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Opinião: Ronaldo precisa entender que não está fazendo filantropia no Cruzeiro

Josias Pereira
Ronaldo acena para torcedores no Independência
Ronaldo acena para torcedores no IndependênciaCruzeiro/Divulgação
Ronaldo Fenômeno é um gênio da bola e a condução da sua carreira pós-aposentadoria é do tamanho do seu peso para o esporte mundial. Um ídolo de todos. Referência. É inegável. Incontestável. Mas ele não está imune a críticas. A sua condição atual no Cruzeiro desenha um complicado embate entre o status "salvador" e o executivo do futebol.

Quando da compra da SAF do Cruzeiro, feita em tempo recorde e com ares de uma das maiores "guinadas" do futebol brasileiro, reverberou-se no mundo do esporte a história do ícone que voltara ao clube que o fez despontar para o planeta bola como a luz no fim do túnel. Quase como um conto "hollywoodiano"

Um ambiente novo, uma nova legislação, o desespero, o sufoco. Não havia tempo para o Cruzeiro. Uma das equipes mais vitoriosas do Brasil encontrava-se no limite de sua existência. Se o processo de venda e aquisição foi dos melhores ou não, isso aqui não vem ao caso. 

Ronaldo entregou o que o torcedor queria. Fez o simples. Bancou ideias junto com sua jovem equipe técnica, como a saída chocante do veterano goleiro Fábio, que se aproximava do recorde de mil jogos com a camisa do Cruzeiro. Cortou gastos, fez um elenco enxuto e, na química entre um ritmo alucinante em campo e a paixão tresloucada dos fanáticos azuis nas arquibancadas do Mineirão, subiu. Deixou a Série B do Brasileirão depois de três anos de calvário. 

É de conhecimento geral que a situação do Cruzeiro é calamitosa. Se Ronaldo leu as entrelinhas, como deve ter lido inúmeras vezes, os passivos trabalhistas, as dívidas com a FIFA e o montante de débitos de mais de R$ 1 bilhão, estavam todos lá. E, mesmo assim, ele o assinou, confiando no seu potencial como homem de negócios e no da sua equipe administrativa. 

Ninguém escapa

Ronaldo no Mineirão após confirmação do acesso à Série A
Ronaldo no Mineirão após confirmação do acesso à Série AThomas Santos/Staff Images

Todos nós que habitamos o ambiente do futebol sabemos que todos estão sujeitos às críticas. Quem é o jogador de futebol que nunca soltou a mais do que comum frase de que é preciso suportar a pressão? 

Em um esporte de alto rendimento, todos são julgados pelos resultados e, diferentemente de 2022, o desempenho do Cruzeiro não vem sendo o esperado. A situação preocupa porque o time ainda não se mostrou confiável tendo no horizonte a disputa mais difícil e esperada do time: a Série A nacional. 

Mas Ronaldo precisa entender que se lançar como o salvador celeste não o isenta de críticas e muito menos lhe dá o direito de regular a imprensa sobre o que ela deve questionar ou não em relação ao seu trabalho. Ninguém está impondo regra e muito menos questionando a importância de sua figura para o Cruzeiro, que estava no fundo do poço. 

Mas o Cruzeiro é um dos maiores clubes do Brasil e dono de uma torcida que historicamente sempre esteve ao lado do time, como tem feito, mas nunca se furtou de cobrar. Ronaldo não está fazendo filantropia no Cruzeiro. A marca do Fenômeno é uma bandeira mundial, mas o Cruzeiro é um gigante, como diz a música, incontestável. 

O lastro do pentacampeonato mundial e suas Bolas de Ouro não fazem de Ronaldo um ser para se colocar em uma redoma de contemplação absoluta. Há o tempo de bater palmas e há o tempo de cobrar. Nada mais correto. E se o assunto incomoda, é porque realmente há disposição por parte de Ronaldo de que o atual quadro mude. Mas, acima de tudo, aceite quando a torcida o critica e não fique triste. Como campeão que é, você sabe dar a volta por cima.

Humildade para tranformar erros em acertos

Ronaldo e sua equipe precisam de criatividade para acertar a mão nas contratações
Ronaldo e sua equipe precisam de criatividade para acertar a mão nas contrataçõesCruzeiro/Divulgação

Como dono de dois clubes de futebol, Ronaldo já está mais do que vacinado em relação às críticas. Contestações que sofre no Real Valladolid, que mesmo conseguindo o êxito do acesso, precisa se firmar dentro do cenário de LaLiga. 

As limitações financeiras do Cruzeiro são evidentes. Todavia, Ronaldo, utilize da expertise que você detém para também ser humilde para ouvir as críticas e transformar contestações em oportunidades. É evidente que falta qualidade a um desequilibrado elenco montado para 2023. Como já se fez em 2022, encontre soluções inteligentes no mercado para mudar o rumo do Cruzeiro e junte os cacos. 

Não precisa vir o Messi, nem muito menos quatro ou cinco jogadores que não resolverão o problema celeste. Existe um desnivelamento técnico evidente em jogadores que não se enquadraram ao estilo intenso pedido por Pezzolano, que também possui sua parcela de culpa em avaliações ainda oscilantes, como a insistência em três zagueiros, mesmo possuindo peças para o setor que não apresentam as mesmas características dos que passaram pela Toca da Raposa 2. 

O Cruzeiro precisa do Mineirão

E mais um detalhe. O imbróglio com a Minas Arena é válido. É preciso buscar melhores condições. Mas o Cruzeiro não é um time nômade. A escritura não aponta que o Mineirão é do Cruzeiro, mas a história celeste passa por aquelas arquibancadas. Em uma temporada com claríssimas limitações técnicas de um elenco ainda em formação, o time estrelado, mais do que nunca, precisará ser empurrado por sua torcida. 

Em 2022, quando a torcida comprou a ideia de Ronaldo, o Cruzeiro se agigantou e transformou o Mineirão na sua principal fortaleza. O time e a torcida eram um só. A equipe estrelada não pode perder essa sinergia. É daquele grito da alma que vem o combustível para a intensidade de Pezzolano ou ainda os 110% de um atleta em campo. O Cruzeiro precisa mais do Mineirão do que o Mineirão precisa dele neste momento. E se o problema é dinheiro, pese também na balança a perda de sócios, co-responsáveis pela operação financeira do departamento de futebol.