que possui participações em numerosas empresas multinacionais francesas, tornam improvável que o país desvie o seu capital de um clube como o PSG. "Paris é o tipo de plataforma que dá ao Catar um lugar de destaque no mundo", diz Le Magoariec.
No entanto, é possível que esteja a ocorrer uma ligeira mudança de estratégia no PSG, desde que o clube passou a ser vigiado de perto pela UEFA para garantir o cumprimento das regras do Fair Play Financeiro (FFP).
O clube perdeu 370 milhões de euros na temporada passada e tem uma enorme massa salarial, devido aos salários dos superastros Mbappé, Lionel Messi e Neymar.
"Há, talvez, menos investimento. Eles já apertaram o cinto por causa das restrições do FFP", disse Guegan. "Vão abrir-se aos investidores estrangeiros e dependendo da identidade destes investidores, veremos se o clube continua a ser um trunfo na estratégia de visibilidade do Catar ou se eles vão viver uma fase diferente".